Capítulo 3

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Olhei para o telemóvel. Já estou atrasada! É sempre assim. Vou começar a acordar toda a gente lá em casa, meia hora mais cedo.

Andei pelos corredores o mais depressa possível, mas para meu alívio ainda não tinha tocado. Apressei-me até à sala onde ia ter farmacologia. Quando cheguei à porta entrei sem pensar duas vezes antes que tocasse e corresse o risco de voltar a chegar atrasada.

-Parabéns!!-ouvi atrás de mim enquanto estava a fechar a porta. Assustei-me pois não estava à espera que alguém fosse gritar quando eu entrasse na sala, muito menos uma turma inteira.

Olhei à volta. Está aqui toda a gente, mais chegada. Até pessoas que não vão ter esta aula agora. Elas conseguem sempre surpreender-me. Todos os anos fazem alguma coisa e não sei como, nunca estou à espera.

-Parabéns, Vals!!-disse a Evelyn abraçando-me. Este perfume.

-Obrigada!-exclamei sem evitar o sorriso.

-Vem cá, tás mesmo velha!-exclamou a Katelyn.-Parabéns!-O outro perfume. Ri-me das parecenças e ao mesmo tempo diferenças das duas. Já as conheço desde o 5º ano e para mim são tão diferentes que por vezes esqueço-me que são gémeas.

-Ok, já chega, é a minha vez!-exclamou o Matt.-Fogo, raio das gémeas, não percebem que são a dobrar, o que as faz mais chatas ainda!-disse ele fazendo-me rir.-Parabéns miúda.-disse enrolando os braços à minha volta. Também já o conhecia da outra escola, mas apenas a partir do 8º ano. 

-Obrigada.-respondi com outro sorriso.

Depois disso recebi mais uns "parabéns" e "já tás velha" e "ainda me lembro quando ainda éramos miúdas na outra escola". Tive sorte em vir com muita gente da outra escola, para aqui.

Para minha sorte o professor acabou por chegar e mandou toda a gente sentar. A aula passou depressa, aliás, a manhã inteira.  

Há hora de almoço fomos até ao bar almoçar e, como todos os dias, apareceram os aniversários no quadro do dia. O Matt começou a apontar para mim e acabaram por-me cantar os parabéns com o bar inteiro. Odeio e sempre odiei essas coisas. Ele sabe disso, por isso é que faz. Estúpido.

-Qual é a tua última aula?-perguntou-me ele.

-Agora vou ter microbiologia, mas ainda vou ter genética depois...-respondi sem vontade.

-Ah pois é, a disciplina emplastra! Se quiseres ajuda avisa.-disse-me ele.-Sabes que não sou um génio, mas safo-me bem.

-Eu sei. Eu também safava se não fosse...-ele não me deixou acabar.

-Não tens de te justificar a mim, eu sei disso tudo. Aliás não tens de te justificar a ninguém!-disse enquanto andávamos pelo corredor, com um sorriso.

-Vais para político!-exclamei enquanto me ria.

-Porque dou bons conselhos?-perguntou curioso.

-Não, porque falas com fé e força.-respondi a rir-me.

-Podias ter dito isso à três anos, antes de entrar em medicina!-exclamou como se chateado. Desatei-me a rir.

-Nessa altura ainda eras tímido e introvertido. Fechavas-te muito. Agora tas melhor.-respondi.

-Olha parece que também estás no sítio errado.-disse ele. Fiz-lhe um olhar curioso.-Sim, devias ir para psicóloga.-disse esbugalhando os olhos. Ri-me. Fez uma cara séria.

-O que foi?-perguntei.

-Era mesmo assim que eu era?-perguntou.

-Sim, não que fosse mau, mas agora andas sempre na brincadeira e a rir e isso. Se reparares tens um monte de amigos que antes não tinhas.-respondi.

-É verdade.-disse parando por um bocado.-Notas mesmo em tudo.-disse finalmente com um sorriso.

-Só no que me interessa...-murmurei.-Como por exemplo, os olharzinhos que as raparigas todas da escola te fazem!-exclamei desatando-me a rir. Rimo-nos até chegarmos à porta da sala onde ele ia ter aula.

-Até já!-disse ele acenando-me enquanto entrava na sala. Caminhei em direção ao laboratório de microbiologia.

Ainda não acredito que tenho um carro, principalmente o da minha mãe. O que os meus pais me iam dar era em segunda ou terceira mão, o mais barato possível. Mas fiquei com o Mini da minha mãe? Nunca me passou pela cabeça. Não é o meu carro de sonho, nem de longe mas é melhor do que o carro em segunda mão que os meus pais me iam dar. Claro que preferia mil vezes um carro podre e ter os meus pais em casa do que assim. Suspirei.

-Aula de microbiologia?-perguntou-me a Evelyn aparecendo de repente.

-Ya. E tu?-perguntei.

-Parasitologia...-murmurou em desagrado.

-Oh, também queixas-te de tudo!-exclamei.

-Não é de tudo, mas eu odeio parasitas! Não nos podem só ensinar como os matar? Para que é que temos de saber os nomes e os aspetos? A sério? Vais dizer que gostas?

-Não adoro, mas gosto de saber essas coisas, a parte de decorar tudo é que é pior...

-Também vim-me logo queixar a ti. Tu queixaste mas tiras sempre gandas notas!-exclamou ela.-Fazes-me sentir ainda pior!

-Ok, Ev, eu vou para a aula. Se te apetecer ficar aí a refilar com a parede, fica!-exclamei entrando na sala. Comecei-me a rir e vi-a a afastar-se enquanto murmurava qualquer coisa.  

A aula passou depressa e rapidamente cheguei à aula de genética. A pior aula. Não está lá ninguém, só os que chumbaram ou que querem repetir a disciplina, e esses são poucos. Não sou nenhum deles. Só chumbei a disciplina por faltas e nem tive culpa disso. 

Suspirei e entrei na sala.

-Olá, Valentine!-exclamou o Mike, com o mesmo tom de sempre.

-Sim, Mike, olá.-respondi sem vontade para ouvir as conversas provocadoras dele.

-Tás de mau humor? Deve ser do stress. Deixa que eu resolvo isso com uma massagem.-disse aproximando-se dos meus ombros.

-Não, Mike, deixa-me em paz!-exclamei mudando de lugar. Vi-o rir-se com os amigos e senti uma vontade enorme de me levantar e passar-me. Ri-me do pensamento. Eu não era capaz de fazer isso. Mesmo que quisesse, não era.

A professora entrou, uma diferente, novamente, e começou a aula. Recebi diferentes olhares perversos e assustadores durante a aula, do Mike, mas ignorei. Mesmo que tenha toda aquela forma física e seja um ordinário ninfomaníaco, não tem inteligência nenhuma, é mesmo burro, e eu sei que tudo o que faz não passa de brincadeiras, pelo menos comigo, porque sabe que não pretendo nada com aqueles comentários e olhares. Apenas gosta de fazer os amigos rirem-se à custa da minha falta de paciência.

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