IV. Garoto Suicida

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E como esperado, de fato passaram-se algumas semanas de conversa e risadas altas, as enfermeiras eram ficavam até mesmo assustadas ao ver garotos com personalidades tão opostas se dando bem rapidamente, logo tendo isso como assunto principal em seus intervalos repletos de fofocas no hospital.
A rotina dos dois era sempre a mesma mas por mais inacreditável, nunca enjoativa. Acordavam com os funcionários servindo-os com comidas melosas e gororobas estranhas porém de certa forma saborosas,logo contavam histórias um para o outro que haviam acontecido em sua infância ou na sua família. Planejavam o que fariam ao sair dali, mesmo tendo como uma noção de que não era possível realizar tal desejo.

Frequentemente, a avó de Saihara o visitava no mínimo uma vez por semana apenas para saber se estava bem com a falta da mãe e com o tratamento hospitalar, adorava conversar com a bondosa velhinha que sempre se perguntava o motivo de nunca ter visto ninguém com o seu colega ou sequer perguntar como ao menos estava o pálido garoto.

Shuichi sabia que o câncer dele teria origem após depender por muito tempo do cigarro, mas também teria o conhecimento que Ouma já tinha parado faz cerca de seis meses e estava orgulhoso de si mesmo por isso,mas mentia sobre ter superado esse vício de longa data, já que o era sempre entupido de remédios após crises de raiva por necessitar da nicotina novamente.
Eventualmente, as crises do garoto ficavam piores, além de gritar e arranhar as enfermeiras ao tentar se soltar delas para evitar remédios, começou à tentar se machucar, sempre pego com o garfo usado para se alimentar perfurando suas coxas ou pescoço, o mesmo também passou à sumir várias vezes por ser encaminhado à emergência ao tentar suicídio sempre que deixado sozinho.
E claro que não era apenas a abstinência, era o seu passado corrompido que o deixava completamente enfurecido com tais acontecimentos trágicos à longo tempo. Saihara pesquisou tanto em livros que eram postos para entreter pacientes apenas para acabar com sua enorme curiosidade pelo garoto estranho, que revelava seus segredos mais assustadores e deprimentes ao resmungar enquanto estava sob efeitos de medicamentos extra fortes para controlar sua raiva, mas que forneciam à Shuichi baixas risadas de vez em quando pelo jeito que o garoto reclamava.

E como um dia comum, pelo menos naquele lugar, Ouma havia sumido do quarto de novo, dessa vez ele de alguma forma conseguiu pegar remédios para dormir em grande quantidade tendo sido visto engolindo vários de uma vez durante a noite.
Shuichi se sentia tão culpado por não fazer nada para ajudá-lo, ele sabia que não demoraria muito tempo para ele apenas sumir e não voltar. O garoto pensava nele o dia todo quando estava fora, com medo de realmente perder seu único amigo que já havia feito.
Ao ouvir as enfermeiras saírem depois de deixar Ouma ali novamente e ter arrumado seu equipamento respiratório no lugar, se virou vendo o mesmo sorriso torto no rosto de Kokichi.
- Sentiu minha falta Shushu? - O mesmo perguntou em um tom calmo que sempre assustava Saihara em situações como essa.
- Não, eu só fiquei entediado por que só tem você aqui nessa sala. - Respondeu sorrindo de volta, o que fez com que Ouma soltasse uma leve risada nasal.
Após isso, suspirou desmanchando a expressão alegre em seu rosto algo que raramente acontecia.
- Você sabe que eu não vou durar muito, né? - Enfim disse, aquelas palavras quebravam seu coração, não pelo seu tom sereno em dizer simplesmente isso, mas por saber que é verdade. Saihara não foi capaz de responder ou pelo menos esboçar qualquer expressão, ele estava horrivelmente abalado, completamente furioso e principalmente perdido, ele não sabia o que fazer.
Sendo assim virou de costas para o garoto e apenas fechou os olhos tentando esquecer de tais palavras tão dolorosas.

Cartas de Hospital - Saiouma/OumasaiOnde histórias criam vida. Descubra agora