Enquanto estava à espera do Keith ouvi uma grande confusão a vir do corredor que dava à entrada. Ouvi vozes e berros.
-Vais para a tua segunda casa.-disse um segurança.
-Não vai ser necessário... Podiam apenas levar-me a casa.-respondeu uma voz familiar. Não pode ser, só podem estar a gozar...
-Tu vais para casa, não te preocupes.-respondeu-lhe o mesmo segurança com um tom de ironia.
-Vá lá, Phil, não me venhas com essas tretas irónicas que sabes que não pega comigo...-respondeu ele com as mãos algemadas atrás das costas. Era o rapaz do ginásio. Ashton.
-Cala-te e mexe-te.-disse o suposto Phil empurrando-o para a frente.
-Epá, calma! Não me podes tirar isto?-disse virando-se de costas para ele mexendo as mãos. Tinha os punhos em sangue.
-Não, agora anda que não tenho o dia todo!-exclamou empurrando-o novamente. Vinham a percorrer o corredor e nem deram por mim ali sentada.
-Calma! Não é que eu tenha pressa de ir para ali... Mas para que serve essa agressividade toda...?-parou quando me viu. Ficou a olhar para mim durante algum tempo enquanto o segurança abria as portas da cela, à minha direita. Por alguma razão eu não quebrei o olhar com ele. Permaneci presa no olhar dele, tal como ele.
-Vá! Entra!-exclamou o segurança empurrando-o para dentro da cela.
-Não te falta nada?-perguntou ele virando-se de costas para mostrar as mãos algemadas.
-Não, não te vão fazer mal. Pode ser que assim me comeces a tratar por "Sr. agente" ou alguma coisa mais respeitosa. -respondeu fechando a cela.-Bom dia.-disse ao passar por mim. Ia responder, mas uma voz atrás de mim adiantou-se.
-Pelos vistos não é!-exclamou irritado. O segurança ignorou-o e continuou o corredor. Ouvi um estrondo atrás de mim acompanhado com um grito irritado.-Estúpido...-murmurou. Ficou calado durante algum tempo, o que até me aliviou, mas acabou por falar.-Então... O que é que te traz aqui?-perguntou. Olhei-lhe para ter a certeza que estava a falar comigo. Estava sentado na cama da cela, com os braços atrás das costas.
-A sério?-perguntei estranhando o facto de ele achar que lhe vou responder.
-Estava só a perguntar.-disse ele.-Já que não estás deste lado, fique curioso.
-Não tens coisas mais importantes com que te preocupares?-perguntei.
-Provavelmente...-respondeu. Ouvi-o levantar-se gemendo com dor. Aproximou-se das grades ao meu lado.-Olha, eu sinceramente só meti conversa porque preciso de ajuda.-disse ele.
-A sério?-perguntei sarcasticamente.-E eu que achava que estavas realmente preocupado com o que eu faço...-respondi rolando os olhos.
-Ok, pronto. Não me perguntes como nem porquê, mas tenho um vidro espetado nas costas e está a dar cabo de mim. Por isso, se não te importares e sem fazeres perguntas, podes tirar?-perguntou virando-se de costas.
Olhei para ele durante algum tempo para ter a certeza que estava a falar a sério. Não parecia ter muitas chances de me fazer mal e parecia realmente mal. Tinha uma mancha de sangue na camisola, nas costas.
-Ok.-respondi pousando a mala e levantando-me. Ele virou-se totalmente de costas e levantou as mãos, aproximando-se das grades. Passei as mãos até ao interior da cela e peguei na camisola. Levantei e vi uma grande mancha de sangue na zona lombar esquerda. O sangue tinha escorrido até ás calças dele e parecia algo doloroso.-Consegues inclinar-te?-perguntei para conseguir ver o vidro.