Capítulo 25

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— Hannah, estou trabalhando agora com um cliente que tem um projeto, mas ele precisa de um arquiteto, nenhum dos nossos arquitetos o agradou. — Tyler revira os olhos. — Ele precisa de alguém que vai saber lidar com ele, e eu achei que você seria ótima. Então, estava pensando em te apresentar para ele — ele diz.

Essa é a primeira oportunidade de emprego que aparece desde que fui demitida e não há notícia melhor que essa.

— Claro! Desde que ele não tente me assediar e colocar a culpa em mim. — Eu reviro meus olhos.

Miles olha para mim e franze o cenho, mas segundos depois volta ao normal. E ele ainda está olhando para mim e algo no seu olhar me diz que ele está se questionando sobre o que falei.

— Se ele fizer isso, eu vou tratar desse assunto com ele pessoalmente — Tyler diz com o tom de voz firme e sério. — Mas ele é uma pessoa legal. Só precisa de alguém que tenha um certo estilo que combine com os planos dele. E você é perfeita.

— Obrigada, Ty — agradeço tentando acalmar o meu entusiasmo.

Não posso ficar tão entusiasmada agora, pois não é garantido de que ele vai gostar de mim e das minhas ideias.

— Isso significa que você vai ter que ficar em São Francisco — Jess adverte.

E ficar mais tempo em São Francisco significa ficar mais tempo com Miles. E isso significa que o nosso "arranjo" vai continuar. Eu acho.

Miles ainda não disse uma palavra desde que essa conversa iniciou. Eu só tenho curiosidade para saber o que está passando pela sua cabeça. Ele estava mais animado antes dessa conversa.

Seu humor muda muito rapidamente. Ele é muito temperamental.

— Isso é tão ótimo! Vou ter a minha cunhada aqui por mais tempo — Jess afirma e me abraça toda animada.

Por um lado, vai ser ótimo estar aqui perto de Jess e Tyler. E também eu amo essa vida que tenho hoje aqui em São Francisco, apesar de que por enquanto são apenas umas férias.

Por outro lado, tem Miles... Eu adoro o que temos, eu adoro morar com ele e vê-lo todos os dias. Mas ao mesmo tempo eu tenho medo do rumo que as coisas podem tomar, sobretudo pelo fato de ele não querer qualquer tipo de relacionamento.

O meu plano inicial era fazer isso e voltar para casa e eu não teria que o ver tão já. Desse jeito, as coisas não seriam estranhas e nenhum de nós ficaria constrangido ou algo do tipo.

Mas se eu ficar aqui, as coisas podem ser complicadas. Primeiro, eu não sei se vou conseguir continuar fazendo isso sem desenvolver sentimentos por ele. Segundo, se esse "arranjo" terminar, as coisas vão de certeza ser constrangedoras.

A nossa comida chega e Tyler e Jess se envolvem numa conversa sobre a mesma.

Olho para Miles que está sentado de frente para mim e ele olha discretamente para mim, não fazendo contato visual por mais de três segundos.

A possibilidade de eu continuar em São Francisco e perto de Miles me deixou animada, apesar dos apesares.

Eu levanto o meu pé e passo pela sua perna. Miles sorri por alguns segundos e volta a sua expressão normal e responde a uma pergunta aleatória que Tyler fez. É impressionante como ele consegue esconder suas reações e emoções. Queria ter essa capacidade também.

Segundos depois eu paro de o provocar e me concentro na minha comida. Me senti um pouco constrangida por não ser correspondida de alguma forma, mas eu percebo que não é o momento para isso.

***

— Nós temos um problema e precisamos de ajuda — Jess afirma enquanto esperamos pela nossa vez na fila do cinema para comprar nossos aperitivos.

Sua afirmação me deixa um pouco preocupada, mas seu tom de voz parece revelar que não é nada sério.

— Lá vamos nós — Tyler diz e revira os olhos.

Eu quero rir pela forma como Tyler falou, mas eu estou confusa demais nesse momento e curiosa para saber qual é o suposto problema que eles precisam da nossa ajuda.

— Vocês são os nossos padrinhos e acho que as únicas pessoas que podem nos ajudar — Jess acrescenta me deixando ainda mais curiosa.

Miles como sempre está calmo e quieto, mas também esperando para escutar o suposto problema.

— Bom, eu amo pipoca doce e odeio salgada. E acontece que o Senhor Collins aqui odeia pipoca doce.

Eu olho para Tyler com o cenho franzido e confusa por essa revelação.

Desde quando Tyler odeio pipoca doce?

E quem é que odeia pipoca doce ou pipoca salgada? Eu concordo que alguém pode preferir uma em relação a outra, até aí tudo bem, mas odiar... Odiar é um nível extremo.

E eu não sabia que meu irmão odiava pipoca doce. Eu sabia que ele estava fazendo uma pausa de uns bons anos porque uma vez ele comeu tanta pipoca doce que acabou passando mal quando éramos pequenos.

Desde então que ele não tem comido pipoca doce. Mas eu achava que era só por conta dessa má experiência e que ele precisava ficar sem comer pipoca doce por algum tempo, não sabia que ele odiava.

— E isso é algo partilhável, principalmente para casais. Desse jeito a gente não pode partilhar — completa.

Eu solto uma pequena risada porque sinceramente, eu achava que era algo mais sério, mas era somente isso. Jess consegue ser dramática às vezes.

Eu tenho uma simples solução para isso.

— É... complicado — Miles comenta e noto algum humor em suas palavras. Ele também está achando graça disso. Pela primeira vez depois daquela conversa seu bom humor parece estar voltando.

Tyler, por outro lado, parece nem estar interessado na conversa. Eu assumo que ele não tenha contado para Jess sobre essa sua experiência já que ela parece estar muito incomodada com essa discordância de gostos deles.

— Eu tenho a solução. Já que não podem partilhar, nenhum dos dois come pipoca. Simples — eu digo em tom brincalhão.

Miles levanta sua mão e eu entendo logo o que devo fazer e bato nela com alguma força, mas ele é tão forte que nem treme.

Pela primeira vez nós estamos nos divertindo. Bom, nós nos divertimos sim, mas de outra forma. Essa forma de diversão agora foi diferente, foi realmente diversão. Isso me deixa feliz. Muito feliz.

Miles e eu rimos e Jess apenas revira seus olhos. Tyler também ri.

— Obrigada. Vocês são ótimos padrinhos — ela diz sarcasticamente, mas nota-se que ela achou graça disso também.

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