25_ Mudar de escola?

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Eram quase oito da noite quando uma gritaria começou a soar no quarto da minha irmã. Eu estava no meu, do jeito que eu sempre amei estar, acompanhada de um livro, na minha cama, com um chá e ouvindo músicas. Naquele momento... O mundo era perfeito.

ㅡ Que droga, mãe! Eu não aguento mais essa garota! ㅡ Minha irmã gritava dando um de seus chiliques diários. Meus olhos se reviraram, era óbvio que ela estava falando de mim.

ㅡ Mas, ela é sua irmã, Hilary! O que quer que eu faça?? ㅡ Ouvi minha mãe.

ㅡ Sei lá! Muda ela de escola, qualquer coisa para ela sumir da minha vida! ㅡ Hilary gritou novamente.

ㅡ Mas, filha, você nunca teve problemas com a sua irmã na escola, por que está tão desesperada para que ela saia de lá?

ㅡ É, eu nunca tive problemas com ela enquanto ela ainda era invisível, quando ninguém olhava pra ela, quando ela ficava trancada naquela biblioteca idiota o tempo todo e ninguém ao menos sabia o nome dela! Mas agora... Agora aquela garota ta mais falada na escola do que eu! Todo, sério, TODO mundo sabe quem é ela agora. Ela ta insuportável! Acredita que o diretor colocou ela na lista dos populares para levar alguém ao baile de boas vindas, mas não me colocou??? Aquele idiota me colocou para ir com um nerd besta amigo da Nancy. Hoje o namorado dela arrumou briga com o meu, vê se pode, mãe! Já me cansei dela. 

ㅡ Namorado da sua irmã? A Nancy não tem namorado. ㅡ O tom da minha mãe não era do tipo que me conhecia o suficiente para saber que eu não namoraria sem falar com ela, mas do tipo que não acreditava que eu pudesse namorar alguém. 

ㅡ Eu sei, mas é que ta todo mundo falando que o Axel é namorado dela. 

ㅡ Quem é Axel? 

ㅡ Ai, mamãe, isso não importa! O que importa mesmo é que eu não quero a Nancy na mesma escola que eu! ㅡ Hilary gritou ainda mais alto, como se quisesse que eu escutasse. 

ㅡ Filha... ㅡ Minha mãe ficou uns segundos em silêncio até bufar. ㅡ Ok, eu vou falar com o seu pai e ver o que posso fazer, mas não acredito que... ㅡ Me coração afundou em meu peito. Eu sempre tive desentendimentos com a minha irmã, mas parece que só agora estou conhecendo seus outros lados, agora que ela pensa que quero " tomar " o lugar o dela. E minha mãe... ela estava mesmo disposta a me mudar de escola só porque a minha irmã mimada queria? 

Não consegui ouvir o resto da conversa porque me levantei da cama e saí do quarto. As duas estavam paradas na porta do quarto dela que era em frente ao meu. Ambas me olharam. Hilary revirou os olhos.

ㅡ Eu não vou mudar de colégio. ㅡ Disse com firmeza.

ㅡ Você acha que tem alguma escolha? ㅡ Hilary ergueu as sobrancelhas.

ㅡ Sim, porque somos irmãs e temos direitos iguais aqui. Eu nunca faço nada para te prejudicar e, por muitas vezes, deixei de fazer algo que eu queria para não interferir no seu caminho, mas eu não vou mais fazer isso. Assim como respeito seu espaço, quero que respeite o meu! ㅡ Tentei mostrar firmeza, apesar de estar magoada por dentro. Tudo estava dando tão errado na minha vida que eu já nem me importava. 

ㅡ Espaço? ㅡ Hilary riu. 

ㅡ É. Tipo, não fazer festas escandalosas até altas horas sabendo que tenho aula no dia seguinte ou implorar pra mamãe para me mudar de escola sem pensar se isso vai me prejudicar. Merda, Hilary, você não consegue pensar em ninguém além de si mesma? Eu adoro você, de verdade, mas parece que tudo que você faz ultimamente é para me prejudicar! Pensa nas coisas e nos outros, que droga! ㅡ Bati a porta do quarto e segui pelo corredor.

ㅡ Nancy, não fale assim com a sua irmã. ㅡ Minha mãe pediu. 

Eu não a respondi, não tinha essa coragem. Meu pai não estava em casa naquele momento e tudo que eu precisava era abraçar alguém. Eu não era de gritar, não costumava extrapolar e debater com alguém, muito menos com a minha irmã. Mas, quando isso acontecia, logo me sentia mal. Sentia que não era eu, que aquilo não me ajudaria em nada. Eu não gostava de gritar, então, quando isso acontecia, sentia que não estava sendo fiel a mim mesma.

Meus lábios se contraíram, meus olhos começaram a arder e eu queria muito pular nos braços de alguém e ficar. 

Abri a porta da sala no intuito de permitir que o ar gelado me atingisse na varanda, porém, Axel estava parado em frente sua moto do outro lado da calçada. Seus braços cruzados, corpo apoiado na porta e gorro na cabeça. Ele estava olhando para mim. 

Respirei fundo me lembrando que ele havia me avisado que passaria ali e saí da varanda. O vento gelado me atingiu jogando meus cabelos para trás. Minha respiração produzia um pequeno vapor no ar, meu nariz estava com a ponta vermelha e uma lágrima não permaneceu escondida em meus olhos. 

Eu não pensei no que estava fazendo, só fiz.

Cheguei até Axel que me observava com um sorriso de canto, contudo, o mesmo foi se desmanchando a medida que ele percebia o meu choro. O semblante de Axel mudou para um preocupado e ele se desencostou da moto.

Meu coração acelerou a medida que me aproximei dele. Não era o meu pai, mas ainda era uma saída... Era um abraço que eu precisava.

ㅡ O que fo... ㅡ Axel parou sua pergunta quando sentiu meus braços o rodearem e o apertarem num abraço.

O vazio instalado em meu peito por minha
Irmã e por minha mãe criou um buraco que aquele abraço começou a tapar.

Meus braços apertaram Axel e minha cabeça tocou o seu peito. Meus olhos se fecharam instantaneamente quando meus ouvidos detectaram as batidas aceleradas do coração dele.

Axel, por uns segundos, não retribuiu o abraço. Ele ficou ali, parado, literalmente como uma estátua. Seus braços não se moveram um centímetro para me tocar.

Continuei o apertando a medida que meu minha respiração voltava ao normal até perceber que ele não havia me abraçado. Senti que estava invadindo o espaço dele sem nem ao menos ter a sua permissão e me afastei.

Observei seu rosto ainda com lágrimas molhando minha bochecha e o vi com os olhos arregalados. Axel parecia assustado ou, eu não sei... Como se não abraçasse ninguém há muito tempo.

Ele focou seu olhar em mim e eu engoli em seco pronta para pedir desculpas.

ㅡ Eu sinto mui... ㅡ Dessa vez, eu quem fui interrompida.

Axel deu um passo a frente e puxou-me para ele. Seus braços me rodearam enquanto sua mão tocava a parte de trás da minha cabeça, fazendo-me encostar em seu peito.

Ele me abraçou de uma forma tão apertada e confortável que eu não quis sair sali. Inspirei fundo sentindo o cheiro de seu perfume, passei meus braços ao redor dele e fechei os meus olhos.

Eu não sabia como... Mas foi como uma terapia.

•••
Continua...

Um Clichê de Última Hora - DEGUSTAÇÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora