-Obrigada, avô!-exclamei da janela do carro.
-De nada, vemo-nos em casa! Bom trabalho!-exclamou fechando a janela. Acenei e entrei no restaurante. As luzes ainda estavam apagadas por isso presumi que a Ev ainda não tinha chegado.
-Ev?-perguntei à procura dela. Ninguém respondeu.
-Valentine?-ouvi da cozinha. Era a senhora Lurdes. Arrumei a mala no cacifo, vesti o avental, prendi o cabelo e fui ter com ela.-Chegaste a horas.-disse ela enquanto cozinhava.
-Chego quase sempre.-respondi.
-Quase não é suficiente.-respondeu.-Queria saber se podes fazer o turno da noite. Eu pago-te mais um dia.-disse colocando o pano sobre o ombro, virando-se para mim, colocando as mãos nas ancas.
-Não sei, tinha de avisar o meu irmão.-respondi.
-Trata disso. Hoje há uma reserva grande e preciso que fiques só a servir essa mesa.-disse ela.
-Mas é na sala privada?-perguntei.
-O que é que achas?-perguntou como se ofendida.-Então, achas que podes?
-Ok, acho que não há problema.-respondi.-A reserva é para que horas?-perguntei.
-Sete. Eu disse que só podíamos deixá-los cá ficar até ás onze, por isso não te preocupes com isso.
-Ok, obrigada.-respondi.
-Podes ir pondo as mesas.-disse ela. Acentei e fui até à sala. Ao olhar para a gigante sala com todas as mesas ainda por fazer, fiquei sem vontade nenhuma. A vontade já não é muita mas ainda fiquei com menos. Tentei adiar o "sofrimento" e liguei ao Keith.
-Estou?-ouvi a Carol do outro lado.
-Car?-perguntei.
-Sim, tudo bem?-perguntou.
-Sim, o meu irmão está contigo?-perguntei.
-Não, ele foi ajudar um grupo que está preso e deixou o telemóvel em cima da secretária dele aqui no quartel. Eu vinha ter com ele, mas provavelmente esqueceu-se de me avisar...-disse desiludida.
-Junta-te ao grupo...-respondi enquanto colocava o código de empregada no computador.
-Então?-perguntou.
-Fomos à polícia e enquanto ele estava a assinar uns papéis saiu e como estava à espera dele nem o vi sair. Mas ele também não me avisou.-respondi.
-Hum...Não muda...-respondeu rindo-se.-Bem eu de qualquer maneira já me ia embora mas como ouvi o telemóvel tocar e vi que eras tu, atendi.-disse.
-Ok, eu também estou a trabalhar.-respondi.-Eu deixo uma mensagem e ele depois vê.
-Sim, também vou fazer isso. Mesmo que eu saiba que ele não se vai lembrar ao menos sofre um bocado.-disse a rir-se.
-Faz isso.-respondi a rir-me.
-Vá, depois vemo-nos.-disse ela.
-Ok, adeus.
-Beijinhos.-disse isto e desliguei.
Ouvi a porta bater. Olhei na direção dela e estava a Eveline a entrar, carregada, a refilar com alguma coisa.
-Ev?-perguntei ao vê-la refilar com tudo. Parecia uma maluquinha.
-O que foi?-perguntou irritada. Não consegui conter o riso.
-Nada, estava só a pensar o que é que uma maluca que fala sozinha e entra nos restaurantes a falar mal com as pessoas queria...-respondi.