Ethan
Nunca foi fácil para ninguém saber que não tem mais o suporte paternal na sua vida e eu, em parte, consigo entender um pouco da dor que a Bruna passou nestes dias.
Foram, sem sombra de dúvidas, os momentos mais intensos da sua vida e eu acredito nisso porque eu presenciei, indiretamente, grande parte deles.
Pelo que eu tenha notado, e pelo que eu pesquisei na internet, ela já passou pelas fases de luto quase todas.
A fase do choque, em que permaneceu nos meus braços, quando a fui buscar à casa de repouso, e não disse nenhuma palavra acerca do assunto.
A fase da culpa, onde chorou vezes sem conta e alegou que tudo era culpa dela. Que o facto de o pai dela ter falecido se devia a ela não ter estado com ele.
A fase da aceitação, que entendeu que nada do que ela fizesse o traria de volta e que ela tem que viver a vida dela.
O seu humor está a regressar aos poucos e hoje de manhã até gargalhou ao telefone comigo, então, para mim, isso já é uma vitória.
Quando estaciono o carro no parque da escola onde a Bruna trabalha, John vira-se para mim e diz com tristeza:
- Fiquei preocupado com a Bruna, depois do funeral.
- Ela vai ficar bem. - digo. - Ela é forte o suficiente para aguentar e sei que está a viver a vida dela normalmente.
- Tens a certeza? - ele levanta uma sobrancelha. - Eu sei que hoje é um dia especial e que ela precisa de estar concentrada e-... - não o deixo terminar.
- John, relaxa. - eu peço. - Estás mais nervoso do que ela. - retiro as chaves do carro e preparo-me para abrir a porta. - Agora, deixa-te de preocupações e tira esse rabo mal cheiroso do meu carro o mais depressa possível porque temos um espetáculo para assistir.
- Sim, chefe.
Assim que entramos no auditório da escola, o queixo de John pende para baixo a indicar o quanto ele está espantado e admirado. Ajudo-o a fechar a boca e dou um meio sorriso quando vejo a quantidade de pessoas presente no mesmo espaço.
Por mais que eu tente negar os meus pensamentos de que as pessoas iriam ignorar este espetáculo, ainda para mais a um domingo, é quase impossível.
Antevéspera de Natal e seria obrigatório estarem em casa a aproveitar as famílias, mas isso não acontece. Pelo menos, não aqui.
Alguns gorros vermelhos indicam o espírito natalício e acho que estou prestes a ter uma crise de riso quando Colin se vira para mim, ao mesmo tempo que Paula, e ambos têm um na cabeça.
- Pelo amor de Deus, digam-me se não é o casal mais fofo daqui. - John provoca-os e eu concordo enquanto dou um sorriso.
- Ele inventa muitas coisas, não é? - Paula questiona com um sorriso no rosto e logo vejo que Tracy se chega perto de nós quando nos vê.
- Inventa o quê? - Tracy fica indignada. - Tirem esses gorros horríveis que estragam os vossos outfits. - ela resmunga sorridente e puxa o telefone de dentro da sua bolsa.
- Não vais fazer o que eu penso que vais fazer! - os olhos de Paula entram em animação.
- Vai sim senhora! - Colin sorri abertamente e puxa Paula para perto dele. - Liga-me esse flash Tracy! - ele ordena e eu e John completamos um coração atrás de Tracy enquanto ela tira a fotografia.
- Casal lindo. - Tracy provoca e eu assobio.
Sem que ninguém esteja à espera, ele puxa Paula para um abraço apertado e beija a sua bochecha com vontade, como se aquela fosse a coisa mais natural do mundo.
E talvez seja porque eles estão bastante próximos desde que eu me lembro.
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Jogada do Amor
RomanceDuas pessoas com um passado em comum, separadas por traumas obscuros. Uma vida que gira em torno de ter futebol americano com refúgio. Outra vida que não quer deixar de ensinar crianças prodígios. Será possível ultrapassar os segredos no meio de ta...