A minha mãe não consegue dizer nenhuma palavra, pelo choque recente.
– Vais nos deixar ficar a congelar o rabo aqui fora ou podemos entrar? – questiono, zombando da forma como ela está paralisada ao lado da porta e a bloquear a entrada.
– Meu Deus, desculpem, entrem. – ela diz, ainda meio chocada e dá espaço para passarmos.
Quando entramos, vejo que os olhos de Bruna passam por todos os lugares da parte de baixo da casa, mais concretamente a sala, que é pegada com o hall de entrada.
A sala é acolhedora, assim como todos os cómodos da casa, mas não deixa de ser uma casa elegante só porque não é muito grande.
A minha mãe fez questão de colocar o sofá de uma forma a que não ocupasse muito espaço mas que também não deixasse as pessoas com o rabo de fora das almofadas.
Digamos que é tudo na medida certa, e nem estou a dizer isto só porque foi a minha mãe que decorou as coisas, mas sim porque é a mais pura das verdades.
– Bruna, querida... és mesmo tu? – sinto o tom de voz da minha mãe a ficar choroso e acho que isso é, de certa forma, contagioso porque a Bruna fica exatamente da mesma maneira.
– Helena... – diz Bruna, com a voz falha.
Dou um pequeno sorriso quando vejo que a minha mãe a puxa para um abraço caloroso e me oferece um olhar de agradecimento e de emoção ao mesmo tempo.
Aceno-lhe brevemente com a cabeça e afasto-me delas para ir em direção à sala.– Bruna, minha querida, como estás linda. – a minha mãe passa a mão pelo cabelo moreno e claro de Bruna e sorri-lhe de forma tão doce que tenho um pequeno dèjá-vu dos meus tempos de criança.
– Helena, tinha tantas saudades suas. – Bruna confessa e eu olho para elas outra vez, que me seguem até à sala, ainda abraçadas.
– E eu tuas, minha querida. – a minha mãe sorri. – Por que não nos contactaste? - a minha mãe questiona, com uma sobrancelha levantada. – Eu perdi muitos contactos depois que nos mudámos aqui para Clearwater, com aquela coisa toda das caixas e não sei o quê...
– A mim aconteceu-me exatamente o mesmo. Perdi o seu contacto. – ela refere-se ao número da minha mãe e ao meu também, provavelmente.
– Meu Deus. Mas digam-me lá como é que se reencontraram? – a minha mãe fica curiosa e puxa a Bruna para se sentar ao lado dela no sofá.
Envergonhada, ela troca olhares comigo e eu levanto as mãos no ar, a sinalizar para ela se desenrascar com a Dona Helena, porque quando a minha mãe começa a fazer perguntas... nunca mais pára até ter respostas.
– Cruzámo-nos num jogo do Buccaneers. – ela revela.
– Não me digas que finalmente começaste a acompanhar os jogos da equipa? – a minha mãe fica animada e segura nas mãos dela.
Dispo o meu casaco sob o olhar atento e examinador de Bruna e coloco-o no braço de uma poltrona da sala, puxo as mangas da minha blusa até metade dos antebraços e pego nuns troncos de madeira.
– Ainda não acendeste a lareira, este ano? – pergunto à minha mãe.
– Já sim, filho, mas o Rob é que costuma colocar aí a madeira e ele saiu para ir comprar umas coisas que eu precisava para fazer uns bolinhos. – a minha mãe confessa.
– Deixa que eu resolvo-me com ele depois. – digo com animação e ela resmunga.
– Deixem-se dessas brincadeiras que vocês já são homens. – a minha mãe sorri e vira-se para Bruna outra vez. – Diz-me querida, o que tem sido feito de ti durante estes... oito anos. – ela pensa um pouco.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Jogada do Amor
RomansaDuas pessoas com um passado em comum, separadas por traumas obscuros. Uma vida que gira em torno de ter futebol americano com refúgio. Outra vida que não quer deixar de ensinar crianças prodígios. Será possível ultrapassar os segredos no meio de ta...