Capítulo 13

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Quando Christian voltou, deu de cara com a mãe o observando de braços cruzados. Da vitrine, era possível ter uma clara visão do Tesla branco de Ana saindo de ré do estacionamento. Ele sabia que a mãe veria o beijo, motivo pelo qual fora tão apressado, apesar de sua vontade de fazer Ana virar os olhos.

Ela mexia com Christian de tantas formas que era impossível para ele até enxergar direito, quanto mais pensar. Havia sido pego de surpresa ali na loja. Talvez fosse por aquele motivo que tinha aceitado a proposta, quando tinha se decidido a fazer a coisa certa e recusar. Ela não o provocara ou fora irônica. Na verdade, ficara impressionada com seu trabalho e com ele — com quem Christian era de verdade. Ninguém mais queria quem ele era de verdade. Só Ana. Num momento de fraqueza, ele deixara de lado suas precauções e fora imprudente. Dissera sim só porque queria passar mais tempo com ela.

Só que as coisas estavam saindo do controle. Os limites estavam ficando difusos, de modo que parecia impossível separar sua vida profissional da pessoal. Talvez até por vontade própria. A mãe presumira que Ana era sua namorada, e ele gostara daquilo até mais do que deveria. Aceitar a proposta tinha sido um erro gigantesco. Já estava arrependido, sentindo que era uma coisa muito errada, apesar de não entender bem por quê. Mas era tarde demais. Talvez se fosse só um mês... Ele era um profissional. Conseguiria levar as coisas por um mês.

__Aanna, - sua mãe falou, como se estivesse treinando a pronúncia.

Christian pegou as roupas dela e se dirigiu à oficina.

A mãe foi atrás.

__Gostei mais dela que daquela stripper que você namorou.

__Ela era dançarina. - Certo, ela também era stripper. Mas ele era jovem, e ela
tinha um corpo incrível e sabia mexê-lo muito bem.

__Lembro que encontrei uma calcinha suja dela lá em casa. - Christian coçou a nuca.

__Eu terminei com ela.

Era só sexo. Seu pai era um traidor nato, o que ensinou a Christian que, em vez
de assumir compromissos e acabar magoando as pessoas, ele devia manter as relações impessoais. Tinha sido divertido, mas ele acabara pirando um pouco,basicamente transando com quem demonstrasse interesse. Suas lembranças daquele tempo eram um arco-íris de lingeries.

Quando tudo acontecera e ele precisara de dinheiro rápido, tinha pensado:

__Por que não faturar uma grana com isso? - Como alfaiate, Christian lidava com mulheres mais velhas e endinheiradas que faziam propostas do tipo de tempos em tempos.
Só precisaria aceitar. Também seria o tapa na cara perfeito para o pai — culpado por tudo o que tinha acontecido. __Esse
carro da Ana é bem caro, - a mãe notou.

Christian deu de ombros, pôs as roupas de Ana junto com as demais peças a ser lavadas a seco e se sentou à máquina de costura.

Grace falou em vietnamita:

__Ela gosta de você de verdade. Dá para notar.

__Quem é que gosta dele? - Ngoa.i perguntou de seu lugar de sempre diante da TV. Estava vendo O retorno dos heróis condor pela milionésima vez, a versão antiga com Andy Lau, em que o condor lutador de kung fu era um homem vestido de ave.

__Uma cliente, - sua mãe respondeu.

__Aquela da saia cinza?

__Você viu a moça?

__Hummm, fiquei de olho nela assim que apareceu. É boa menina.Christian devia casar com ela.

__Eu estou bem aqui, - ele falou. __E não vou casar com ninguém. - Não era uma opção para quem trabalhava como acompanhante. E ele ainda se lembrava de quando o pai sumia durante a infância. A mãe chorava até a hora de dormir, totalmente arrasada, mas tentando segurar firme por causa dos filhos, sem perder um dia de trabalho sequer. Christian jamais magoaria uma mulher daquele jeito. Jamais.

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