CAPÍTULO 4

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            De hoje não passa. Eu preciso saber se eu sigo em frente ou continuo focando nele. Hoje minhas dúvidas serão respondidas. Ou não. Sei que talvez seja isso que quero, mas e se não for? Tipo, eu gosto do Lucas, disso eu tenho certeza. Mas e se ele não for pra mim? Ele é tão misterioso, frio. Eu não quero construir nada com alguém assim. Quero que seja intenso, como eu. Mas tenho fé que algo aconteça. Ele quer falar comigo. Talvez sinta o mesmo, ou não.

            Chego na escola ás 6:30, e vejo um grupinho reunido atrás da escola. Ah, meu grupinho. Deixa eu ir até eles e... MEU MUNDO CAIU. Vejo duas pessoas coladas. Aperto meus olhos. É Bruno... e Lucas. Meu Deus, isso não tá acontecendo comigo.

            Minha visão fica turva. Meus olhos começam a marejar. Eu corro, corro como se não houvesse amanhã. Entro no banheiro. Me tranco. As lágrimas começam a sair. Um choro dolorido ecoa pelo banheiro. Um sentimento de vazio, de perda, de sofrimento, de ilusão paira sobre mim. Eu não queria acreditar. Eu bobo achando que iríamos construir algo. Que ele iria se dedicar a mim.

            Eu só queria ir embora daquele inferno. Eu só queria esquecer o Lucas, queria que ele sumisse.

            As lágrimas não paravam de sair de meus olhos. Eu me esperneava de dor. A dor da ilusão. A dor da perda. A dor de eu ter criado uma romance em minha cabeça, e não ser isso de verdade. Como eu fui bobo. Como eu fui idiota.

            Coragem Pietro, coragem. Você ainda tem mais 6 horas pra aguentar esse inferno. Enxuguei minhas lágrimas, e saí do banheiro.

            — Oi amigo, nem vi você chegar. - era Valentina.

            — Ah, oi. Eu fui no banheiro.

            — Por que seus olhos estão vermelhos?

            Olho no espelho. REALMENTE ESTÃO.

            — Acordei com eles irritado hoje. - tentei convencer de que era verdade.

            — Ah.. vamos pra sala?

            — Vamos.

            Eu tentei não pensar nisso. Eu tentei focar na aula, mas não dava. As lágrimas saiam sem parar, eu não conseguia segurar mais. Eu estava triste, depressivo. Meus amigos perceberam e só me deixaram. Eu não conseguia focar, pensar. Chorar, era só isso que eu conseguia.

            — Oi Pietro, porque você não falou comigo hoje? - disse Bruno que apareceu atrás de mim no intervalo.

            — Oi Bruno, desculpa, eu cheguei atrasado.

            — Tudo bem. Preciso te contar certas coisas que aconteceram...

            — Ah, ok.

            — Eu fiquei com o Lucas. Bom, ontem ele me mandou mensagem dizendo que gostava de mim e que queria me fazer muito feliz. E ele tá conseguindo. Eu tô radiante!!!

             — Ai que bom! Espero que dê tudo certo com vocês, tô torcendo por isso. - uma lágrima caiu.

            — Tá tudo bem? Por que tá chorando?

            — Tá sim. Tô com dor de cabeça, só isso.

            — Pede pra ir embora migo.

            — Não, eu aguento mais um pouquinho.

            — Tá bom.

            EU ESTAVA DEVASTADO. Meus olhos estavam marejados e mais uma vez, fui ao banheiro chorar. Eu sentia uma forte tristeza, eu só queria o meu quarto e ficar por lá pelo resto da minha vida...

            — Amigo, o que cê tem hoje em? - veio Eloisa falar comigo na saída.

            — O que eu tenho Eloisa? O que eu tenho??? O cara que eu tô louco apaixonado, tá se pegando com meu amigo, e você lá com eles. Sorrindo, e me fazendo de idiota. - eu já estava aos prantos.

            — Mas amigo...

            — Mas amigo nada. Eu sou muito trouxa. Me deixa.

            — Eu não vou, nunca irei me meter na vida de vocês. Eu achei que você sabia.

            — Eu não sabia. Cara, como eu sou ingênuo.

            — Vem cá, deita aqui no meu colo.

            Eu deitei e mais uma vez, chorei.

            Não me despedi de ninguém e fui direto para minha casa descansar. A primeira coisa que faço é deitar na minha cama e chorar, chorar, chorar, chorar muito.

            Depois de algum tempo recebo mensagem em meu celular. É de Valentina. Hesito em responder, mas resolvi dá alguma notícia pelo menos.

"Amigo, o que aconteceu com você hoje?"

            Em meio a choros, eu mando um áudio contando tudo o que havia acontecido.

"Putz amigo, mas não fica assim.  Existem muitas pessoas maravilhosas e que vão te valorizar do jeito que você merece. Você é um menino incrível, não merece chorar por nenhum garoto."

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            Eu estava muito mal de verdade. Nada que me falassem ajudaria.

            As horas passavam e eu continuava ali, na minha cama. Chorando e ouvindo as músicas mais tristes que existiam. Meus pensamentos já estavam me matando, eu só queria sumir por um tempo indeterminado...

"Oi, podemos conversar?" - era Lucas.

            Não deveria ter respondido, mas foi inevitável.

"Oi, pode ser."

"O que tá acontecendo? Eu não to entendendo nada. Como você tá?"

            Eu conto sobre o que eu tinha visto e o que eu estava sentindo. Precisava me afastar.

"Nada disso teria acontecido se eu não estivesse aqui... Mas por favor não se afaste de mim, eu te quero por perto, ainda quero você"

            Não sei o que eu senti na hora com essa mensagem. Eu queria me afastar, mas eu não posso mentir pra mim mesmo. Eu o quero. Só preciso que ele seja sincero comigo. Preciso confiá-lo. Ainda estava muito magoado.

"Posso te ligar?"

"Tá bom."

            Ele liga. Eu o atendo.

            — Olha Pietro, eu entendo que o meu lance com o Bruno te incomoda, mas não quero que isso afaste a gente. O que estávamos tendo era algo muito legal e eu não quero que isso acabe assim. Eu acredito que não precisamos ter algo sério pra ter um laço sabe. Eu gosto de você independente do que é meu. Mas por favor não se afaste.

            Eu não sabia mais o que eu estava sentindo. Um sentimento de dúvida, angústia, mágoa, eu estava muito confuso. Aquelas palavras me fizeram tão bem, mas lembrá-lo beijando o Bruno, me causava uma baita ansiedade.

            — Lucas, você me magoou muito... Mas eu quero tentar com você. Quero que seja sincero comigo, com tudo. Eu também o quero.

            — Ai, que alívio! Já tinha chorado horrores aqui. Então estamos bem?

            — Sim. Só uma coisa. Promete pra mim que você vai conversar com o Bruno sobre tudo.

            — Hum... Só me dá um tempo? Pra mim também foi ruim tudo isso.

            — Tá bem... Ei, Valentina me chamou pra ir na casa dela amanhã. Bora?

            — Estarei lá.

            Pelo menos tudo está bem agora. Até que ponto? Eu não sei. Só estou sendo sincero comigo mesmo, e o que o meu eu interior está dizendo. Estou sendo fiel a mim, pelo menos. Estou certo, não?

O Garoto de ÓculosOnde histórias criam vida. Descubra agora