18_ Curiosidade.

17.1K 2.5K 2.6K
                                    

Axel subiu na moto dele, colocou o capacete e logo depois olhou para mim. 

ㅡ O que? ㅡ Perguntou.

ㅡ O que, o que? ㅡ Perguntei logo depois.

ㅡ O que está esperando? ㅡ Axel riu de novo.

ㅡ Nada. Eu... ㅡ Perdi as palavras quando olhei para o sorriso dele. Ele estava sorrindo pra mim e isso era tão atraente que me tirou o fôlego. 

ㅡ Sobe. ㅡ Falou com calma puxando outro capacete e me entregando. ㅡ Talvez fique grande em você porque é do meu irmão e ele tem uma cabeça enorme. 

ㅡ Espera, eu... de moto... com você? ㅡ Gaguejei. 

ㅡ É. ㅡ Ele assentiu. ㅡ Tem problema pra você? Eu não posso deixar você ir sozinha, já é madrugada. 

ㅡ Não. Problema nenhum. ㅡ Falei com firmeza tentando não transparecer o medo gigantesco que estava na boca do estômago. Eu nunca havia andado de moto, pelo contrário, sempre via os moleques da minha escola andando em motos feito loucos desgovernados e desejei nunca subir numa. 

ㅡ Então sobe. ㅡ Axel me deu o capacete e ligou a moto. Assenti comigo mesma tentando não pirar. 

Relaxa, Nancy, você vai ficar bem. Se você sobreviveu a esse bairro cheio de pessoas perigosas, vai sobreviver a uma simples moto. Tentei acreditar em mim mesma, coloquei o capacete em minha cabeça e subi na moto. No primeiro momento cacei em tudo quanto é lugar daquele moto algo para que eu me segurasse, mas não achei nada. Até que Axel saiu com a moto e, no impulso, meus braços rodearam ele. 

Apertei-me com ele no medo de cair e senti um vento leve e frio bater no meu rosto enquanto os fios dos meu cabelo que estavam para fora do capacete voavam para trás.

A rua que passávamos era escura e sua única iluminação era a lua e as estrelas. Aquilo me causou algo diferente. Eu me segurava em Axel enquanto sentia aquele frescor nas minhas bochechas. Fechei os meus olhos e, involuntariamente, abri um sorriso. 

Axel seguiu na pista escura e, por um momento, desejei que aquele momento durasse. Era algo tão simples mas que me causou tanta paz que eu não soube explicar. 

ㅡ Você está bem?! ㅡ Ouvi Axel gritar.

ㅡ Sim! ㅡ Gritei de volta com um sorriso estampado em meus lábios.

ㅡ Posso acelerar?! ㅡ Minha mente gritava não, mas meus lábios disseram o contrário.

ㅡ SIM! ㅡ Gritei em reposta e me agarrei ainda mais a ele quando o mesmo acelerou a moto. 

A sensação da adrenalina me atingiu e eu sorri mais. Ergui um dos meus braços sentindo o vento na minha mão e gritei um " Uuuuh! ". Ta, até parece vergonhoso, mas eu não me importei na hora. Axel não pareceu se importar também, já que ele também gritou. Logo depois ouvi sua gargalhada. Ri junto dele.

[...]

( Narrado por Axel )

E ali estava eu, parado na frente da casa daquela garota enquanto ela acenava e entrava pela porta. Continuei analisando o local por um tempo me lembrando dela na garupa da minha moto gritando e... sendo ela. 

Abaixei minha cabeça apertando o guidão da moto até ouvir uma gritaria. 

ㅡ Mas tinha que ser ela, né? Sempre a Nancy estragando tudo!! ㅡ Pude ver a tal Hilary na janela gritando. Eu não sabia nada sobre essa Hilary, só tudo o que já tinha escutado na escola: Rica, bonita, popular, fim. 

ㅡ Mas o que eu fiz? ㅡ Ouvi a voz de Nancy. 

ㅡ Por culpa sua o papai mandou o Fred embora! 

ㅡ Minha culpa?? Eu saí de casa para não atrapalhar esse jantar besta!

ㅡ Besta?? Você é tão egoísta. ㅡ A garota cruzou os braços balançando a cabeça negativamente. 

ㅡ Egoísta? 

ㅡ Você saiu e não voltou mais! O papai não deixou a gente em paz preocupado com a filha irresponsável e egoísta! ㅡ Eu não consegui mais escutar o resto de tanta raiva. O meu sangue ferveu e eu saí com a moto para minha casa. Minha vontade foi entrar naquela casa e tirar Nancy de lá, mas eu não podia.

E de certa forma era o melhor...

Eu não sabia o que estava fazendo. Meu plano era não criar nenhum vínculo com ninguém, amizade, nada. De preferência que eu nem falasse. Porém, isso não aconteceu como eu queria. Eu não contava com Nancy e sua curiosidade enorme. 

Desde que disse a primeira palavra para ela ela não me deixou mais parar. Foram tantas perguntas que eu mesmo não me reconheci de tanto que falei. 

Eu não sei o motivo por ter deixado que ela " entrasse na minha vida ", mas, de alguma forma que eu não entendia, isso não me incomodava. 

Fui para a casa do meu irmão e tentei entrar sem acorda-lo, afinal, já era madrugada. Deixei a moto na garagem e entrei pela porta da cozinha. Toquei minha cabeça no intuito de retirar o gorro, já que era meu costume tira-lo quando entrava em casa, contudo ele não estava na minha cabeça. Só aí me lembrei que deixei com Nancy junto com minha jaqueta. 

Balancei a cabeça negativamente com um sorriso e entrei na sala me deparando com meu irmão lendo um livro enorme no sofá.

ㅡ Ta acordado até agora por que? ㅡ Me joguei no sofá ao lado dele. A televisão estava ligada num daqueles programas com plateia que passam de madrugada. 

ㅡ Tive uma semana para ler esse livro imenso e deixei para cima da hora, agora tenho que ler tudo até amanhã e apresentar uma tese sobre. ㅡ Ele respondeu. ㅡ E você ? Demorou mais que o de costume.

ㅡ O pessoal ficou bebendo e conversando um pouco. ㅡ Encostei minha cabeça no sofá e fechei meus olhos. 

ㅡ Com a Nancy lá? ㅡ Abri os olhos novamente e o encarei. Ele sorriu pra mim.

ㅡ Por que deixou a Nancy ir lá? Sabe que lá é perigoso! ㅡ Ele começou a rir. 

ㅡ Relaxa. Eu avisei ao Bob que ela ia aparecer por lá. ㅡ Fiquei um pouco mais tranquilo e voltei a encostar minha cabeça no sofá. Bob era um cara que ficava por lá pelo bairro vigiando quem entra e quem sai. Ele provavelmente vigiou a Nancy quando ela apareceu lá então. ㅡ Não quer falar sobre isso? 

ㅡ Isso o que? ㅡ Fiz uma careta.

ㅡ Sua aproximação repentina com uma garota. ㅡ Ele falou num tom óbvio. ㅡ Desde quando você empresta jaqueta ou, simplesmente, conversa com uma? Até contou que mora comigo. Pra te fazer falar sobre você é um sacrifício imenso. Como essa garota conseguiu te fazer falar tão rápido? 

ㅡ Hoje deu para todo mundo me fazer perguntas? ㅡ Permaneci com os olhos fechados. 

ㅡ Pensei que estaria de bom humor depois de passar um tempo com a Nancy. ㅡ Olhei para ele de novo e o mesmo escondeu o sorriso voltando a encarar o livro. 

ㅡ Você está bem engraçadinho, né? 

ㅡ Eu? Eu nem disse nada. ㅡ Ele falou com uma careta inocente. 

ㅡ Eu vou tomar um banho e dormir. Tenho escola amanhã. ㅡ Resmunguei me levantando e passando por ele para ir pro meu quarto. 

ㅡ Já está pensando em ver a Nancy de novo? ㅡ Ele falou com seu tom de deboche e eu lhe dei um tapa atrás da cabeça, o que apenas o fez rir.

Entrei no meu quarto tirando o casaco e a camisa e me joguei na cama ainda no escuro. Meus olhos se fecharam involuntariamente devido ao sono e uns flashs aleatórios de Nancy vieram a minha cabeça. Nancy me deixava curioso. Não uma curiosidade como a dela, mas ainda assim uma curiosidade. 

Seus olhos e sorriso fácil me deixavam curioso sobre ela. Seu jeito de não se importar com popularidade ou outras coisas fúteis me deixavam curioso. O simples fato de eu olha-la me deixava curioso. Eu não queria me aproximar de ninguém, mas queria saber mais sobre ela. 

•••
Continua...

Um Clichê de Última Hora - DEGUSTAÇÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora