capítulo 14

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Jac parecia profundamente concentrada no processo de pintar as unhas de Mila. O esmalte azul-claro provocava uma sensação gostosa e frígida na ponta de seus dedos.

— Vou passar só mais uma camada...

— Eu sei sobre você e Florian!

Antes de conseguir pensar, Mila revelou sua descoberta. Ficou quase tão chocada quanto Jac quando as palavras saíram de sua boca.

— Você o quê?

— Não acho que precise passar outra camada.

— Mila! Eu ouvi o que você disse.

— Então por que perguntou?

— Por que eu... De que isso importa? Você... ah, meu Deus. Meu Deus.

— Calma. Eu não vou contar para ninguém. Mas você devia...

— Como você descobriu?

— Na sorveteria...

— Ah, é claro. Eu vi você lá, com Deluc.
Espere um pouco, por que estava na sorveteria com Deluc?

— Ei, eu faço as perguntas aqui. Primeiramente, você enlouqueceu? Está saindo com o irmão da nossa amiga e não contou para ela!

— Eu ia contar. Quero dizer, vou contar! Mas não criei coragem ainda. E, aliás, como sabe que não disse a ela ainda?

— Se tivesse dito, não estariam se falando.

— Exato! Você me entende agora?

Mila bufou, tomando cuidado com as unhas. Dessa vez, pensou bem antes de falar:

— Eu queria que tivesse me contado. Pelo menos.

O silêncio de Jac agiu como um pedido de desculpas. Ela levantou-se da cadeira e sentou-se ao lado da prima, na cama.

— Eu fiquei com medo.

— Jac, pra que tanto medo? Se ele te ama e você o ama, não deveriam esconder.

— Sabe que não é assim que funciona. E, além do mais, eu não sei se ele me ama de verdade.

— Ah, Deus. Que situação. Jac, amando ou não, Florence precisa saber. Se ela descobrir de outra forma, vai se sentir traída, como eu me senti.

— Eu sei, eu sei. Desculpa.

Uma lágrima escorreu pela bochecha da garota e ela fungou tristemente. Mila suspirou e a abraçou, ao dizer:

— Também não precisa chorar, sabe. Eu já te desculpei, só fiquei magoada por que pensei que não confiava em mim.

— Eu co-confio em você. Só que, às vezes, não confio em mim.

— O que quer dizer com isso?

— Florian disse que não deveríamos contar nada ainda, e eu aceitei, porque não confio em mim mesma para tomar decisões como essa.

— Ah, Jac... — Mila a abraçou mais forte. — Ainda bem que você tem a mim como prima.

As duas riram e o choro de Jacqueline cessou, deixando apenas um nariz congestionado como vestígio.

— Vamos tomar um chá lá embaixo. Eu quero saber tudo vocês dois.

A garota deu um sorriso, animada. Poder contar para Mila o que estava acontecendo entre ela e Florian era um alívio.

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Maurice encheu sua xícara com uma boa dose de chá de hibisco. Enquanto isso, Pauline fumava um cigarro, parecendo ansiosa.

Marion Le Foy para Garotos e Garotas Onde histórias criam vida. Descubra agora