27_ Perfeito.

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Sim, ele era. Axel era perfeito pra mim em todos os sentidos da palavra, agora, se eu era perfeita para ele... já é outro caso. 

Olhei na direção da janela e observei o céu lá fora. O dia era de sol, mas não estava muito calor, eu diria que era perfeito. O sinal tocou fazendo com que os alunos entrassem na sala e logo depois entrou o professor de história, uma de minhas matérias favoritas. Ele sorriu para a classe dando bom dia, lançou suas coisas sobre a mesa e disse que a aula seria uma dinâmica; perfeito. A aula se passou e o primeiro intervalo chegou, nada de bullying, nada da minha irmã, nada de Andrew, nada de ser o centro das atenções, apenas eu, Sarah, Toby e os nerds na mesa, como costumava ser. Perfeito. O dia se passou e recebemos as provas que fizemos no final do último ano letivo. Eu havia gabaritado todas. Perfeito. As aulas do dia se passaram e eu saí do prédio direto em direção à biblioteca, tinha terminado o livro que estava lendo e estava prontinha para começar o próximo da minha lista. Perfeito. Estava entrando na biblioteca já subindo para o andar do meu esconderijo quando meu celular vibrou uma vez em meu bolso. Eu não era de receber mensagem, então abri para ver se era algo importante. Era meu pai, ele tinha me mandado uma foto de uma caixa do meu chá favorito. Ele comprou o meu chá favorito. Perfeito. Cheguei ao meu lugar na biblioteca, mas parei quando vi Axel sentado perto da janela com um livro na mão. Seu olhar se ergueu até mim e ele... sorriu... Ar... Perfeito. 

ㅡ Seu pai não te deu bronca por chegar de madrugada em casa? ㅡ Axel quebrou o silêncio após ficarmos uns vinte minutos quietos apenas lendo. 

Direcionei meu olhar para ele e respirei fundo. Eu não sei dizer... ou eu me esquecia sempre do quanto ele era bonito, ou ele ficava mais bonito a cada segundo. Não é possível! Toda vez que eu o olhava, ele estava ainda mais atraente! Como podia? 

Observei o rosto de Axel por uns segundos. Meus olhos aos poucos foram descendo por seus ombros, largos ombros, cobertos por uma jaqueta preta que também cobria um moletom. Lembrei-me da noite anterior e senti vontade de abraça-lo de novo. Senti uma vontade imensa de me aproximar e me aconchegar em seu peito. Quis estar perto dele, quis senti-lo, quis toca-lo. Voltei meus olhos para seu rosto. Axel estava sentado no chão apoiado na parede. Seu corpo estava de lado para mim, assim como o meu. Ele tinha a cabeça apoiada na parede enquanto um sorriso de canto enfeitava seus lábios... seus lábios... eu quis beija-lo. 

Engoli em seco, de novo, ao ouvir meus próprios pensamentos. É claro que eu já havia sentido vontade de beijar alguém, mas só pessoas que eu JAMAIS poderia, como personagens de filmes e livros. Nunca havia sentido essa vontade por alguém " acessível ". Sentir aquilo por Axel era uma confirmação definitiva de eu realmente sentia algo por ele. De que eu gostava dele... 

Respirei fundo... eu gostava dele. 

ㅡ Nancy? ㅡ Ele chamou por mim de novo me fazendo voltar a mim. 

ㅡ Han? Me... me desculpa. ㅡ Balancei a cabeça e encarei os livros que estava na minha frente. Eu gostava dele... e foi tão rápido... e eu nem ao menos o conhecia... talvez fosse por isso. Atração + Mistério = Nancy rendida. ㅡ O que você me perguntou? ㅡ Voltei a olha-lo. 

ㅡ Por que está com a cabeça nas nuvens? ㅡ Ele riu fechando o livro e o colocando de lado. 

ㅡ Eu... ㅡ Estava pensando no quanto você é gato e de repente me dei conta que gosto de você. ㅡ Estava pensando no dia que tive hoje. ㅡ Menti. 

ㅡ Sério? ㅡ Ele pareceu surpreso. ㅡ Por que? Como foi seu dia hoje? 

ㅡ Foi... perfeito. ㅡ Sorri. ㅡ Sério! Foi um dia bom, muito bom, na verdade. Não teve nenhuma confusão, as aulas foram ótimas, meu pai comprou meu chá favorito. ㅡ Sorri encostando minha cabeça na parede atrás de mim. ㅡ E nem é tanto pelo chá, ta, eu amo aquele chá, mas... ele lembrou de mim. ㅡ Sorri olhando para Axel. ㅡ Meu pai lembrou de mim hoje. ㅡ Suspirei com um sorriso confortável no rosto. ㅡ E não tive sinal nem da minha irmã e nem dos populares amigos dela. 

ㅡ Hoje tem jogo. ㅡ Axel disse me fazendo olhá-lo de novo. ㅡ Contra um outro colégio aí. Meu irmão não perde nenhum, então me avisou hoje que iria. Por isso os jogadores e as líderes de torcida não estão aqui hoje. 

ㅡ Ai, podia ter jogo todo dia. ㅡ Nós dois rimos juntos. Um silêncio pairou pelas estantes de livros enquanto nós dois apenas nos encarávamos. ㅡ Obrigada por ontem, Axel. ㅡ Virei-me totalmente para ele. ㅡ Ao contrário de ontem, meu dia tinha sido uma droga. Você estava ali na hora certa. 

Os olhos de Axel me fitara por uns segundos até ele abrir um sorriso no canto dos lábios. 

ㅡ Quando começou a escrever romances? ㅡ Perguntou com um olhar curioso. Não vou mentir, pensar no fato de que ele estava curioso sobre mim me fez sentir tão bem... 

ㅡ Eu não lembro que idade eu tinha quando comecei a escrever no Bubble, mas eu já gostava de criar na minha cabeça desde muito tempo. Quando eu brincava de Barbie, criava uma história totalmente elaborada com início, meio e reviravolta. Quando conheci o Bubble, vi uma oportunidade de colocar tudo aquilo para fora e criar algo de verdade. Fiquei surpresa quando vi que estava tendo tantas leituras, eu não esperava muito. Aí, depois de um tempo o pessoal daqui da escola começou a ler e por muitas vezes ouvi eles falarem sobre minhas histórias nos corredores... foi uma sensação bem louca. ㅡ Abracei minhas próprias pernas e fiquei batucando as pontas dos pés no chão. ㅡ É claro que também foi minha forma de me iludir. Eu não podia viver um romance, então escrevia. 

ㅡ E por quanto tempo pretende esconder que você é a Alice? ㅡ Seu sorriso me fez olha-lo com surpresa. Como ele sabia?? Ele havia entrado no meu perfil? 

ㅡ Você... você entrou lá? 

ㅡ Eu ouvi umas garotas falando sobre isso na aula hoje. Falavam sobre uma tal Alice no país dos clichês e eu lembrei de você falando quando estava bêbada. 

ㅡ Ai... ㅡ Balancei a cabeça com uma careta. ㅡ Nem me lembre disso, por favor! ㅡ Ele riu. ㅡ Eu nem deveria ter bebido, mal te conhecia e te fiz cuidar de mim. Sem contar que você podia muito bem ser um assassino em série. ㅡ Falei num tom brincalhão. 

ㅡ Acha que tenho cara de assassino? ㅡ Ele arqueou a sobrancelha com um sorriso. 

ㅡ Quer a verdade? ㅡ Fiz uma careta e Axel riu... ele riu... riu tanto que inclinou o corpo para trás colocando a mão na barriga. Já ficou hipnotizado alguma vez? Pois eu fiquei... fiquei como uma estátua admirando ele... até rindo ele conseguia ser ainda mais atraente. 

ㅡ Então, o pessoal do estúdio fala sério quando dizem que tenho cara de psicopata? ㅡ Axel perguntou ainda com um sorriso no rosto, vestígio de sua risada. 

ㅡ Acredito que sim. ㅡ Ri assentindo. ㅡ Mas, do jeito que você está agora... rindo... não parece tanto. ㅡ Meu sorriso era de uma tremenda admiradora. ㅡ No começo você parecia mais. E pro resto da escola ainda parece. ㅡ Ri de novo. Axel apenas me observou com um sorriso... um sorriso que parecia tão sincero que acelerou meu coração. ㅡ Sobre isso... ㅡ Cocei a cabeça. ㅡ Posso fazer uma de minhas perguntas? 

ㅡ Claro. ㅡ Ele assentiu. 

ㅡ Por que... por que você resolveu falar comigo? Ta, eu estava quase morrendo de claustrofobia aquele dia, mas você poderia ter me deixado aqui na janela e apenas isso. ㅡ Arrisquei pergunta. ㅡ Bem... ou não! Digo... ㅡ Comecei a me enrolar. ㅡ Se fosse outra garota aqui contigo naquele dia... estaria com ela agora, certo? 

ㅡ Quer a verdade? ㅡ Seu tom me fez morder o lábio inferior.

ㅡ Acho que sim. ㅡ Assenti, sem certeza alguma. 

ㅡ Se fosse outra garota aqui naquele dia passando mal lá embaixo... eu a ajudaria da mesma forma. ㅡ Respondeu com certa calma. Mas o que eu estava esperando ouvir? A gente nem se conhecia direito, esperava que ele dissesse que não? Que me ajudou por que sou especial? Primeiro: seria desumano não ajudar quem quer que fosse; segundo: eu não tenho nada de especial para que ele pensasse diferente. ㅡ Mas não estaria aqui com ela hoje. A teria ajudado e só. ㅡ Suas palavras fizeram meu coração acelerar de novo. Seus olhos me fizeram engolir em seco e borboletas dançaram em minha barriga quando ele sorriu. 

•••
Continua...

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