capítulo 16

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Florence ainda estava descendo a corda quando viu seu irmão desesperadamente tentando chamar sua atenção do lado de fora do ginásio. Ela nem se preocupou em pedir permissão para o professor antes de ir ao seu encontro.

— Meu paletó está arruinado! Pegue um emprestado para mim, rápido!

— Onde? Quer que eu roube dos outros garotos?

— Tanto faz! Apenas arranje um logo!

A garota saiu correndo e quase esbarrou em Jac, que se aproximara, curiosa para saber o que estava acontecendo. Florian acalmou-se um pouco ao vê-la, mesmo que não ousasse tocá-la em público. Ela forçou um sorriso e, discretamente, roçou os dedos nos dele.

Louis aguardava no banco de reserva, pouco concentrado no jogo. Seu olhar alternava entre a visão enervante de Pierre e a revigorante Florence, que agora corria, nervosa, para o vestiário. Um leve inclinar de cabeça permitiu que ele visse Florian de relance, também tenso.

— Já volto — avisou a Dion Durand, que também aguardava na reserva.

O garoto seguiu Florence, intrigado. Encontrou-a vasculhando alguma coisa entre os casacos dos outros rapazes. Puxava um, devolvia; tirava outro do lugar, colocava de volta.

— Ei, ei, ei. O que está fazendo?

— Meu irmão precisa de um paletó. Rápido.

— Tome o meu, os garotos vão suspeitar se algum desaparecer.

Ele tirou a peça do gancho e entregou a ela. A lembrança da primeira aula de educação física, quando o vira sem a regata, voltou à mente de Florence seguida por uma onda de rubor. Dessa vez, ele não estava suado, apenas corado pelo calor. Os olhos dela desviaram-se para os braços não muito musculosos, mas torneados do rapaz.

Foco.

O que foi que disse?

— Hã? Nada. Ah... Obrigada.

Ela saiu, apressada. Louis deu um sorrisinho desconcertado antes de subir também.

φ

Maurice estava ansioso, em sua sala, esperando pelos resultados da audiência. Já que não podia votar, resolveu chamar a professora de inglês, Olivia, à sua sala, para entregar-lhe seu pagamento. Ela também não tinha o direito de participar, pois era seu primeiro ano na escola. Seria um adiantamento em sua agenda.

— Com licença, o senhor chamou?

— Chamei, Madame Harris. Na verdade, gostaria de fazer uma pergunta.

— Muito bem.

— Por acaso, seu sobrenome seria Chapelle?

Olivia engoliu em seco e enrijeceu, Maurice percebeu a mudança e intrigou-se.

— É o sobrenome do meu marido. Ex-marido. Estamos nos divorciando. Gostaria de ser chamada pelo meu verdadeiro.

Ele ergueu levemente as sobrancelhas. Conhecia pouquíssimas mulheres que haviam se divorciado. Exigia coragem, era preciso dar um passo em direção à vulnerabilidade social. E, por onde passavam, eram seguidas de olhares atravessados.

— Algum problema?

— Não, não, nenhum problema... mademoseille.

— É que... muitos parecem ter problemas comigo aqui. Todo o corpo docente. Os alunos. Espero que um simples divórcio não ponha em risco meu emprego.

Marion Le Foy para Garotos e Garotas Onde histórias criam vida. Descubra agora