Capítulo 11

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Ana estava retraída durante a caminhada de volta até o Model S branco. Diversas vezes Christian a viu massagear as têmporas, mas quando perguntou se ela estava com dor de cabeça a resposta foi um resmungo ininteligível. Talvez ela não estivesse falando por causa do beijo, mas aquilo não parecia ser do seu feitio.

Bom, ela era do tipo que ia embora sem avisar. Ouvir Steve dizer que Ana queria pegar um táxi sozinha foi como um soco no estômago de Christian. Lembrava-o do abandono do próprio pai, que o deixara com um problema gigantesco para resolver. Já Ana ia deixá-lo com a chave do carro e o cartão de crédito dela. Quem faria uma coisa dessas?

Christian achava que não merecia aquilo. Em ambos os casos.

Tentara evitar que uma antiga cliente fizesse um escândalo na frente de Ana.Elena era chegada em um drama. Enfim tinha se divorciado do marido milionário e queria Christian só para si. Estava disposta a pagar o que fosse preciso.

Ela se recusava a admitir que Christian preferia pisar em brasas a aceitar aquilo. Insistiu por vários minutos, citando cifras extravagantes uma após a outra, e então simplesmente o beijou.

Christian sempre associaria o gosto de chiclete de canela, cigarro e uísque a Elena.

Já Ana tinha gosto de... sorvete de menta com gotas de chocolate.

Eles entraram no carro dela, que acionou o aquecedor de assentos, se afundou no encosto, apoiou a cabeça e ficou olhando pela janela, batucando nos joelhos distraída. Christian ligou o rádio para quebrar o silêncio, mas Ana o desligou de imediato e logo recomeçou a batucar. Era um movimento hipnótico, um pouco irritante.

Christian lhe lançou um olhar incomodado, mas ela nem percebeu.

Depois de saírem da cidade e entrarem no tráfego iluminado da 101S, ele cansou de se segurar e perguntou:

__Quando você faz isso com os dedos... é uma música? Como se tocasse um piano?

Ela interrompeu o movimento e sentou sobre as mãos.

__É o Arabesque, de Debussy. Gosto muito da combinação de quiálteras e oitavas.

__Então você sabe tocar? - Quando fora encontrá-la na casa dela, no centro de Palo Alto, tinha sido impossível não notar o piano de cauda que dominava a sala quase vazia. Se ela tivesse talentos artísticos além de inteligência, sucesso profissional e beleza, seria oficialmente a encarnação da mulher de seus sonhos. E tão fora de seu alcance que chegava a ser risível.

O peso das merdas feitas por seu pai ainda não havia recaído sobre ele, mas Christian não tinha quase nada a oferecer a uma garota como Ana. Só seu rosto e seu corpo, mas aquilo qualquer uma com algum dinheiro podia ter. Talvez Ana tivesse se atraído por quem ele era antes, alguém que podia se dedicar a suas paixões. Aquele cara tinha potencial. Christian quase não se reconhecia mais.

__Sei, - respondeu Ana. __Comecei a tocar antes de aprender a falar.

Ele ergueu as sobrancelhas. Além de ser a mulher dos seus sonhos, ela também era uma espécie de Mozart.

__Não é tão impressionante quanto parece, - Ana comentou com um sorriso ácido. __Demorei para começar a falar.

__Não consigo imaginar uma coisa dessas. Você parece perfeita.

Ela baixou a cabeça e soltou o ar com força. Christian perguntou qual era o problema, mas uma minivan lenta à sua frente chamou a sua atenção. Ele mudou de faixa e pisou fundo, numa ultrapassagem silenciosa. Adorava carros potentes.

Mas pensar em carros o fazia pensar em sua BMW M3, e em como a havia conseguido.

__Ela é a cliente louca, - ele contou. Christian sentiu o peso do olhar de Ana sobre si. __A mulher que você viu.

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