Capítulo 63

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Giro pela nona vez para o outro lado do sofá, tentando pegar no sono. Já passaram algumas horas e Miles ainda não voltou.

Eventualmente, eu ganhei forças e levantei do chão, porém tudo que consegui fazer foi caminhar até o sofá e me cobrir com o pequeno cobertor que tinha do lado.

Essa foi a primeira briga que nós tivemos e foi muito pior do que eu podia imaginar.

A minha cabeça dói de tanto pensar e tanto chorar. Eu estou tentando me manter calma, mas eu estou numa mistura de emoções. Eu não sei se pego as minhas coisas e vou embora ou se fico aqui.

Eu quero chamar Jess para vir ficar comigo e me dizer o que fazer, mas eu não quero que ela me veja nesse estado.

Olho para o espaço vazio e tudo o resta é o silêncio do apartamento. Me aconchego melhor no sofá e finalmente consigo adormecer.

Desperto com um movimento no sofá próximo a minha barriga. Eu forço os meus olhos a abrirem e me deparo com Miles sentado perto de mim.

— Miles — eu digo, ainda me orientando.

Quando abro os olhos por completo eu visualizo o rosto do Miles e ele está com um sorriso fraco. Os meus olhos ainda estão embaçados.

Depois de demorados segundos ele finalmente decide falar.

— Eu traí ela — ele diz simplesmente. — Eu a amava e eu traí ela.

Como assim?

A curiosidade despertada em mim me faz acordar completamente e levantar para ficar sentada de frente para ele.

Miles ri sarcasticamente antes de continuar.

— É engraçado. — Ele ri novamente. — Eu achava que ela é que estava me traíndo e para me vingar eu fui fazer o mesmo.

Se eu estava numa mistura de emoções antes, nesse momento eu não sei mais o que está acontecendo comigo. Eu não tenho nenhuma reação.

— Eu estraguei tudo o que tínhamos — ele fala com remorso. — E eu não devia te culpar por tentar fazer o mesmo comigo.

— Eu não estava tentando me vingar de você, Miles. — Ele levanta seus olhos para mim. — Eu só estava conversando com o Liam. E ele sabe que eu não quero nada com ele.

Miles abaixa a cabeça e eu escuto um suspiro sair da sua boca. Pela primeira vez em um par de dias eu consigo perceber o que ele está sentido. Ele está magoado, preocupado e com remorsos, revivendo cada momento do que ele acabou de me contar.

E eu provavelmente deveria estar horrorizada com o que ele me disse, mas eu conheço o Miles o suficiente para dizer que ele não é mais aquele cara que fez uma coisa dessas. E o fato de ele estar aqui me contando isso, só valida ainda mais esse pensamento.

Posso até estar um pouquinho incomodada com isso, mas está tudo bem.

E agora eu entendo porquê ele não queria se comprometer comigo. Ele tinha medo. Ele ainda tem medo.

— Se você não quiser mais ficar comigo, tudo bem, eu vou entender. Eu não sou alguém que você pode confiar — ele diz e logo em seguida apercebo-me de que ele se arrependeu daquelas palavras.

— Miles. — Inicio. Seguro seu rosto com as duas mãos para levantá-lo até mim. — Eu estou aqui e vou continuar aqui.

Sinto-o inspirar e expirar tão profundamente exalando alívio. Porém, ele ainda está tenso.

Miles segura as minhas mãos e redireciona-as aos seus ombros, enquanto as suas seguram o meu rosto e me puxam para ele. O beijo que ele me dá é, definitivamente o mais intenso que ele já me deu, com todas as suas emoções expostas à mim.

Quando ele se afasta, ambos estamos ofegantes e levamos alguns segundos para recuperar. Nós estamos numa bolha de emoções agora.

Miles está tão vulnerável que eu sinto que qualquer coisa que eu disser vai deixá-lo feliz ou vai magoá-lo.

— Eu só acho que... — eu faço uma pausa tentando pensar rapidamente se eu devia dizer isso. — Eu acho que você tem assuntos inacabados.

Miles ajusta sua postura e franze a testa.

— O que você quer dizer? — ele pergunta.

— Você tem guardado isso por muito tempo. E claramente você não superou isso — explico.

— Eu fiz uma grande merda, Hannah. — Ele levanta-se. — Isso não é algo que se esqueça.

Miles vai até a cozinha e abre a geladeira, mas não tira nada de dentro dele, ele apenas limita-se a olhar. É um hábito seu quando algo o incomoda.

Eu levanto do sofá, faço o mesmo caminho que Miles fez até a cozinha e paro ao lado dele.

— Você devia procurá-la — eu digo impulsivamente.

O que eu estou fazendo?!

— O quê? Procurá-la? — Ele finalmente fecha a porta da geladeira e me encara com um olhar caótico. — E dizer o quê?

— Eu não sei — digo depois de algum tempo. — Eu só acho que para você seguir em frente você precisa do perdão dela.

Miles passa a as mãos pelo cabelo e sacode-o de seguida, deixando-o bagunçado. Ele respira fundo e passa por mim, indo embora. Ele está tenso. Eu sabia que qualquer coisa que eu dissesse iria ter um grande impacto nele.

— Eu preciso de um banho — ele diz e desaparece logo em seguida.

E novamente ele foi embora. É isso que ele sempre faz, ele vai embora.

Talvez eu deveria ter pegado nas minhas coisas e ido embora. Talvez eu ainda vá a tempo de fazer isso.

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