Capítulo 26

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Mais tarde naquela semana, Christian deixou Sophie trabalhando na loja e cuidando de Ngoa.i enquanto ele levava a mãe ao médico para a consulta e a bateria de exames mensais. Era um trajeto curto, mas pareceu eterno, com Grace o encarando fixamente de braços cruzados. Ele aumentou o volume da música e se concentrou no trânsito.

Ela desligou o rádio.

__Não aguento mais. Você passa o dia inteiro andando de um lado para o outro como um cachorro sem dono. Não fala nada. Está espantando a freguesia. E quando trabalha parece que está morrendo. Christian, me diga o que está acontecendo.

Ele apertou com mais força o volante de couro.

__Nada.

__Como vai Ana? Ela podia ir em casa sábado. A toranja estava em oferta, comprei um monte.

Ele não respondeu.

__Não sou idiota, sabe? Você terminou com a moça?

__O que faz você pensar que não foi o contrário? - Ana teria feito aquilo, quando decidisse que já tinha praticado o bastante.

__Está na cara que ela é apaixonada por você. Jamais faria isso.

Ele cerrou os dentes ao se sentir dominado por uma sensação desagradável.

Ana gostava dele, mas só se mostrava
"apaixonada" mesmo na cama.

__Conheci os pais dela.

__Ah, é? Como eles são?

__O pai dela não me achou bom o bastante, - Christian respondeu,contorcendo os lábios de amargura.

__Claro que não.

Ele desviou os olhos do trânsito para encarar o perfil da mãe.

__Como assim? - Ele era o único filho dela. Jamais imaginaria que falaria assim dele.

__Você é orgulhoso demais, igualzinho ao seu pai. Precisa ser mais compreensivo. Ele só quer o melhor para ela. Ana é filha única, não?
Como acha que foi quando casei com seu pai?

__O vovô e a vovó adoram você.

__Hoje. Mas no começo não me aprovavam. Por que iam querer que ele casasse com uma vietnamita que só tinha estudado até o oitavo ano e mal sabia falar inglês direito? Eles se recusaram a ir ao casamento, só acabaram cedendo porque seu pai ameaçou cortar relações com toda a família. Tive que me esforçar para conquistar os dois. Não foi do dia para a noite. Mas valeu a pena.

__Eu não sabia disso... - Aquilo o fazia enxergar seus avós sob uma nova luz, bem menos favorável.

__Quando você ama uma pessoa, precisa lutar por ela de todas as formas. Se fizer um esforço de verdade, o pai de Ana vai gostar de você. Aliás, se tratar bem a filha dele, vai te adorar.

__Acho que seria muito egoísmo da minha parte lutar por ela. Existem caras muito melhores por aí. Com mais grana, mais educação, mais... - Ele se interrompeu ao notar que a mãe se virava para ele com os olhos estreitos.

__Você está parecendo seu pai. Não suporta a ideia de ter uma mulher bem-sucedida, então desiste de tudo. Ela está melhor mesmo sem você. Se amasse Ana de verdade, saberia valorizar esse amor e se comprometer com ele. Ela não precisa de mais nada de você além disso.

__Acha que sou como papai? Acha que eu faria o que ele fez? - As palavras de Grace o atingiram como uma lufada de água gelada nos pulmões. Se sua própria mãe achava que...

__Você jamais faria isso, - ela disse com um gesto de mão. __Ele não tem coração. Você tem, e dos bons. Mas acha que precisa ser o melhor em tudo e fazer tudo sozinho. Você e seu pai têm esse mesmo problema.

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