( Narrado por Axel )
Estacionei a moto na garagem da casa do meu irmão, tirei o capacete e o pendurei no quindão. Guardei as chaves no bolso da mochila e entrei pela porta da cozinha. O cheiro forte de café me atingiu assim que pisei ali dentro.
ㅡ Bebendo café? Você? ㅡ Fiz uma careta quando vi meu irmão numa tentativa estranha de fazer café na cafeteira que já pegava poeira no armário por muitos meses.
ㅡ Tenho uns livros chatos para ler nesse fim de semana e entregar um trabalho na segunda, mas como não quero ler, vou maratonar os filmes baseados nesses livros essa noite. ㅡ Ele sorriu para mim com aquele olhar " espertalhão " dele. ㅡ Mas, como sou fraco para ficar acordado até tarde... ㅡ Ele balançou a caneca transparente de café, um café bem, bem, preto.
ㅡ Eu acho que isso tá um pouco forte demais. ㅡ Ri balançando a cabeça.
ㅡ Você tem rido bastante ultimamente. O que é isso? Efeito Nancy? ㅡ Ele perguntou com seu sorriso brincalhão. Todo dia, todo o santo dia, ele fazia alguma piada sobre eu estar rindo ou mais sorridente por causa da Nancy.
ㅡ Engole essa poupa de café e vai assistir seus filmes, vai, irmão. ㅡ Ouvi sua risada enquanto entrava na sala e me sentava no sofá. Passei a mão por minha cabeça para tirar o gorro, como de costume, e o observei em minha mão.
ㅡ Eu to enrolando, os filmes são mó chatos e sonolentos. Vou entender bulhufas. ㅡ Ele se jogou ao meu lado com a caneca de café na mão.
ㅡ Não é para segunda? ㅡ O olhei.
ㅡ É, por que?
ㅡ Você tem amanhã e domingo, pra quê ver tudo hoje? ㅡ Fiz uma careta.
ㅡ Porque não estarei aqui amanhã e nem domingo, Axel. ㅡ O olhar de meu irmão mudou. Por um momento seus olhos escondiam uma tristeza e certo desapontamento. ㅡ E nem você. Não acredito que se esqueceu que dia é amanhã.
Não, eu não havia me esquecido. Nunca esqueceria. Apesar de que queria, e muito.
ㅡ Eu não me esqueci. ㅡ Me levantei do sofá já caminhando na direção do corredor.
ㅡ Ah, qual foi, Axel? Você não vai? Já tem dois anos que você não vai! O que ela acharia de... ㅡ Ele se levantou vindo atrás de mim, mas parou de falar quando eu parei de andar.
ㅡ Não fala dela. ㅡ Apertei os olhos e respirei fundo. ㅡ Você fique a vontade para ir, mas eu não vou. ㅡ Finalizei e entrei no meu quarto.
Com tudo ainda escuro, joguei a mochila ao canto, o gorro na cama e me deitei sobre ela. Esfreguei os olhos antes de encarar o teto liso do quarto iluminado por uma luz fraca que vinha da janela.
Eu não queria ir. Eu não iria. Não voltaria para lá. Nem pelo meu irmão, nem por ela.
[...]
Passei pela cozinha com as chaves da moto na mão. Eu não fazia ideia de que horas, mas ainda não havia passado do meio dia.
ㅡ Você não vai mesmo? ㅡ Meu irmão perguntou sentado a mesa com um prato de panquecas em sua frente. Seus olhos estavam fundos evidenciando que havia mesmo virado a noite.
ㅡ Não. ㅡ Coloquei as chaves sobre a mesma e puxei uma garrafa d'água da geladeira.
ㅡ Eu pago a sua passagem... ㅡ Ele insistiu.
ㅡ Eu não vou, cara. Desencana. ㅡ Fechei a garrafa.
ㅡ Ok, ok... ㅡ Ele encarou o prato de panquecas, cortou um pedaço e o colocou na boca. ㅡ Se a Nancy pedisse, você ia. ㅡ Resmungou.
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Um Clichê de Última Hora - DEGUSTAÇÃO
RomanceSabe aquela garota linda, estilosa, rica e popular que todo mundo quer ser? Aquela que todos querem ser amigos, que dá as festas mais badaladas, que tem compromisso todos os fins de semana, que não faltam pretendentes aos teus pés? Sabe essa garota...