Três aulas passaram e então chegou a hora do intervalo. Jac e Mila se enturmaram com Florence naturalmente e ela se sentiu exultante, já que nunca tivera amigas de escola.
- Eu não acho que aguentaria ter aulas em casa. Eu e Mila gostávamos da escola só para meninas que frequentávamos. Tínhamos amigas lá.
- Bom, não é tão ruim assim. Mas preciso admitir que é interessante ver tantos rostos num dia só.
- Então você não tinha nenhuma amiga? - perguntou Mila.
- Eu conversava com as filhas das clientes da minha mãe, que é boticária, com minhas vizinhas, primas...
- Eu e Mila somos primas!
- Jura? Vocês não se parecem... nem um pouco.
- Eu sei!
- Ei, você - Florence ouviu uma voz vindo de trás do banco que dividia com as duas amigas. Ela se virou, e viu que estavam falando com ela. - Você é sobrinha do coordenador, não é? -
Ela assentiu, contragosto, e o garoto se foi.- Você é mesmo? Legal! Por que não nos contou?
- Ah, vocês não perguntaram.
As duas riram e Florence não entendeu o porquê. Olhou seu relógio e viu que o sinal tocaria novamente em menos de dez minutos. Levantou-se.
- Aonde vai? - perguntou Jac.
- Ao banheiro, já volto.
Ela atravessou o pátio e subiu as escadas que davam para o interior do colégio. Andou perdida por algum tempo até achar uma porta com uma plaquinha onde estava escrito "Toalete".
Entrou em uma das cabines e trancou a porta. Quando ia abaixar a saia, ouviu passos e vozes grossas demais para serem de alguma das meninas.
- Ela piscou para mim, Pierre. Você viu?
- Estava ocupado demais olhando para os peitos dela, Deluc. Acabei não vendo.
Risadas asquerosas preencheram o ambiente e Florence sentiu-se enojada. Queria sair dali, mas não podia.
- Ah, não fique chateado, Deluc. Foi só uma piada. E não é como se ela fosse sua namorada ou coisa do tipo.
- Ela é gentil, Pierre. E foi simpática comigo também. Não gostaria que falasse dela assim.
- Até parece que a conhece o suficiente para dizer isso. Só tiveram três aulas juntos e já está apaixonado?
- Você é um babaca.
A porta se abriu com um rangido e bateu um segundo depois. Ela ouviu alguém bufar e dizer:
- Que dramático.
- Talvez você devesse respeitar um pouco mais as meninas, Pierre. Não sei o que está tentando provar agindo como um brutamontes...
- Louis, com licença, a conversa ainda não chegou no chiqueiro. - Louis.
- Você é mesmo um babaca arrogante.
- Ah, por favor, você não tem dinheiro para comprar as próprias cuecas e acha que vou ligar para o que diz...
- É sua sorte ter tanto dinheiro, Pierre. Se não, não conseguiria ter comprado uma vaga aqui...
Louis mal terminou a frase antes de um som seco e duro cortá-lo. Ele tinha levado um soco. Florence entrou em pânico. Uma espiada pela fresta da porta e ela pôde ver o estrago feito: os lábios do garoto sangravam. Ela viu seus punhos contraíram e relaxarem.
- Se meta com a sua laia, Lambert - disse Pierre, saindo. Dois garotos seguiram-no, apreensivos.
O garoto cuspiu na pia e olhou para a camiseta, agora manchada de sangue. O sinal finalmente tocou, mas ele não foi embora. O nervosismo de Florence triplicou.
- Merda - ele xingou. A garota tomou uma decisão e se arrependeu no mesmo instante, mas os seus dedos já haviam empurrado a porta da cabine.
- Quer que eu chame alguém? - Ela congelou no lugar, fitando os olhos arregalados do rapaz, o sangue misturado com saliva pingando.
- Você não devia estar aqui. - Florence não achou muito gentil da parte dele dizer isso, mas era verdade. Ela se desculpou enquanto se desgrudava da porta da cabine.
- Eu sei. Entrei por engano. - Ela pegou alguns papéis-toalha e fez um pequeno bolo. Algo dentro dela simplesmente a impedia de dar meia-volta e ir embora. - Molhe um pouco e segure contra o machucado, vai ajudar a estancar. - Ele parecia prestes a recusar a ajuda, mas examinou seu rosto por um segundo e suspirou, resignado.
- Obrigado.
Florence assentiu, dando um sorriso apertado. Os cachos castanhos do garoto estavam caídos sobre a testa e seu nariz fino estava um pouco franzido. Ele era bem alto e magro, como um malabarista, pensou, e logo franziu a testa pelo pensamento intrusivo.
- É melhor voltar para a aula. O professor de matemática não é muito simpático, você pode ter problemas.
- Certo. E você...
- Eu sei me virar - disse, dando uma piscadela.
Florence assentiu, e assentiu mais uma vez, antes de ir embora. Os andares de baixo já estavam vazios e, com um olhar para cima, ela pôde ver os últimos alunos entrando em suas respectivas salas de aula. Ela correu, mas os lances de escada não podiam ser driblados tão rapidamente. Quando finalmente chegou, ela bateu à porta, ofegante.
- Com licença.
- Qual é o seu nome, senhorita?
- Florence Faure, senhor.
- E por acaso a senhorita não ouviu o sinal tocar?
- Ouvi sim, senhor, mas tive alguns... problemas.
- Que tipo de problemas?
Bom, aquele era o momento que Florence poderia revelar o que acontecera, mas, para isso, teria de contar que estivera no banheiro masculino, a sós, com um menino. Então, ela pensou melhor e disse o que tinha certeza que iria calar aquele professor:
- Femininos, senhor.
Ele pigarreou e uma onda de risinhos se espalhou pela sala. As meninas permaneceram quietas, com feições preocupadas, e Deluc também. Pierre olhou-a, rindo descaradamente.
- Silêncio, por favor - pediu o professor. - Pode se sentar, senhorita.
Florence obedeceu, contendo um pequeno sorriso. A aula teve início e Louis não retornou, mas Pierre continuou em seu lugar, ileso e inconsequente. Pelo jeito, as coisas naquele colégio não funcionavam de uma maneira tão justa.
gostaram do capítulo?? o que acharam do Pierre e Louis?
Por quem vocês acham que o Deluc tem uma quedinha?votem e comentem bastante, quero ver suas opiniões!!
obrigadaaaa
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Marion Le Foy para Garotos e Garotas
RomanceO liceu Marion Le Foy finalmente abriu suas portas para as garotas e Florence Faure foi uma das poucas selecionadas para entrar no primeiro ano do ensino médio do tão disputado colégio. Lá, ela e outras vinte e nove meninas lidarão com os desafios...