Capítulo 8

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- Estás a ficar avózinha, princesa.

A forma como me chama, utiliza o mesmo apelido carinhoso que o meu pai mas vindo dele é apenas... irritante.

- E tu estás a ficar cada vez mais irritante. - dou um sorriso forçado. - Já viste? Só pontos a favor para cada um de nós. - reviro os olhos.

A sua expressão fica séria e o semblante passa a interrogativo enquanto me examina detalhadamente e com atenção, o que me deixa desconfortável.

- Estiveste a chorar?

As suas sobrancelhas juntam-se numa expressão um pouco preocupada, mas deve ser apenas da minha imaginação.

- Ohh, e eu lá faço disso! - nego com a cabeça e limpo a garganta quando ele me encara com o famoso olhar penetrante. Mas que merda!

- Claramente estiveste, génia. Tens a cara inchada e os olhos vermelhos. - diz com o tom forte, espantando-me. - Talvez seja melhor limpares esse ranho.

Diz escarnioso enquanto retira do bolso do casaco um lenço de papel e me-o oferece.

- Ohh, não preciso da tua falsa generosidade. - recuo um pouco. - Capaz de isso me fazer cair desmaiada no chão.

- Poderias calar a boca durante cinco minutos e aceitar esta porcaria? - ele dá um passo em frente e eu recuo.

- Wow, então? Distância, por favor! - levanto um pouco a mão e ele pára no lugar.

- Então pega nisto, antes que eu te limpe o nariz. - ameaça.

- Adoraria ver-te tentar.

Desafio e ele tenta-se aproximar outra vez.
Pego na porcaria do lenço e abro-o.

- Seria demasiado mau se alguém te visse entrar ali com o nariz a pingar. - ele diz enquanto devolve as mãos aos bolsos do casaco e o fuzilo com o olhar.

Assoo o nariz ao papel e espero uns segundos para ver se algo me acontece mas fico perfeitamente sóbria e sem quaisquer indícios de que posso desmaiar num dos segundos mais próximos.

Ele encara-me com uma expressão de superioridade, como se dissesse que aquilo não me iria, de todo, fazer mal.

- Não preciso que cuidem de mim. - dou um sorriso falso.

- Não estou aqui para fazer papel de teu papá, tenho mais que fazer. - ele revira os olhos. - Mas seria considerado um anti-cavalheiro se deixasse uma senhora assim. - ele troça de mim.

- E achas que eu me importo? - resmungo.

- Até podiam pensar que és uma daquelas hippies que se importa com a natureza e que começou a chorar porque ouviu os passarinhos. - ele não contém a frase.

- Iriam acreditar nisso tanto quanto eu acredito no Pai Natal.

Resmungo enquanto enrolo o papel e o coloco no caixote do lixo ali ao pé.

- Nesse caso... - ele retira a mão do casaco e puxa do bolso das calças uma pequena caixinha e estende-a para mim. - Feliz «Aniversário» do Grinch. - ele faz o trocadilho com a frase e eu encaro desconfiada a sua mão.

- O que é isso? - franzo as sobrancelhas enquanto olho para aquilo.

- Abre.

Desconfiada, pego na caixinha e abro-a com cuidado. Conhecendo o Ethan como conheço, capaz de estar aqui algum bicho morto ou um daqueles palhacinhos assustadores que vêm com uma mola e que pulam da caixa assim que a abrimos.

Jogada do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora