Flores e Uivos ~ Isabela Madrigal × S/N

Capítulo 1

Na outra parte da floresta, vivia um lobo. Um simples lobo? Não, um híbrido, um híbrido que foi abandonado e obrigado a aprender a viver sozinho. S/N era esperta e muito curiosa, achava interessante aquela vila que parecia sempre tão animada, mas odiava quando aconteciam algumas festas que estouravam coisas no céu, aquilo machucada suas orelhas e sempre tinha que procurar um lugar para se esconder.

Nunca chegou a entrar naquele lugar, tinha medo, medo das pessoas, medo do que fariam com ele. Porque, fala sério, não é todo dia que se vê alguém com orelhas de lobo e um rabo peludo. Então ela sempre preferia ver tudo de longe, subia nas árvores mais altas e se mantia bem escondido de todos. Se alimentavam de pequenos animais que encontrava naquele lugar, vivia em um tipo de toca que havia construído, tinha tudo de bom, tinha comida, moradia, liberdade, não haviam outros lobos por aquela área, tudo perfeito! Mas sentia que faltava algo, talvez uma companhia?

Nunca teve algum tipo companhia, seus pais morreram e sua família o abandonaram para morrer, mas ele soube se virar e já tinha seus 23 anos. Os momentos que mais sofria eram nos de seu cio, não tinha alguma ou algum companheiro para se saciar, doía muito quando tinha que passar sozinho por isso, mas o pior era sentir um cheiro doce vindo daquela vila, acho que era por isso que não ia embora. Aquele cheiro que sempre vinha na sua época de cio era tentador demais, S/N era um alfa e aquele cheiro era enlouquecedor, mas se controlava para não fazer nenhuma besteira.

Agora nesse momento a mesma estava deitada em sua toca, mas sentia sede e foi obrigada a levantar para ir a cachoeira se saciar. Preferiu ir em sua forma humana, aproveitaria para dar uma alongada em seu corpo magro. Pegou sua ruana preta e a colocou sobre seus ombros, se alongou e saiu da toca, percebendo assim que estava de noite e viu a lua cheia, uivou em alegria e seguiu seu caminho.

De volta a Casita, Isabela já estava acordada. Estava nervosa demais e tinha certeza que seus batimentos podiam ser ouvidos a milhas dali, estava de frente ao espelho e suspirou, prendeu uma flor rosa em seu cabelo e tentou forçar um sorriso pra si mesma.

- Está tudo bem, é seu destino, pare de pensar em bobagens Isabela - disse a se própria, mas isso não a convenceu.

Saiu de seu quarto e viu que seus parentes estavam ali cantando sobre Bruno e viu que deveria participar. Se prendeu em seus cipós e desceu do segundo andar, possuindo sua pose perfeita.

- Me falou: que a vida ideal num momento viria para mim - se balançou e seu olhar mostrou a tristeza que sentia ao perceber que seu tio poderia ter mentido para ela - Me falou: seu poder vai crescer como as vinhas deste jardim... - escutou Dolores cantando sobre algo que nem ao menos prestou atenção - Nem vem, não quero ouvir nenhum piu... - então em um momento de surto, saiu de casa sem que ninguém perceba.

Correu para a floresta, estava amedrontada. Não se importava no que aconteceria com ela depois, ela não estava pronta para aquilo, não queria se casar, não amava Mariano. Passou por um galho que rasgou um parte de seu vestido, ferindo sua perna, mas não voltaria para casa, não agora.

Chegou então em uma cachoeira, não fazia a menor ideia que aquele lugar existia. Uma brisa gelada passou por seu corpo e se arrepiou, ouviu então um barulho no meio das árvores e se assustou. Pegou um pedra e tentou enxergar quem estava ali.

- Quem tá aí?... - sua voz trêmula a condenava e entregava seu medo.

Nenhuma resposta veio, então Isabela abaixa sua guarda, deixando a pedra cair, mas antes mesmo de a pedra tocar o chão, um culto saiu de dentro dos arbustos, atacando a garota que caiu de costas na grama. Um imenso lobo cinza rosnava perto de seu rosto e a menina estava aterrorizadas, apenas fechou os olhos e esperou o pior.

S/N então parou de rosnar ao ver o medo no olhar da garota. Saiu de cima da mesma, mas ainda possuía a guarda levantadas, ninguém vinha para essa área, então estranhou alguém ali e atacou pra se proteger. Mas a garota estava tão indefesa, sentia medo e tristeza transpirar pelo corpo da moça a sua frente.