Capítulo 1 - Dia 0

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                                                                                   Três Anos Atrás

      Kirishima olhou fixamente para seu braço, a pele bronzeada bloqueada pela escrita. A casa estava silenciosa, seu pai foi passar o dia em seu respectivo local de trabalho e Kirishima estava sozinho. Mas o que mais havia de novo?

       Lentamente traçando seus olhos sobre a curva de cada letra, Kirishima se permitiu afundar em sua miséria. A dor pura e avassaladora de não ter uma resposta o estava esmagando, esmagando seu coração, sua alma. Estava devorando-o por dentro, tornando cada vez mais difícil para ele continuar. Afinal, todos tinham uma alma gêmea, exceto ele. Ou isso, ou sua alma gêmea simplesmente não o queria. Não que Kirishima os culpasse. Com seus olhos carmesins perpetuamente abatidos e longos cabelos pretos flácidos que escondiam seu rosto abatido da vista, as lágrimas a apenas um momento de distância, Kirishima também não queria a si mesmo.

      Não que Kirishima os culpasse. Com seus olhos carmesins perpetuamente abatidos e longos cabelos pretos flácidos que escondiam seu rosto abatido da vista, as lágrimas a apenas um momento de distância, Kirishima também não queria a si mesmo. "Eu gostaria que você falasse comigo." Dizia a mensagem soando muito mais desanimada do que Kirishima pretendia. Ele franze os lábios, se perguntando se deve ou não tentar novamente, mas decidiu não tentar. Talvez este fosse o dia em que ele receberia uma resposta. Minutos se passaram, depois horas, e a mensagem começou a desaparecer, não por alguém apagando-a, mas simplesmente pelo tempo cobrando seu preço. Kirishima não se moveu de seu assento no sofá, preferindo permanecer perfeitamente imóvel, como uma estátua. Dessa forma, ele poderia fingir que realmente não existia, algo que ele se viu desejando cada vez mais recentemente.

    Uma batida soou em algum lugar à sua esquerda, o som da porta da frente de Kirishima se fechando, e um olhar de pânico tomou conta de suas feições. Dando um pulo, Kirishima saltou sobre o encosto do sofá e disparou pela sala de estar, indo em direção à porta do quarto. Assim que seus dedos roçaram a maçaneta, uma voz o deteve.

— Eijiro. — Kirishima congelou, o corpo rígido. Ele não queria se virar, não o fez, mas sabia que seria pior se não o fizesse. Então ele se virou, encarando o homem que estava atrás dele. O pai de Kirishima era uma figura imponente, muito mais alto do que qualquer um que Kirishima pudesse se lembrar de ter visto, com um olhar constante de raiva no rosto e punhos cerrados, sempre pronto para acertar algo- ou no caso de Kirishima, alguém. Agora que ele era mais velho, Kirishima ficou melhor em evitar esses ataques, mas ele nem sempre teve tanta sorte. Houve dias em que ele não pôde ir à escola devido aos hematomas, e esses dias foram os piores, porque Kirishima sempre soube que estava perdendo algo, e isso só fez o buraco em seu coração ainda maior.

— Onde você está indo? — O pai de Kirishima perguntou, colocando as mãos nos quadris e fixando o filho com um olhar desconfiado.

— Para o meu... para o meu quarto, — Kirishima murmurou, querendo nada mais do que desaparecer. Ele ansiava por se mover, girar e se trancar, onde não poderia ser ferido, claro, ele tinha sua individualidade, mas era algo que seu pai odiava, já que lembrava de sua mãe, então se Kirishima tentasse usá-la, a punição seria dez vezes pior.

— Desculpe? Eu não ouvi você, — seu pai zombou, estreitando os olhos, desafiando-o a responder.

— Para o meu quarto, — Kirishima repetiu, desta vez mais alto. Ele manteve a cabeça erguida, não mostrando fraqueza, já que fraqueza era o que seu pai mais odiava. Não só isso, mas Kirishima odiava suas fraquezas. As dos outros não o incomodavam; pessoas que podiam mostrar suas inseguranças eram algumas das pessoas mais fortes, Kirishima havia decidido há muito tempo. Mas suas próprias lutas eram aquelas que ele queria- ele precisava- manter escondido, ou então ele poderia perder o frágil controle de sua sanidade.

14 Dias (KiriBaku - BakuShima)Onde histórias criam vida. Descubra agora