Capítulo 59

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- John!

O meu grito alto ouve-se mal por entre os cânticos da multidão nas bancadas da nossa arena.
Sinto as pontas dos meus dedos amortecerem a bola dura e castanha enquanto corro pelo relvado o mais rápido que consigo.

Encaro os obstáculos à minha frente, um deles chamado Sam McCaffrey e só tenho vontade de lhe dar um valente soco enquanto corro para alcançar a endzone do Carolina Panthers.

Dou um sorriso de canto quando vejo a expressão horrorizada de McCaffrey quando vê que não me vou desviar dele enquanto vou em linha reta.

Pelo canto do olho, vejo que Griffin está do meu lado esquerdo, mas a posição dele não é favorável então esquivo-me de Sam para não sofrer mais pancadas do que aquelas que já levei hoje.

- Júnior, faz o track, agora! - ouço o treinador gritar por cima do grande e alto urro dos torcedores da equipa adversária.

Passo a bola a Griffin, que de um momento para o outro ficou desimpedido, e faço um X com os braços, em frente ao peito, enquanto faço frente aos dois jogadores que bloquearam o meu caminho.

Griffin passa a bola a John, que surgiu detrás de McCaffrey e, depois de eu mandar os dois jogadores que me bloqueavam para o chão como se fossem dois pinos de bowling, passa-me a bola.

A sentir a textura da bola novamente nos meus dedos, avanço pela lateral do campo, que não tem quase jogadores porque a maioria preferiu ficar a defender o Griffin e o John.

Esquivo-me de um adversário e quando tento cair na endzone do Carolina, sou arremessado para o lado com toda a força e ouve-se um grito de «UUHHHHM» vindo da multidão.

Resmungo a dor no meu corpo quando embato no chão e o peso em cima de mim prevalece mais forte do que nunca. Parece que tenho um barco mais pesado que o Titanic em cima de mim.

- Júnior. - ouço a voz de Griffin distante, mas logo sinto o peso em cima de mim ficar mais leve e abro os olhos devagar para constatar que impedem McCaffrey de me esmagar por completo.

- Porra, mano! - ouço John resmungar enquanto pega no meu braço para me levantar. - Aquele filho da puta... - diz, a olhar para Sam, que se afasta sorridente. - Estás bem?

Concordo com a cabeça.
Caralho, acho que consigo ver estrelinhas se fechar os olhos. Sinto o corpo todo mole e não sei se são as minhas pernas que falham, se é mesmo a minha mente a dizer que elas se foram de vez.

- Levanta-te, porra, - o treinador tenta incentivar quando chega perto da lateral do relvado, onde estou. - ele fez de propósito só para te atingir pelo peito. - ele resmunga.

- Eu estou bem. - afasto-me deles quando pisco os olhos rapidamente e recupero os sentidos de há sete segundos. Refresco-me com metade do conteúdo da garrafa de água que me entregam.

- Vão para a frente, caralho! - o treinador grita com Griffin e John, que logo correm para o campo. Esperamos que a outra equipa faça uma mudança de dois jogadores e o treinador vira-se para mim enquanto coloca a mão em frente à boca para não ser captado pelas câmaras. - O track foi bem feito, Júnior!

- O pior é que eu sei que foi. - fico revoltado. - Aquele filho da pppp-... - o treinador arregala-me os olhos. - Nem me venha com essa dos palavrões porque está para aí a soltar alhos e bugalhos a torto e a direito! - resmungo e ele sorri para mim enquanto bate nas minhas costas levemente.

- Diz aos outros para fazerem a estratégia dos H's. - ele pede, ainda com a mão em frente da boca.

- A dos H's? - fico boquiaberto e ele concorda. - Mas essa não era só para o fim do jogo? Estamos a ganhar por cinco.

- Isso não é nada e tu sabes disso tão bem quanto eu! - ele resmunga. - Precisamos de um avanço de pelo menos vinte pontos. - quando tento falar, ele corta-me. - Estamos no último quarto de tempo de jogo, Júnior! - avisa. - Faz o que te mando, o tempo está a contar e eu também.

Confirmo com a cabeça e saio de perto dele para avisar Griffin que precisamos de avançar nos pontos e ele concorda com o polegar.
Do outro lado do nosso meio campo, vejo Colin a arranjar o capacete e a fuzilar Sam com o olhar.

É domingo, ou seja, fazem três semanas desde que ele e o McCaffrey tiveram um encontro de socos e pontapés à frente e dentro do Chibchas', e aposto que ainda não se esqueceram do ocorrido porque os olhares mortíferos que trocam são de arrepiar qualquer um.

Felizmente, o treinador conseguiu com que Colin jogasse hoje connosco depois de falar com os superiores dele e garantir que aquela cena não se repetiria.
Mesmo com um pé atrás, eles deixaram que Colin estivesse ao nosso lado neste jogo decisivo.

Digo decisivo porque realmente é.
Estamos na semi-final, o que é espantoso, mas precisamos de vencer o Carolina para podermos comemorar com garra o facto de podermos ir jogar com o Patriots na final.

Estamos com cinco pontos de avanço, mas, como o treinador disse, isso não é nada porque numa jogada eles podem nos passar à frente!
Então, aceno para Colin e ele lança-me um olhar de aprovação para o ataque extraordinário que vamos fazer.

Treinámos a semana toda esta estratégia para a podermos usar hoje, as vezes que fossem necessárias, e, pelo que consegui ler nos olhos do treinador, ele quer que a usemos pelo menos umas três vezes.

Coloco-me na posição de onde caí e preparo-me para me esquivar de dois jogadores que tentam bloquear o meu caminho.

Não é à toa que a estratégia se chama H's, porque nós ficamos, literalmente, na forma de um H assim que estamos prontos.

Colin continua na linha de defesa, onde pertence, juntamente com Derick e Mike, que ficaram naquela posição porque são dois brutamontes que aguentam boas pancadas dos que tentarem atacar.

Já eu, Griffin e John, saímos da zona de ataque e colocamo-nos nas laterais do campo, à espera que Jacky, o nosso lateral de confiança, avance com a sua agilidade e passe a bola para as mãos de John, que está um pouco atrás de onde deveria estar, mas Griffin apanha a bola com custo e, quando se vê bloqueado, manda-me-a a mim.

Apanho-a no ar e bato com o ombro num jogador que me tenta acertar. Ele cai ao chão e, felizmente, consigo chegar à endzone do exato sítio de onde partia nos nossos treinos, o que quer dizer que temos mais doze pontos no nosso placar.

Isso gera, não só um grande abraço dos meus colegas de equipa, como um alto urro feliz e vitorioso dos nossos torcedores.

Corro até às bancadas e grito juntamente com todos, mas, no meio de todas aquelas pessoas em pé e a festejarem, há uma que chama a minha atenção.

A noite cai sobre a arena de Tampa, mas isso não me impede de contemplar os olhos castanhos claros expressivos e alegres que me felicitam indiretamente por entre todos.

Vejo-a ao lado das amigas, mas ela está... deslumbrante. Simplesmente, deslumbrante.
O sorriso dela é mais lindo que o de qualquer pessoa nesta arena e só isso importa para mim!

Aproveito que todos estão distraídos e pisco-lhe o olho direito, apenas para ver as bochechas dela corarem fortemente.

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Jogo decisivo e jogada decisiva Ethanzinho... heheheh

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