Um Clichê de Última Hora - DEGUSTAÇÃO

13_ Bêbada?

Eu me sentia no olho de um furacão. Meus pensamentos estavam embaralhados, meus olhos molhados, meus sentimentos feridos. A minha volta vozes soavam me deixando ainda mais confusa enquanto a música alta da festa ainda estava alta. Minha mãe havia se aproximado e junto com ela o meu pai que ainda vestia sua roupa do trabalho. Hilary também havia aparecido, mas estava junto com os outros curiosos. 

Meus olhos ainda estavam um pouco embaçados por causa do choro, mas ainda assim conseguiram focar perfeitamente no rapaz parado a minha frente. Sua jaqueta preta me rodeava, seus olhos claros me encaravam sem dizer nada e, de algum modo, naquele momento foi como se toda aquela confusão houvesse desaparecido e só eu e ele estivéssemos ali. Brega? Sim, eu sei. Mas, eu não sei explicar o que houve. 

Talvez a teoria de que só possamos fazer ou focar numa coisa apenas de cada vez seja verdade. Talvez eu só conseguisse olhar para Axel naquele momento e para nada mais. Talvez fosse nele que eu devesse focar mesmo, já que meu coração começou a se acalmar aos poucos e meus pensamentos a se desembaralharem. 

Eu estava me sentindo péssima, me sentia deixada de lado, abandonada e até de coração partido, mas não porque um cara que eu gostava não gostava de mim, mas sim porque minha própria mãe não demonstrava interesse em mim. 

ㅡ Você está bem? ㅡ Voltei a mim quando ouvi Axel perguntar. 

Voltei a olhar em volta e passei as mãos por meu rosto secando as lágrimas. Encarei meus pais que pareciam não entender o que estava acontecendo e Hilary que continuava lá atrás junto com alguns outros alunos. 

ㅡ Estou. ㅡ Assenti e observei o olhar de Axel para mim. O mesmo deu uns curtos para o lado para que eu pudesse ver meus pais diretamente. 

ㅡ Nancy... ㅡ Meu pai foi o primeiro a se aproximar de mim. ㅡ O que está acontecendo? 

ㅡ Eu... ㅡ Comecei a falar, todavia, fui interrompida por minha mãe que se aproximou de nós bruscamente. 

ㅡ Sua filha está de birra à essa altura. ㅡ Meus olhos se alarmaram na direção da minha mãe. Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. ㅡ Com quase 18 anos e de pirraça. ㅡ Ela falou com seu tom de bronca.

ㅡ Pirraça? ㅡ Meu pai fez uma careta para mim , porém, eu não consegui dizer nada. Meu peito se apertou num nível tão grande que eu não consegui mais ficar ali. Encarei cada rosto que observava a cena e virei as costas passando por Axel e seguindo a rua. 

O vento frio daquela noite batia em meu rosto quente pelo choro e jogava meus cabelos para trás. Abracei meus próprios braços e me perguntei em que momento Axel havia colocado sua jaqueta em mim, já que eu nem havia notado. Continuei caminhando pela rua sem rumo, eu não sabia o que estava fazendo e ainda não conseguia raciocinar direito. 

Será que eu estava exagerando? Não! Eu não podia estar! Reconheço que sou exagerada em muitos quesitos como na minha curiosidade e no meu perfeccionismo com minha notas, mas eu não estava exagerando daquela vez. Se minha irmã passa um minuto da hora de voltar para casa minha mãe revira a cidade desesperada procurando ela, eu fiquei 4 horas a mais no colégio e ela nem sentiu a minha falta! E eu nem sou de sair, muito menos sem avisar... e ela ainda virou para o meu pai e disse que eu estava de birra?? De pirraça?? 

Ignorei as lágrimas que voltaram a descer a parei para observar a rua que eu passava. Aquele não era o caminho que dava para o centro da cidade e nem para o meu colégio, então eu não costumava passar por ali, mas ainda me era um pouco familiar pelas poucas vezes que passei. Continuei andando e a medida que o som da música ficava mais baixo, mais calma eu ficava.

Estava abraçando meus próprios braços quando meus olhos pararam num lugar bem familiar e nostálgico para mim. Era um pequeno parquinho. Ele estava um pouco escuro por conta de apenas um dos postes estar funcionando, mas eu podia ver perfeitamente o local circular que continha um balanço antigo e desbotado de dois lugares e um escorregador que eu não cri ser muito confiável. Lembranças minhas de quando criança me vieram a mente. Sorri.