– Bom dia.
Digo alegremente assim que adentro pelo quarto do meu pai, na casa de repouso, e o vejo sentado na sua poltrona enquanto tem o jornal nas suas mãos.
– Tão cedo, princesinha, não vinhas só de tarde? – ele estranha, depois de encarar o relógio na parede.
– Não, papá, venho sempre de manhã. – dou um meio sorriso e aproximo-me.
Como nunca tomo a iniciativa para o tocar, com medo da sua reação, espero que ele segure na minha mão e beije a parte de trás dela.
A sua pele macia envolve os meus dedos e puxa-me para mais perto, para eu me sentar ao seu lado.– Já comeste? – pergunto curiosa.
– Sim, mas estava a pensar em ir ao jardim para colher uma maçã. – ele revela a sua vontade.
Felizmente o Alzeimer não lhe retirou a capacidade de ter automobilidade. Bem, pelo menos, não ainda.
Ao início, um dos meus maiores medos era que ele piorasse de um dia para o outro, como se fosse bipolar e o humor divertido ultrapassasse a barreira e se convertesse em raiva numa fração de nanosegundos.Mas esse medo foi diminuindo a cada vez que eu o via e entendia que aquilo não iria acontecer tão rapidamente. Só que, depois de quase três anos a lidar com a sua doença e a conviver com as suas emoções, precisei de me mentalizar que é sempre bom ter um pé atrás para ajudar no impacto.
– Acho uma ótima ideia, papá. – concordo. – Podemos falar do jogo do Patriots. – sugiro enquanto ele coloca o jornal de lado e se levanta da poltrona.
– Tu a quer falar de futebol americano? – enruga a testa e eu acabo por dar de ombros enquanto sorrio. – Aposto que nem acompanhaste o jogo, mas podemos falar na mesma.
– Não acompanhei? – finjo que estou magoada. – Não só acompanhei, como entendi tudo o que eles falaram durante o jogo.
– Precisamos de pôr em prática esses conhecimentos, minha princesinha. – ele sorri e caminha até a aporta.
Acompanho os seus movimentos e vou ao seu lado, pelo corredor, enquanto ele me guia e segura no meu braço.
Felizmente já não está restrito a ficar no quarto o dia inteiro e pode sair para ir ao jardim, se for acompanhado, e isso causa-me um alívio inexplicável.Ele ajeita o seu casaco no pescoço, por causa do frio, e reparo que está com o pijama que lhe trouxe na segunda-feira. É bastante simples, com uma cor azul clara e com um tecido maravilhoso para aquecer o corpo neste tempo frio.
Ele todo está de azul e confesso que fica fofinho nesta roupa. Ele empurra a porta de saída que dá para o jardim e não consigo conter a vontade de inspirar fundo e senti o aroma a flores que este jardim transmite.
As folhas estão cobertas por uma fina camada de orvalho e consigo sentir as pétalas duras e frias na ponta dos meus dedos quando lhes toco. As camélias são as que chamam a minha atenção, com um pequeno floco de neve no seu olho e com as pétalas rosadas e suaves completamente cobertas pelo gelo.
Algumas pontas das pétalas têm as gotas de água congeladas, em momento freeze e que dá um aspeto de que o tempo parou.
Ao longe, está um senhor bem mais velho, sentado num banco que é abrigado pela armação da pequena estufa, enquanto tem alguns ramos de árvore à sua frente e os contempla como se fossem autênticas obras de arte.
O meu pai e eu vamos até à macieira que está no centro do jardim e ele procura por uma maçã que não esteja queimada do gelo. Apesar de não ser uma época muito propensa para o cultivo do fruto, esta árvore sempre tem flor ou fruto, até mesmo no inverno.
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Jogada do Amor
Lãng mạnDuas pessoas com um passado em comum, separadas por traumas obscuros. Uma vida que gira em torno de ter futebol americano com refúgio. Outra vida que não quer deixar de ensinar crianças prodígios. Será possível ultrapassar os segredos no meio de ta...