Capítulo 57

107 3 2
                                    

A minha mãe não consegue dizer nenhuma palavra, pelo choque recente.

– Vais nos deixar ficar a congelar o rabo aqui fora ou podemos entrar? – questiono, zombando da forma como ela está paralisada ao lado da porta e a bloquear a entrada. 

– Meu Deus, desculpem, entrem. – ela diz, ainda meio chocada e dá espaço para passarmos. 

Quando entramos, vejo que os olhos de Bruna passam por todos os lugares da parte de baixo da casa, mais concretamente a sala, que é pegada com o hall de entrada. 

A sala é acolhedora, assim como todos os cómodos da casa, mas não deixa de ser uma casa elegante só porque não é muito grande. 

A minha mãe fez questão de colocar o sofá de uma forma a que não ocupasse muito espaço mas que também não deixasse as pessoas com o rabo de fora das almofadas.

Digamos que é tudo na medida certa, e nem estou a dizer isto só porque foi a minha mãe que decorou as coisas, mas sim porque é a mais pura das verdades. 

– Bruna, querida... és mesmo tu? – sinto o tom de voz da minha mãe a ficar choroso e acho que isso é, de certa forma, contagioso porque a Bruna fica exatamente da mesma maneira. 

– Helena... – diz Bruna, com a voz falha.

Dou um pequeno sorriso quando vejo que a minha mãe a puxa para um abraço caloroso e me oferece um olhar de agradecimento e de emoção ao mesmo tempo. 
Aceno-lhe brevemente com a cabeça e afasto-me delas para ir em direção à sala.

– Bruna, minha querida, como estás linda. – a minha mãe passa a mão pelo cabelo moreno e claro de Bruna e sorri-lhe de forma tão doce que tenho um pequeno dèjá-vu dos meus tempos de criança.

– Helena, tinha tantas saudades suas. – Bruna confessa e eu olho para elas outra vez, que me seguem até à sala, ainda abraçadas. 

– E eu tuas, minha querida. – a minha mãe sorri. – Por que não nos contactaste? - a minha mãe questiona, com uma sobrancelha levantada. – Eu perdi muitos contactos depois que nos mudámos aqui para Clearwater, com aquela coisa toda das caixas e não sei o quê...

– A mim aconteceu-me exatamente o mesmo. Perdi o seu contacto. – ela refere-se ao número da minha mãe e ao meu também, provavelmente.

– Meu Deus. Mas digam-me lá como é que se reencontraram? – a minha mãe fica curiosa e puxa a Bruna para se sentar ao lado dela no sofá. 

Envergonhada, ela troca olhares comigo e eu levanto as mãos no ar, a sinalizar para ela se desenrascar com a Dona Helena, porque quando a minha mãe começa a fazer perguntas... nunca mais pára até ter respostas.

– Cruzámo-nos num jogo do Buccaneers. – ela revela.

– Não me digas que finalmente começaste a acompanhar os jogos da equipa? – a minha mãe fica animada e segura nas mãos dela. 

Dispo o meu casaco sob o olhar atento e examinador de Bruna e coloco-o no braço de uma poltrona da sala, puxo as mangas da minha blusa até metade dos antebraços e pego nuns troncos de madeira.

– Ainda não acendeste a lareira, este ano? – pergunto à minha mãe. 

– Já sim, filho, mas o Rob é que costuma colocar aí a madeira e ele saiu para ir comprar umas coisas que eu precisava para fazer uns bolinhos. – a minha mãe confessa.

– Deixa que eu resolvo-me com ele depois. – digo com animação e ela resmunga.

– Deixem-se dessas brincadeiras que vocês já são homens. – a minha mãe sorri e vira-se para Bruna outra vez. – Diz-me querida, o que tem sido feito de ti durante estes... oito anos. – ela pensa um pouco.

Jogada do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora