capítulo 8

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Mila caminhou com Deluc até sua casa, contendo um sorriso por causa do segredo que guardava. Eles pouco falaram enquanto andavam, e a primeira coisa que a garota disse quando viu onde ele morava foi:

— Esta é sua casa? Uau.

— É sim. Vamos entrar.

Ele abriu a porta e Mila ficou boquiaberta, era grande e lindamente decorada. Eles seguiram por um corredor, onde Deluc abriu uma porta.

— Por aqui.

O olhar da garota percorreu o que parecia ser uma sala de estudos. Prateleiras cobriam as paredes e uma mesa enorme de madeira ocupava todo o centro da sala. Um globo terrestre num canto chamou sua atenção.

— É meu sonho ter um desses — disse ela.

— Meu pai me deu quando tinha nove anos. Eu gostava de ficar tentando decorar os nomes dos países. Mas sou meio burro, então não aprendi nada.

— Ah, pare, você não é burro. Já escolheu o livro que vamos trabalhar?

— Eu estava pensando em falarmos sobre "O Retrato de Dorian Gray". É meu livro favorito.

— Ótimo. Pretende falar sobre as referências homossexuais também? E como ainda hoje é considerado um livro polêmico...

— Shhh, Mila. Não, nada disso. Referências homossexuais? Não pode dizer essas coisas.

Deluc, nervoso, foi correndo fechar a porta. Mila franziu as sobrancelhas.

— Então você é um desses preconceituosos, hein? Não acredito. Deveria ter escolhido outra dupla.

— Preconceituoso? Eu não sou preconceituoso. Fui criado em um lar feminista...

— Se você não aceita a existência de pessoas homossexuais, então é sim preconceituoso.

— Não, Mila, você não está entendendo. Eu não tenho nada contra os homossexuais. É só que... — ele chegou mais perto —... meu padrasto não é uma pessoa, digamos, moderna. Ele finge ser, para continuar casado com a minha mãe, mas, na verdade, sua mente é mais dura e fechada que uma pedra.

— Oh. Entendo. Que situação.

Eles ficaram em silêncio por um tempo. Mas Mila quebrou-o, com um sorriso consolador:

— Então falaremos só do enredo, que é realmente muito bom. Vamos fazer o seguinte: eu leio e você transcreve, pode ser?

— Tudo bem.

Deluc esforçou-se para caprichar na letra, embalado pela voz clara e firme de Mila. Quando seus olhares se encontraram, ele reparou no tom cinzento bonito das íris dela. Ela pouco sorria, mas quando o fazia era tão...

— Deluc, concentre-se.

O garoto assentiu, as bochechas corando. Sem deixar que ele percebesse, Mila deu um pequeno sorriso ao vê-lo tão encabulado. Nunca admitiria, mas gostava de deixar os garotos assim: envergonhados. Depois de mais ou menos quarenta minutos, ela resolveu se divertir um pouquinho.

— Deluc, minha garganta está seca. Pode me trazer um pouco d'água?

— É claro. Só um instante.

Ele saiu, prestativo, e Mila mordeu os lábios, travessa. Resolveu soltar os cabelos trançados, deixando-os meio ondulados. Também tirou o casaco, e os pelos louros do seu braço ficaram quase translúcidos com a luz do sol que entrava pela janela às suas costas.

Enquanto se espreguiçava, uma garota que aparentava ter quase a sua idade abriu a porta de supetão.

— Você é a namorada do Deluc?

Marion Le Foy para Garotos e Garotas Onde histórias criam vida. Descubra agora