Capítulo 77

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Ethan

Nunca foi fácil para ninguém saber que não tem mais o suporte paternal na sua vida e eu, em parte, consigo entender um pouco da dor que a Bruna passou nestes dias.

Foram, sem sombra de dúvidas, os momentos mais intensos da sua vida e eu acredito nisso porque eu presenciei, indiretamente, grande parte deles.

Pelo que eu tenha notado, e pelo que eu pesquisei na internet, ela já passou pelas fases de luto quase todas.

A fase do choque, em que permaneceu nos meus braços, quando a fui buscar à casa de repouso, e não disse nenhuma palavra acerca do assunto.

A fase da culpa, onde chorou vezes sem conta e alegou que tudo era culpa dela. Que o facto de o pai dela ter falecido se devia a ela não ter estado com ele.

A fase da aceitação, que entendeu que nada do que ela fizesse o traria de volta e que ela tem que viver a vida dela.

O seu humor está a regressar aos poucos e hoje de manhã até gargalhou ao telefone comigo, então, para mim, isso já é uma vitória.

Quando estaciono o carro no parque da escola onde a Bruna trabalha, John vira-se para mim e diz com tristeza:

- Fiquei preocupado com a Bruna, depois do funeral.

- Ela vai ficar bem. - digo. - Ela é forte o suficiente para aguentar e sei que está a viver a vida dela normalmente.

- Tens a certeza? - ele levanta uma sobrancelha. - Eu sei que hoje é um dia especial e que ela precisa de estar concentrada e-... - não o deixo terminar.

- John, relaxa. - eu peço. - Estás mais nervoso do que ela. - retiro as chaves do carro e preparo-me para abrir a porta. - Agora, deixa-te de preocupações e tira esse rabo mal cheiroso do meu carro o mais depressa possível porque temos um espetáculo para assistir.

- Sim, chefe.

Assim que entramos no auditório da escola, o queixo de John pende para baixo a indicar o quanto ele está espantado e admirado. Ajudo-o a fechar a boca e dou um meio sorriso quando vejo a quantidade de pessoas presente no mesmo espaço.

Por mais que eu tente negar os meus pensamentos de que as pessoas iriam ignorar este espetáculo, ainda para mais a um domingo, é quase impossível.

Antevéspera de Natal e seria obrigatório estarem em casa a aproveitar as famílias, mas isso não acontece. Pelo menos, não aqui.

Alguns gorros vermelhos indicam o espírito natalício e acho que estou prestes a ter uma crise de riso quando Colin se vira para mim, ao mesmo tempo que Paula, e ambos têm um na cabeça.

- Pelo amor de Deus, digam-me se não é o casal mais fofo daqui. - John provoca-os e eu concordo enquanto dou um sorriso.

- Ele inventa muitas coisas, não é? - Paula questiona com um sorriso no rosto e logo vejo que Tracy se chega perto de nós quando nos vê.

- Inventa o quê? - Tracy fica indignada. - Tirem esses gorros horríveis que estragam os vossos outfits. - ela resmunga sorridente e puxa o telefone de dentro da sua bolsa.

- Não vais fazer o que eu penso que vais fazer! - os olhos de Paula entram em animação.

- Vai sim senhora! - Colin sorri abertamente e puxa Paula para perto dele. - Liga-me esse flash Tracy! - ele ordena e eu e John completamos um coração atrás de Tracy enquanto ela tira a fotografia.

- Casal lindo. - Tracy provoca e eu assobio.

Sem que ninguém esteja à espera, ele puxa Paula para um abraço apertado e beija a sua bochecha com vontade, como se aquela fosse a coisa mais natural do mundo.
E talvez seja porque eles estão bastante próximos desde que eu me lembro.

Jogada do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora