Quando Florence e Florian chegaram em casa, seus pais já estavam esperando-os no sofá.
A garota sentou-se numa cadeira da cozinha e Florian permaneceu de pé, mais atrás. Os dois ouviam calados o sermão dos pais, tentando não despertar uma raiva ainda maior.
— Se fizer com que seu irmão seja expulso, vamos te tirar da escola, ouviu bem? Você vai arrumar um marido ou um emprego e se virar, mas para o colégio você não voltará!
— Mas a culpa não foi minha!
Seu pai, Bernard, a silenciou com um tapa. Marie também parou de falar por um segundo, tempo suficiente para lágrimas se formarem nos olhos de Florence, seguidas por um aperto amargo na garganta.
Não chore.
Florian, tenso num canto, olhava-a sem ação. Mesmo sendo mais alto e vigoroso que seu pai, o medo o diminuía e enfraquecia, transformando-o no garotinho que um dia fora.
— Para cima, os dois. E tire essas roupas de menino, Florence.
Eles subiram as escadas. Florian, hesitante, colocou uma mão nos ombros de Florence, mas ela se desvencilhou, foi para o quarto e fechou a porta.
φ
Passado dois dias, Florian foi chamado para a sala de Maurice. Lá, ele foi informado que a audiência aconteceria em quatro dias, na terça-feira. Ele finalmente saberia se seria expulso ou não.
Enquanto isso, a algumas salas de distância, Florence escutava atentamente a conjugação de verbos em latim. A sala estava calma e silenciosa sem Pierre. Nem mesmo seus companheiros se atreviam a tramar alguma coisa sem ele.
Mila também notara a quietude do ambiente, mas não pensava em Pierre. Desde o dia em que vira a prima com o irmão de Florence, não conseguia olhá-la da mesma forma. Questionava-se constantemente como estavam juntos e por que ela não a havia contado. Imaginava o que Florence pensava.
Jac, que às vezes pegava a prima analisando-a de uma maneira esquisita, perguntava-se o porquê de Mila estar agindo estranhamente. Ela não dissera nada sobre Florian, o que significava que não os vira. Não é? Esperava que sim. Planejava contar a ela e a Florence, mas ainda não reunira coragem o suficiente. Estava com medo de suas reações.
Louise se esforçou muito para não se virar e perguntar a Alice o que estava havendo. As pernas da garota atrás dela não paravam de sacudir e vez ou outra sua carteira balançava. Ela sabia que as coisas tinham ficado estranhas por causa do que fizeram no dia em que terminaram o trabalho, mas não podiam ficar se evitando para sempre. Pelo menos, ela esperava que não.
Alice estava nervosa. As palavras do professor formavam apenas sons desconexos e era muito difícil prestar atenção no quadro quando Louise, com seu rabo de cavalo cheio e hipnotizante, ocupava a carteira à frente da sua. Nada nem ninguém distraía seus estudos, e ela sempre se orgulhou disso, mas agora era diferente. Na sua mente só cabia uma coisa: Louise. Precisava fazer isso parar.
— Professor, posso ir ao banheiro? — Ela levantou a mão.
— No meio da explicação, senhorita Lefevre?
— É uma emergência.
O professor ajeitou os óculos e a olhou com desprezo. Nem mesmo se deu ao trabalho de consentir, apenas fez um gesto contragosto para que ela fosse.
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Marion Le Foy para Garotos e Garotas
RomanceO liceu Marion Le Foy finalmente abriu suas portas para as garotas e Florence Faure foi uma das poucas selecionadas para entrar no primeiro ano do ensino médio do tão disputado colégio. Lá, ela e outras vinte e nove meninas lidarão com os desafios...