Capítulo 4

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Eu abro meus olhos e olho diretamente para a janela depois de coçá-los cuidadosamente. Já é de manhã e meu alarme ainda não tocou.

Olho ao redor e não reconheço o espaço até que me lembro que não estou em meu quarto em Seattle e sim em casa de um desconhecido em São Francisco. Soa tão esquisito falar isso, mas é literalmente verdade. Talvez seja por isso que acordei tão cedo, por não estar na minha cama, no meu quarto.

Eu pego meu celular e a primeira imagem que a tela me mostra contém o horário neste momento. São sete e meia da manhã. É muito cedo ainda, mas eu decido levantar. Escovo meus dentes, lavo meu rosto, faço o meu skincare e caminho para a cozinha.

Tyler não pôde vir ontem porque acabou saindo muito tarde do trabalho. Já que ele vai estar fora por uns tempos em lua de mel, ele tem tentado agilizar algum trabalho lá na empresa.

Me assusto ao encontrar Miles sentado na bancada. Mas me sinto aliviada que ele esteja sentado de costas para mim, assim ele não percebe o pequeno susto que tomei.

Ele está de terno cinza claro e o cabelo organizado. Miles come alguma coisa que não consigo ver. Apenas visualizo uma caixa rosinha ao seu lado e um saco com pães espreitando dele. Eu me aproximo e vou diretamente até a geladeira.

— Bom dia, Hannah.

Ele come sua torrada com queijo por cima e toma um gole de café. Hoje ele parece estar com uma boa disposição.

E pelo que vejo ele sabe se cuidar.

— Bom dia, Miles.

— Trouxe pão e alguns bolos pra você — ele diz olhando para a caixa ao seu lado que eu já tinha visualizado.

Ele trouxe coisas para eu comer? Ele está sendo simpático? Mas eu não sei se sua simpatia é uma característica sua. Não sei se ele está sendo simpático com a irmã do seu amigo ou se Tyler o pediu para fazer esse favor. Porque até ontem eu podia achar tudo dele menos simpático.

Ele é tão misterioso e quieto que não consigo decifrar nada de sua personalidade. De qualquer forma, agradeço por esse esforço.

— Obrigada.

Eu não sei porque existe alguma tensão entre nós ou porque me sinto frustrada pela sua falta de bom humor e o facto de eu não conseguir decifrá-lo, mas estar ao seu lado me deixa incomodada. Talvez seja pelo fato de ele ter me visto somente de toalha.

Eu sirvo café para mim numa chávena e me sento ao seu lado, deixando um banco de distância entre nós como sempre.

Abro a caixa e fico deslumbrada com a variedade de bolos que contém dentro dela e só para melhorar, a maioria são bolos que eu amo.  Foi só coincidência ou ele sabia?

— Estou saindo — ele diz pegando na sua pasta de couro preta.

Antes de ele sair ele se vira para mim enquanto segura a maçaneta da porta.

— Se quiser pode tomar banho no meu banheiro — ele sugere e fecha a porta. A forma como ele disse "meu banheiro" foi tão possessiva.

Eu realmente não entendo seu sentido de humor. Eu não sei se isso foi uma sugestão ou uma zoação. De qualquer forma ele foi um idiota ao fazer esse comentário.

Idiota, idiota, idiota!

***

Meu celular é a única companhia que tenho e continuará sendo por mais três horas até Jess vir me buscar para ajudá-la com os preparativos do casamento.

Verifico minhas mensagens e vejo algumas que ainda não abri, as três que minha mãe deixou ontem e uma de Tyler. Opto por abrir a do Tyler, prefiro evitar dramas logo pela manhã. Na verdade, prefiro evitar dramas a qualquer momento, já que desde ontem que não respondo as mensagens da minha mãe.

Ty: Hannah, está tudo bem por aí? Precisando de alguma coisa? Nos vemos na hora do almoço.

Meu irmão, sempre tão atencioso comigo.

Desde que cheguei de viagem ainda não o vi, esperava que fosse a primeira pessoa que veria aqui em São Francisco, mas não foi o que aconteceu. Estou morrendo de saudades dele e só quero abraçá-lo bem forte.

Verifico se tem alguma notificação de Dylan e nada. Desde que eu cheguei a São Francisco não tive qualquer notícia dele. Na verdade, desde que ele viajou que não tenho notícias dele. Me sinto desapontada e ao mesmo tempo preocupada com isso.

***

Jess chega e me liga avisando para eu descer. Eu pego minha bolsa e tranco a porta do apartamento. Seu SUV vermelho está estacionado mesmo em frente ao prédio. A primeira coisa que ela faz é me envolver num abraço apertado quando entro em seu carro.

— Hannah!!! Meu Deus, que saudades! Seu cabelo está lindo!

— Eu deixei ele crescer — justifico. — Estava morrendo de saudades suas também — acrescento. — Então, me conta como estão as coisas.

— Péssimas!! A minha organizadora está me deixando loucaaa! — ela afirma em desespero. — Ela está contrariando todas as minhas decisões, está parecendo que o casamento é dela! Começo a achar que ela tem um fraquinho pelo Ty e quer arruinar o casamento.

Ela faz mais reclamações da sua organizadora me contando todos seus desentendimentos com ela. Eu apenas rio dessa situação. Como uma organizadora pode contrariar os desejos da noiva? Dar sugestões é uma coisa, agora querer mudar completamente as coisas é outra. Mas essa situação é engraçada. Talvez Jess tenha razão. Talvez a organizadora tenha um fraquinho pelo meu irmão. Isso me faz rir ainda mais.

Jess me conta que entregou uma lista a sua organizadora com todas as coisas que Jess vai tratar pessoalmente e é com isso que ela precisa de ajuda.

E hoje começaremos por escolher as flores para a decoração e vamos provar alguns bolos para escolher um para a festa. Jess está tão atrasada nos preparativos por conta dos desentendimentos com a organizadora que teremos que fazer tudo o mais rápido possível porque hoje é terça-feira e o casamento é no sábado.

Jess nos leva a uma floricultura enorme que acredito que tenha quase todos os tipos de flores que existem. O cheiro é uma mistura de vários perfumes. Parece um paraíso.

— Rosas vermelhas — Jess diz para o moço que vem para perto nos ajudar.

— Nós viemos aqui para escolher ou para fazer a encomenda já? — eu pergunto em tom brincalhão para Jess. — Tem tantas flores maravilhosas aqui.

— Hannah, meu sonho é ter o meu casamento cheio de rosas vermelhas — ela diz deslumbrada como se já tivesse tudo desenhado em sua mente, o que provavelmente seja verdade.

— Não quer ver mais algumas para ter uma mistura. Eu acho que ficaria bonito — sugiro.

— Sua amiga tem razão — o floricultor diz, abrindo um sorriso para mim quando olho para ele.

Por favor, pare de flertar comigo. Você é muito bonito sim, mas eu não estou interessada.

— Tudo bem. O que você sugere? — ela pergunta para o moço que não tira os olhos de mim.

— Bom, temos tulipas vermelhas se você não quiser tirar a atenção do vermelho. Mas também poderia incluir alguns cravos para criar um pouco de contraste.

Sua resposta exibe sua enorme sabedoria sobre flores.

— Se fosse a minha organizadora, ela estaria me fazendo mudar para orquídeas. — Jess revira seus olhos e eu rio. — Obrigada, vou optar pelas duas sugestões.

Jess trata da encomenda enquanto eu aprecio ao redor.

No meu casamento eu quero margaridas. Não sei porque, mas margaridas me trazem um conforto e uma alegria que não consigo explicar. É uma flor que me lembra o verão, praia, tudo que eu amo.

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