Ethan
Sinto que a cena de ontem se repete porque tenho o John a mandar-me a bola de futebol americano com força para as minhas mãos, só que a diferença de ontem para hoje é que ele parece mais irritado.
Realmente, desde que começámos este exercício, há pouco mais de cinco minutos,
que o sinto tenso e com uma vontade de dar uns socos num saco de box mas eu ainda não sei se tenho cara disso.– Podes-me explicar o motivo da raiva repentina?
Eu questiono com uma sobrancelha levantada e sou alvo de mais uma jogada forte dele. Sinto as minhas mãos arderem quando pego na bola que vinha com força.
– Nada. – ele nega com a cabeça.
– Nada, o caralho. – resmungo e ele suspira. – Esta bola não tem culpa de nada e eu não sou nenhum saco de pancada. – aviso e atiro-lhe a bola com delicadeza.
– Não insistas, Júnior, não quero falar. – ele aperta o maxilar. Quando me manda a bola, com menos força, não a apanho e deixo que ela bata no meu peito para depois cair no relvado. – Podes fazer o favor de apanhar essa merda? – ele pede.
– Não quero. – cruzo os braços. – Tu não queres falar e eu não quero apanhar a bola. – digo.
– Estás a ser infantil. – ele resmunga.
– As crianças é que se fecham em copas, tu não és uma criança. – aviso. – Pelo menos, que eu saiba.
– Quando o treinador vier reclamar connosco, não digas que a culpa é minha. – ele dá de ombros.
– Digo pois! Porque é! – ele inspira fundo. – Ele depois vai resmungar contigo porque estás feito infantil. – ele dá de ombros, mas eu também estou nesse papel agora.
– Ethan, apanha essa merda! – ele exaspera.
– Falas?
Eu coloco as mãos na cintura e ele olha para os lados, para ver se há alguém perto o suficiente para, talvez, ouvir o que ele possa dizer.
Ui, fofocas. Mas estas não me parecem das boas..– Se apanhares a porcaria da bola, eu digo-te. – ele resmunga, impaciente. Pego na bola e mando-a a ele.
– Já tens a bola, agora fala! – ordeno.
– Andas muito resmungão. – ele resmunga e eu levanto as sobrancelhas.
– Tu é que estás aí com essas merdas e eu é que sou resmungão? – dou um riso irónico. – Poupa-me!
– Não ando resmungão. – ele defende-se.
– Ohh, pois claro que não. – finjo ironia. – Desde ontem que andas no modo silencioso, o que quer dizer que alguma coisa aconteceu como tu não esperavas. –constato o óbvio.
– O que aconteceu foi que ontem fui sair à tarde. – ele diz e eu concordo, porque ele nos avisou. – Mas não fui apenas sair, fui sair com a Tracy. – ele diz e eu fico curioso.
– Mas não era suposto sairem só na sexta? – ele manda-me a bola, com força. – Tipo, para irem ao tal restaurante? – questiono e ele concorda.
– Era, mas fomos beber. – ele avisa e eu reviro os olhos. – O que é que foi? Não quiseste ir comigo e eu arranjei outra companhia.
– Sim, isso está o.k. Mas irem beber à tarde? – eu fico surpreso.
– Não há horas para beber. – ele dá de ombros.
– Tu lá sabes... – eu nego com a cabeça. – E depois? Foram sair os dois, beberam, foderam... qual o problema?
– Sim, fodemos, mas o problema é que fodemos e ela foi embora. – ele resmunga e manda-me a bola com força depois de eu lhe-a ter devolvido. – Ela foi logo embora, Júnior!
– E então? – fico confuso.– Não era o que querias? – apanho a bola. – Foder e dar o fora?
– Não, porra! – ele fica nervoso. – Queria aquela merda de ficar deitado um tempinho e esperar que aquela sensação do pós-sexo ardente passasse. – ele passa a mão no cabelo.
– Tu... – eu fico sem saber o que dizer. – Tu estás a gostar mesmo dela? – pisco rapidamente.
– Porra, Júnior. Não me faças perguntas dessas, caralho. – ele fica, realmente, nervoso.
– Não, desculpa, lá... Tu estás mesmo a gostar dela? – questiono outra vez. – Porque isto é não só inédito como também surpreendente.
– Estou. – ele confessa. – Eu, realmente, estou. E custa-me ter que aproveitar os momentos com ela e ela sair logo, entendes? – eu concordo, em silêncio.
– Estás a ficar cansado disso. – admito.
– Estou. Estou mesmo. – ele respira fundo.
– Podes deixar que ela corra atrás de ti. – eu brinco e dou de ombros. Ele levanta uma sobrancelha. – Desculpa, má ideia! – nego com a cabeça. – Nah nah, – digo em negação. – estava só a tentar descontrair.
– Não te entendo, Ethan. – ele confessa.
– Para a comeres já entendes. – brinco e ele revira os olhos. Mando-lhe a bola. – Estou a dizer para deixares de andar atrás dela e de a procurares. – dou de ombros. – Faz com que seja ela a vir ter contigo. Faz com que seja ela a tomar a iniciativa.
– Tu estás a brincar ou a falar a sério? – ele fica confuso.
– Os dois? – eu franzo as sobrancelhas. – Olha, o que estou a tentar dizer é que tens de a fazer entender que és uma pequena jóia rara. – digo em tom de zombaria e ele dá um meio sorriso.
– Isso é porque eu sou! – o humor animado dele aparece um pouco.
– Não estou a dizer para seguires este conselho, pelo amor de Deus! – inspiro fundo. – Não quero ser eu o responsável por alguma coisa na vossa relação...
– Não há relação. – ele diz, cabisbaixo.
– Ou então podes dizer-lhe como te sentes. – dou de ombros. – Sim, esta opção é melhor.
– Diz a pessoa que não gosta muito de falar dos sentimentos. – ele resmunga para mim e eu dou um sorriso aberto.
– A conversa não é sobre mim, é sobre ti e a tua loirinha. – aviso sorridente.
– Tu, às vezes, és um génio, Júnior. – ele dá de ombros e eu sorrio. – Mas só tens ideias de merda. – confessa, apanhando-me desprevenido.
– Quer dizer, ajudo-te e ainda és assim? – finjo-me ofendido.
– As tuas ideias são realmente uma merda, porque não vou deixar de lhe falar, até porque ela poderia dar graças a isso, e não vou, definitivamente, confessar nada. – ele admite.
– Isso aí já não é problema meu. – dou de ombros e ele suspira alto. – Queres que eu faça o quê? Já te dei uns conselhos, não posso ser a tua fada madrinha! – resmungo e ele faz-me o dedo do meio.
– Não quero essas coisas, porra! – ele resmunga também. – Quero deixar de ser usado.
– Ohh princesas, sei que a conversa deve estar boa mas os exercícios são para fazer!
O treinador grita do meio do campo e perco a minha oportunidade de dizer alguma coisa mais a John. Nós levantamos o polegar para ele e retomamos o exercício, desta vez, calados.
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IHH, como é que isto vai acabar entre eles?
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Jogada do Amor
RomansaDuas pessoas com um passado em comum, separadas por traumas obscuros. Uma vida que gira em torno de ter futebol americano com refúgio. Outra vida que não quer deixar de ensinar crianças prodígios. Será possível ultrapassar os segredos no meio de ta...