Capítulo 42

427 21 2
                                    

Eu subo as escadas da entrada principal do prédio rapidamente e luto por alguns segundos para abrir a porta.

— Droga! — eu resmungo quando os meus sapatos começam a deslizar no chão enquanto eu empurro a porta.

Malditos sapatos! Maldita porta!

Felizmente eu consigo abri-la sem causar uma cena no meio do térreo.

— Boa noite, Hannah! — Jay diz todo animado e eu sorrio para ele. — Não te vejo faz alguns dias. Está tudo bem? — ele pergunta preocupado.

— Vai ficar — eu forço um sorriso para ele e encosto na bancada de mármore que esconde Jay do outro lado.

Estar aqui nesse prédio sabendo que vou estar apenas a alguns metros de distância de Miles me faz pensar nele constantemente. Eu só penso nele desde que passei por aquela porta.

Mentira. Eu tenho pensado nele durante todos esses dias que não o vi.

Eu nem sei se ele está em casa. E essa incerteza me inquieta.

— Espero que não seja o menino que esteja a deixando triste — ele comenta.

Menino. Essa palavra me faz rir.

Mas infelizmente é por causa do menino que estou triste.

— Tyler está aí? — eu pergunto mudando completamente de assunto.

— Chegou há pouco.

— Tá bom. Obrigada, Jay — eu digo sorridente.

— Disponha.

Eu desencosto da bancada gelada e me equilibro para caminhar em direção aos elevadores.

Subo imaginando um cenário em que Miles e eu nos esbarramos quando as portas se abrem. Isso parece uma cena de filme. Eu sou uma idiota.

Quando chego no piso do Tyler eu saio imediatamente do elevador e paro observando o vasto corredor. Eu olho para a porta do Tyler há alguns passos de mim e então olho para a porta do Miles lá no fundo.

Quais as chances de ele sair por aquela porta e se cruzar comigo aqui? As possibilidades são duas, então as chances disso acontecer são de cinquenta por cento para cada uma.

Eu sou mesmo idiota!

Sacudo a minha cabeça afastando qualquer pensamento quando a campainha do elevador toca. Eu me viro rapidamente e meu coração começa a pular no meu peito. Um sorriso se forma no meu rosto, mas imediatamente se desfaz quando vejo um homem desconhecido sair do elevador.

O senhor me cumprimenta quando passa por mim e eu cumprimento de volta.

Eu sou um caso perdido. Mesmo Miles tendo me machucado muito meu peito ainda se aquece e me coração se anima quando penso que vou vê-lo.

Solto um longo e profundo suspiro e caminho para a porta do Tyler.

— Hannah! — Jess diz animada quando abre a porta e me vê. — Entra, vai.

Eu entro e avisto um Tyler sentado no sofá e ele está sério. Fico feliz que ele não esteja zangado ou irritado, aparentemente.

Jess olha de mim para Tyler e permanece calada.

— Nós precisamos conversar — eu digo olhando para Tyler.

— Erh... Eu vou tomar um banho e deixar vocês à sós — Jess afirma e sai logo da sala. Ela nem tenta disfarçar porque ela sabe que realmente precisamos conversar.

Eu observo Tyler sentado no sofá, ele está inclinado para frente e concentrado na televisão. Ele está tenso agora.

— Tyler, você... — Eu tento falar e ele me interrompe imediatamente.

— Não venha falar que eu não tive razão, que a minha reação foi demais... — Dessa vez eu o interrompo.

— Você não precisava bater nele!

Tyler suspira, desliga a televisão e se levanta do sofá vindo em minha direção. Ele está furioso agora.

— Você não está no meu lugar, Hannah! Então, não venha me dizer o que eu devia ou não ter feito porque você não entende!

Tyler se vira e passa as mãos pelo cabelo.

— Quantas garotas você ficou que tinham um irmão e no fim você nunca mais ligou para elas?

— Isso é golpe baixo — ele diz sorrindo irritado e abanando a cabeça.

— Então não venha com essa justificativa de irmão protetor!

Ele me observa atentamente e abaixa a cabeça sacudindo-a. Tyler sabe que em alguma parte dessa história ele está errado, mas por ser esse irmão super protetor ele não admite.

— Uma regra. Uma regra só que nós tínhamos, Hannah — ele diz e seu tom de voz agora é baixo. — Para evitar situações como essa.

— Nós não somos mais crianças, Tyler. Essa regra é estúpida!

— Não é estúpida quando se trata do meu amigo comendo a minha irmã! — ele grita.

Ele não está irritado comigo. Ele está irritado com Miles, porque quando ele fala do Miles suas palavras deixam isso claro. Mas ele devia estar irritado comigo porque eu permiti que isso acontecesse e a regra era nossa e não dele e do Miles.

— E vocês mentiram para mim — ele acrescenta, dessa vez mais calmo. — Esconderam isso de mim esse tempo todo. Me fizeram de idiota.

— Queria que eu te contasse? "Ah, Tyler, eu e seu melhor amigo estamos transando e tá sendo muito bom" — eu digo com sarcasmo e Tyler faz uma careta. — Nem para a Jess eu contei!

Tyler suspira várias vezes antes de falar. Ele é teimoso demais para admitir que errou e que ele está exagerando. Não adianta.

— Eu confiei nele. — Tyler aperta seus olhos. — Aquele soco não foi nada comparado ao que ele fez comigo.

Tyler está fazendo essa história toda ser sobre Miles e está colocando a culpa toda sobre ele, ignorando o fato de que eu também tenho culpa porque eu tinha o poder de impedir isso, mas não o fiz. E não o fiz porque eu também queria e estava completamente ciente das consequências que teria que lidar.

Ele está desapontado, eu entendo, mas ele também devia tentar entender minimamente o outro lado da história. Ele está apenas focado no que viu e nos vários cenários que ele está criando na cabeça dele, e não no que realmente aconteceu.

Eu entendo o lado dele, mas ele podia se acalmar porque eu também saí machucada dessa história toda e ele nem sabe disso. Ele sequer saber que eu estou apaixonada por Miles, e talvez seja melhor assim.

Eu tomo um longo suspiro e enxugo uma lágrima que rola pela minha bochecha. Eu odeio brigar com o meu irmão. Nós sempre fomos melhores amigos e estar brigada com ele é uma das piores sensações.

Infelizmente ele não está facilitando e não há mais nada que eu possa fazer.

— Tudo bem, Tyler. Faça o que você quiser.

Eu pego a minha bolsa do meu lado no sofá e caminho até a porta.

— E não precisa ficar preocupado porque não vai acontecer mais nada entre Miles e eu. Dessa vez eu garanto.

Eu abro a porta e saio. Tyler nem tenta me impedir, ele está firme nas suas convicções.

Quando saio do prédio eu vejo o carro do Miles passando em frente ao prédio em direção ao estacionamento. A luz laranja do seu lado direito está piscando e eu tento observá-lo dentro do carro, mas está muito escuro. E eu me lembro que seus vidros são escuros também.

Eu desço as escadas e paro próximo à berma da estrada, esperando um táxi passar. Se bem que já passaram dois e eu ignorei-os, então isso é só para justificar o fato de eu estar esperando Miles sair de lá.

Eu escutei Jay falando com uns homens sobre algum problema com o elevador do estacionamento e eles também encerraram as escadas, então eu sei que Miles terá que dar a volta e entrar pela entrada principal.

Alguns minutos depois eu vejo Miles saindo do estacionamento e logo em seguida uma mulher ao seu lado.

Eu não posso acreditar.

Devia ter entrado no primeiro táxi que passou.

LoverOnde histórias criam vida. Descubra agora