capítulo 5

138 22 11
                                    

Florence havia passado todo o fim de semana de castigo, em casa, por ter se machucado e estragado o vestido. De acordo com seus pais, nada disso teria acontecido se ela "estivesse quieta em seu lar como uma menina decente".

Por sorte, seu tio Maurice apareceu, com seus óculos redondos e um embrulho nas mãos.

— Soube do acidente. Trouxe algo para você. — Ela agradeceu e abriu o presente depressa, ávida por qualquer tipo de distração. Era um livro.

— Obrigada, Tio Maurice!

"O Morro dos Ventos Uivantes" estava destacado em preto, na capa. Florence já ouvira falar do romance, então estava curiosa para lê-lo.

Ao fim do domingo, mais da metade do livro já havia sido consumida pela garota. Ela não devia, mas identificava-se um pouco com Cathy. Vivia ouvindo de sua mãe que era uma menina atrevida e sem comportamento. Cathy devia ouvir o mesmo.

Durante a leitura, destacou uma frase que achou relevante: "já tenho quase 17 anos: sou uma mulher feita". Florence também faria 17 anos em alguns meses, mas não sabia se já era, de fato, uma mulher.

Olhou para o espelho da penteadeira do quarto, examinando sua aparência: cabelos loiro-acobreados amarrados em marias-chiquinhas, a franja caindo sobre os olhos, bochechas rosadas e um corpo diferente do que tinha há cinco anos.

Era jovem. Sabia disso. Nem mulher, nem menina. E isso não a incomodava. A parte ruim de ser jovem, para ela, era ser tratada como um fardo, um problema a ser resolvido. Desde quando seus pais a olhavam com arrependimento? Desde quando seu irmão havia parado de dividir seus gibis com ela?

Talvez tivesse mudado um pouco seu jeito de agir e de pensar, mas ainda era a mesma Florence que gostava de assar bolos com sua mãe aos domingos, que brincava de casinha com suas primas, que lia histórias para seus bichos de pelúcia. Continuava amando suas memórias e as pessoas que ajudaram a formá-las.

Só não sabia se era amada de volta.

φ

Louis estava cansado. Havia trabalhado o dia inteiro para compensar alguns atrasos e ainda não havia almoçado. Quando o relógio marcou oito horas, foi preparar alguns ovos fritos.

Depois de comer, foi tomar banho, e tudo o que mais queria era poder deitar na cama e dormir um dia inteiro. Mas não podia. Precisava terminar alguns deveres de casa para segunda-feira.

Seu quarto apertado e quente não era o melhor lugar do mundo, mas ele se contentava em pensar que poderia ser pior. O dono da casa e da fazenda onde trabalhava também não era compreensivo, mas fora o que estivera disposto a contratá-lo e abrigá-lo.

Ele realmente tentava se sentir sortudo, mas era difícil. Não queria luxo ou pilhas de dinheiro, apenas um lugar para chamar de seu, ou pessoas que pudesse amar. Pessoas que o abraçassem e que dissessem que tudo ficaria bem, porque eles tinham um ao outro.

Mas as pessoas que poderiam dizer essas coisas para ele se foram antes que pudesse conhecê-las. A tuberculose ceifou a vida dos seus pais quando ele tinha menos de um ano. Diziam que era uma sorte um recém-nascido como ele não ter morrido também.

Às vezes, porém, algo no fundo de sua mente dizia que, na verdade, era azar.

φ

A aula de literatura na segunda-feira causou um pequeno alvoroço na sala. O professor havia passado trabalhos em dupla, o que significava passar algumas horas a mais na companhia de um colega de classe.

Marion Le Foy para Garotos e Garotas Onde histórias criam vida. Descubra agora