Mila caminhou com Deluc até sua casa, contendo um sorriso por causa do segredo que guardava. Eles pouco falaram enquanto andavam, e a primeira coisa que a garota disse quando viu onde ele morava foi:
— Esta é sua casa? Uau.
— É sim. Vamos entrar.
Ele abriu a porta e Mila ficou boquiaberta, era grande e lindamente decorada. Eles seguiram por um corredor, onde Deluc abriu uma porta.
— Por aqui.
O olhar da garota percorreu o que parecia ser uma sala de estudos. Prateleiras cobriam as paredes e uma mesa enorme de madeira ocupava todo o centro da sala. Um globo terrestre num canto chamou sua atenção.
— É meu sonho ter um desses — disse ela.
— Meu pai me deu quando tinha nove anos. Eu gostava de ficar tentando decorar os nomes dos países. Mas sou meio burro, então não aprendi nada.
— Ah, pare, você não é burro. Já escolheu o livro que vamos trabalhar?
— Eu estava pensando em falarmos sobre "O Retrato de Dorian Gray". É meu livro favorito.
— Ótimo. Pretende falar sobre as referências homossexuais também? E como ainda hoje é considerado um livro polêmico...
— Shhh, Mila. Não, nada disso. Referências homossexuais? Não pode dizer essas coisas.
Deluc, nervoso, foi correndo fechar a porta. Mila franziu as sobrancelhas.
— Então você é um desses preconceituosos, hein? Não acredito. Deveria ter escolhido outra dupla.
— Preconceituoso? Eu não sou preconceituoso. Fui criado em um lar feminista...
— Se você não aceita a existência de pessoas homossexuais, então é sim preconceituoso.
— Não, Mila, você não está entendendo. Eu não tenho nada contra os homossexuais. É só que... — ele chegou mais perto —... meu padrasto não é uma pessoa, digamos, moderna. Ele finge ser, para continuar casado com a minha mãe, mas, na verdade, sua mente é mais dura e fechada que uma pedra.
— Oh. Entendo. Que situação.
Eles ficaram em silêncio por um tempo. Mas Mila quebrou-o, com um sorriso consolador:
— Então falaremos só do enredo, que é realmente muito bom. Vamos fazer o seguinte: eu leio e você transcreve, pode ser?
— Tudo bem.
Deluc esforçou-se para caprichar na letra, embalado pela voz clara e firme de Mila. Quando seus olhares se encontraram, ele reparou no tom cinzento bonito das íris dela. Ela pouco sorria, mas quando o fazia era tão...
— Deluc, concentre-se.
O garoto assentiu, as bochechas corando. Sem deixar que ele percebesse, Mila deu um pequeno sorriso ao vê-lo tão encabulado. Nunca admitiria, mas gostava de deixar os garotos assim: envergonhados. Depois de mais ou menos quarenta minutos, ela resolveu se divertir um pouquinho.
— Deluc, minha garganta está seca. Pode me trazer um pouco d'água?
— É claro. Só um instante.
Ele saiu, prestativo, e Mila mordeu os lábios, travessa. Resolveu soltar os cabelos trançados, deixando-os meio ondulados. Também tirou o casaco, e os pelos louros do seu braço ficaram quase translúcidos com a luz do sol que entrava pela janela às suas costas.
Enquanto se espreguiçava, uma garota que aparentava ter quase a sua idade abriu a porta de supetão.
— Você é a namorada do Deluc?
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Marion Le Foy para Garotos e Garotas
Lãng mạnO liceu Marion Le Foy finalmente abriu suas portas para as garotas e Florence Faure foi uma das poucas selecionadas para entrar no primeiro ano do ensino médio do tão disputado colégio. Lá, ela e outras vinte e nove meninas lidarão com os desafios...