Capítulo 71

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Ethan

Sinto que a cena de ontem se repete porque tenho o John a mandar-me a bola de futebol americano com força para as minhas mãos, só que a diferença de ontem para hoje é que ele parece mais irritado. 

Realmente, desde que começámos este exercício, há pouco mais de cinco minutos,
que o sinto tenso e com uma vontade de dar uns socos num saco de box mas eu ainda não sei se tenho cara disso.

– Podes-me explicar o motivo da raiva repentina? 

Eu questiono com uma sobrancelha levantada e sou alvo de mais uma jogada forte dele. Sinto as minhas mãos arderem quando pego na bola que vinha com força. 

– Nada. – ele nega com a cabeça.

– Nada, o caralho. – resmungo e ele suspira. – Esta bola não tem culpa de nada e eu não sou nenhum saco de pancada. – aviso e atiro-lhe a bola com delicadeza. 

– Não insistas, Júnior, não quero falar. – ele aperta o maxilar. Quando me manda a bola, com menos força, não a apanho e deixo que ela bata no meu peito para depois cair no relvado. – Podes fazer o favor de apanhar essa merda? – ele pede.

– Não quero. – cruzo os braços. – Tu não queres falar e eu não quero apanhar a bola. – digo.

– Estás a ser infantil. – ele resmunga.

– As crianças é que se fecham em copas, tu não és uma criança. – aviso. – Pelo menos, que eu saiba.

– Quando o treinador vier reclamar connosco, não digas que a culpa é minha. – ele dá de ombros.

– Digo pois! Porque é! – ele inspira fundo. – Ele depois vai resmungar contigo porque estás feito infantil. – ele dá de ombros, mas eu também estou nesse papel agora. 

– Ethan, apanha essa merda! – ele exaspera.

– Falas? 

Eu coloco as mãos na cintura e ele olha para os lados, para ver se há alguém perto o suficiente para, talvez, ouvir o que ele possa dizer. 
Ui, fofocas. Mas estas não me parecem das boas..  

– Se apanhares a porcaria da bola, eu digo-te. – ele resmunga, impaciente. Pego na bola e mando-a a ele.  

– Já tens a bola, agora fala! – ordeno.

– Andas muito resmungão. – ele resmunga e eu levanto as sobrancelhas.

– Tu é que estás aí com essas merdas e eu é que sou resmungão? – dou um riso irónico. – Poupa-me!

– Não ando resmungão. – ele defende-se.

– Ohh, pois claro que não. – finjo ironia. – Desde ontem que andas no modo silencioso, o que quer dizer que alguma coisa aconteceu como tu não esperavas. –constato o óbvio.

– O que aconteceu foi que ontem fui sair à tarde. – ele diz e eu concordo, porque ele nos avisou. – Mas não fui apenas sair, fui sair com a Tracy. – ele diz e eu fico curioso.

– Mas não era suposto sairem só na sexta? – ele manda-me a bola, com força. – Tipo, para irem ao tal restaurante? – questiono e ele concorda. 

– Era, mas fomos beber. – ele avisa e eu reviro os olhos. – O que é que foi? Não quiseste ir comigo e eu arranjei outra companhia. 

– Sim, isso está o.k. Mas irem beber à tarde? – eu fico surpreso.

– Não há horas para beber. – ele dá de ombros.

– Tu lá sabes... – eu nego com a cabeça. – E depois? Foram sair os dois, beberam, foderam... qual o problema? 

– Sim, fodemos, mas o problema é que fodemos e ela foi embora. – ele resmunga e manda-me a bola com força depois de eu lhe-a ter devolvido. – Ela foi logo embora, Júnior!  

– E então? – fico confuso.– Não era o que querias? – apanho a bola. – Foder e dar o fora?

– Não, porra! – ele fica nervoso. – Queria aquela merda de ficar deitado um tempinho e esperar que aquela sensação do pós-sexo ardente passasse. – ele passa a mão no cabelo.

– Tu... – eu fico sem saber o que dizer. – Tu estás a gostar mesmo dela? – pisco rapidamente.

– Porra, Júnior. Não me faças perguntas dessas, caralho. – ele fica, realmente, nervoso. 

– Não, desculpa, lá... Tu estás mesmo a gostar dela? – questiono outra vez. – Porque isto é não só inédito como também surpreendente. 

–  Estou. – ele confessa. – Eu, realmente, estou. E custa-me ter que aproveitar os momentos com ela e ela sair logo, entendes? – eu concordo, em silêncio. 

– Estás a ficar cansado disso. – admito.

– Estou. Estou mesmo. – ele respira fundo. 

– Podes deixar que ela corra atrás de ti. – eu brinco e dou de ombros. Ele levanta uma sobrancelha. – Desculpa, má ideia! – nego com a cabeça. – Nah nah, – digo em negação. – estava só a tentar descontrair. 

– Não te entendo, Ethan. – ele confessa.

– Para a comeres já entendes. – brinco e ele revira os olhos. Mando-lhe a bola. – Estou a dizer para deixares de andar atrás dela e de a procurares. – dou de ombros. – Faz com que seja ela a vir ter contigo. Faz com que seja ela a tomar a iniciativa.

– Tu estás a brincar ou a falar a sério? – ele fica confuso.

– Os dois? – eu franzo as sobrancelhas. – Olha, o que estou a tentar dizer é que tens de a fazer entender que és uma pequena jóia rara. – digo em tom de zombaria e ele dá um meio sorriso. 

– Isso é porque eu sou! – o humor animado dele aparece um pouco.

– Não estou a dizer para seguires este conselho, pelo amor de Deus! – inspiro fundo. – Não quero ser eu o responsável por alguma coisa na vossa relação...

– Não há relação. – ele diz, cabisbaixo. 

– Ou então podes dizer-lhe como te sentes. – dou de ombros. – Sim, esta opção é melhor. 

– Diz a pessoa que não gosta muito de falar dos sentimentos. – ele resmunga para mim e eu dou um sorriso aberto. 

– A conversa não é sobre mim, é sobre ti e a tua loirinha. – aviso sorridente.

– Tu, às vezes, és um génio, Júnior. – ele dá de ombros e eu sorrio. – Mas só tens ideias de merda. – confessa, apanhando-me desprevenido.

– Quer dizer, ajudo-te e ainda és assim? – finjo-me ofendido. 

– As tuas ideias são realmente uma merda, porque não vou deixar de lhe falar, até porque ela poderia dar graças a isso, e não vou, definitivamente, confessar nada. – ele admite.

– Isso aí já não é problema meu. – dou de ombros e ele suspira alto. – Queres que eu faça o quê? Já te dei uns conselhos, não posso ser a tua fada madrinha! – resmungo e ele faz-me o dedo do meio.

– Não quero essas coisas, porra! – ele resmunga também. – Quero deixar de ser usado.

– Ohh princesas, sei que a conversa deve estar boa mas os exercícios são para fazer! 

O treinador grita do meio do campo e perco a minha oportunidade de dizer alguma coisa mais a John. Nós levantamos o polegar para ele e retomamos o exercício, desta vez, calados.

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IHH, como é que isto vai acabar entre eles?

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