Capítulo 9

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__Não faz bem comer a sobremesa primeiro, sabia? - Ana comentou.

Ela sabia que estava sendo pedante e tediosa, mas não conseguia deixar de tagarelar quando estava nervosa. Sua ansiedade em relação à casa noturna crescera exponencialmente desde a semana anterior, e o evento principal seria dali a poucas horas.

Além disso, Christian estava segurando sua mão.

Sua palma suava tanto que ela não sabia como ele ainda conseguia tocá-la, muito menos agir como se fosse a coisa mais natural do mundo. Estranhamente, ela lidara melhor com as preliminares do que com aquilo — até acabar interrompendo tudo, era verdade —, e no momento pelo menos estava vestida. Era impossível culpar sua habitual aversão ao toque. Ela gostava de ser tocada por Christian.

Os dois caminhavam de mãos dadas por uma calçada movimentada de San Francisco, e parecia que todas as pessoas que passavam sorriam para eles. Um velhinho de boina até deu uma piscadela para ela.

Todos pensavam que eram um casal.

Ana teria dado risada da situação se não sentisse que de alguma forma era alvo de uma pegadinha maliciosa. Um grupinho de meninas de vestidos curtos passou, lançando olhares para Christian, dando risadinhas e cochichando. Encararam Ana com uma inveja palpável de que ela até gostou, apesar de saber que não merecia. De terno cinza e camisa social preta, Christian estava especialmente tentador naquela noite.

__É aqui. - Ele soltou sua mão e abriu a porta para que entrassem em uma sorveteria à moda antiga, com piso xadrez preto e branco. Lustres cor-de-rosa iluminavam os congeladores cheios de sabores e coberturas. __Qual é seu sorvete favorito?

Ana não conseguia nem pensar com a mão dele pousada na base de suas costas. Christian sabia o que estava fazendo? Ela já tinha visto caras fazendo aquilo com a namorada. Mas Ana não era namorada dele.

__Menta com gotas de chocolate, - ela respondeu.

__Sério? É o meu também. Vou pedir outra coisa então, pra gente dividir. - Ele acariciava distraidamente a cintura dela enquanto avaliava os sabores, fazendo
seu corpo todo esquentar.

__Espera, como assim?

Um sorriso malicioso surgiu nos lábios dele.

__Não quer dividir?

A garota com jeito de universitária atrás do balcão olhou para Ana como se ela tivesse acabado de dar um pontapé num filhote de cachorro.

__Não, não é isso. - Não exatamente. Depois de tantos beijos, ela sabia que era bobagem se preocupar com a troca de germes. Ela fizera uma análise detalhada dos sabores de sorvete e escolhera o melhor. __É que já sei do que gosto.

__Isso a gente vai ver. - Ele deu um tapinha no vidro do balcão. __Menta com chocolate para ela e chá verde para mim.

Ana queria pagar, mas ele tirou as notas da carteira antes que ela conseguisse
sacar o cartão de crédito. Quando eles se sentaram a uma mesa preta de metal perto da janela, Christian enfiou a colher no sorvete, saboreou e abriu um sorriso lento e largo enquanto tirava a colher da boca e pegava mais um pouco.

__Que coisa ridícula, - ela comentou. __Parece que você está fazendo um teste para um comercial da Häagen-Dazs. Ninguém sorri desse jeito depois de tomar sorvete.

Ele achou graça.

__É bom mesmo. - O sorriso voltou com toda força, acompanhado de uma covinha.

__Agora eu preciso experimentar. - Ela levou a colher ao pote dele.

__Ahá! - Em vez de deixar que ela pegasse uma colherada, ele levou a própria colher à boca dela. Os olhos dela se arregalaram, e pensamentos conflitantes surgiram em sua cabeça.

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