- Estás a ficar avózinha, princesa.
A forma como me chama, utiliza o mesmo apelido carinhoso que o meu pai mas vindo dele é apenas... irritante.
- E tu estás a ficar cada vez mais irritante. - dou um sorriso forçado. - Já viste? Só pontos a favor para cada um de nós. - reviro os olhos.
A sua expressão fica séria e o semblante passa a interrogativo enquanto me examina detalhadamente e com atenção, o que me deixa desconfortável.
- Estiveste a chorar?
As suas sobrancelhas juntam-se numa expressão um pouco preocupada, mas deve ser apenas da minha imaginação.
- Ohh, e eu lá faço disso! - nego com a cabeça e limpo a garganta quando ele me encara com o famoso olhar penetrante. Mas que merda!
- Claramente estiveste, génia. Tens a cara inchada e os olhos vermelhos. - diz com o tom forte, espantando-me. - Talvez seja melhor limpares esse ranho.
Diz escarnioso enquanto retira do bolso do casaco um lenço de papel e me-o oferece.
- Ohh, não preciso da tua falsa generosidade. - recuo um pouco. - Capaz de isso me fazer cair desmaiada no chão.
- Poderias calar a boca durante cinco minutos e aceitar esta porcaria? - ele dá um passo em frente e eu recuo.
- Wow, então? Distância, por favor! - levanto um pouco a mão e ele pára no lugar.
- Então pega nisto, antes que eu te limpe o nariz. - ameaça.
- Adoraria ver-te tentar.
Desafio e ele tenta-se aproximar outra vez.
Pego na porcaria do lenço e abro-o.- Seria demasiado mau se alguém te visse entrar ali com o nariz a pingar. - ele diz enquanto devolve as mãos aos bolsos do casaco e o fuzilo com o olhar.
Assoo o nariz ao papel e espero uns segundos para ver se algo me acontece mas fico perfeitamente sóbria e sem quaisquer indícios de que posso desmaiar num dos segundos mais próximos.
Ele encara-me com uma expressão de superioridade, como se dissesse que aquilo não me iria, de todo, fazer mal.
- Não preciso que cuidem de mim. - dou um sorriso falso.
- Não estou aqui para fazer papel de teu papá, tenho mais que fazer. - ele revira os olhos. - Mas seria considerado um anti-cavalheiro se deixasse uma senhora assim. - ele troça de mim.
- E achas que eu me importo? - resmungo.
- Até podiam pensar que és uma daquelas hippies que se importa com a natureza e que começou a chorar porque ouviu os passarinhos. - ele não contém a frase.
- Iriam acreditar nisso tanto quanto eu acredito no Pai Natal.
Resmungo enquanto enrolo o papel e o coloco no caixote do lixo ali ao pé.
- Nesse caso... - ele retira a mão do casaco e puxa do bolso das calças uma pequena caixinha e estende-a para mim. - Feliz «Aniversário» do Grinch. - ele faz o trocadilho com a frase e eu encaro desconfiada a sua mão.
- O que é isso? - franzo as sobrancelhas enquanto olho para aquilo.
- Abre.
Desconfiada, pego na caixinha e abro-a com cuidado. Conhecendo o Ethan como conheço, capaz de estar aqui algum bicho morto ou um daqueles palhacinhos assustadores que vêm com uma mola e que pulam da caixa assim que a abrimos.
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Jogada do Amor
RomanceDuas pessoas com um passado em comum, separadas por traumas obscuros. Uma vida que gira em torno de ter futebol americano com refúgio. Outra vida que não quer deixar de ensinar crianças prodígios. Será possível ultrapassar os segredos no meio de ta...