Capítulo 11 - Dia 9

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Domingo era um dia normal para Kirishima; pelo menos, tão normal quanto dividir uma casa com cerca de 20 adolescentes superpoderosos pode ser. A energia acabou por volta do meio-dia porque Kaminari adormeceu com um carregador na boca e, posteriormente, teve um mini-pesadelo, causando um curto-circuito em todo o prédio, bem como em si mesmo. Um monte de talheres flutuou até o teto enquanto Uraraka proibia qualquer um de comer até que todos estivessem sentados, e Mina 'acidentalmente' queimou um buraco na porta de Mineta quando ela o pegou bisbilhotando o quarto da garota novamente.

Embora tudo isso fosse imensamente divertido, Kirishima não conseguia se livrar do fardo pesado que sentia em seu peito, pesando em seu coração e sua felicidade, parecia, pois, ao longo do dia ele sentia que cada sorriso, cada comentário positivo e soco amigável era falso. Ninguém parecia notar, todos os seus amigos o tratavam exatamente da mesma forma. Kirishima não sabia dizer se isso o fazia se sentir melhor ou pior. Provavelmente a segunda opção. O que ele não viu, no entanto, foi sempre que ele estava perto de Bakugou, as íris vermelhas pareciam segui-lo ao redor da sala, estreitadas, mas não irritadas. Era um olhar que ninguém viu no loiro antes, então eles o ignoraram.

Somente quando o dia de socialização, treinamento e malhação acabou, Kirishima finalmente desmoronou em sua cama, vestiu seu pijama e completamente pronto para sucumbir ao (ele esperava) descanso pacífico que seu sono traria. Nesse estado, ele não ficaria surpreso se outro pesadelo decidisse levantar sua cabeça. Uma vez que Bakugou apagou as luzes após sair do banheiro, enfiando-se em seu próprio futon no chão, Kirishima falou.
— Ei... Bakugou? — Sua voz era calma, quase tímida, como se o que quer que ele estivesse prestes a perguntar fosse uma experiência desgastante tanto para ele quanto para Bakugou. Houve silêncio, e por um momento Kirishima prensou que Bakugou tinha realmente conseguido adormecer no pouco tempo em que esteve deitado, mas um grunhido de reconhecimento lhe disse o contrário.
— O que, cabelo de merda? — Normalmente, as palavras eram cuspidas, zangadas ou pelo menos levemente aborrecidas, mas elas saíam relativamente calmas. Respirando fundo, Kirishima rolou para que sua cabeça pendesse para o lado de sua cama.
— Posso te dizer uma coisa? — Bakugou não estava de frente para ele, seus olhos abertos ou fechados, Kirishima não tinha ideia estavam perfurando a parede, e ele não respondeu. Kirishima aproveitou a oportunidade para rapidamente negar algumas coisas.
— Você não precisa ouvir, você pode ir dormir ou me dizer para calar a boca se eu estiver sendo muito barulhento ou irritante, mas sinto que preciso compartilhar essas coisas com alguém ou vou explodir-
— continua, cabelo de merda.
— Ah... certo... — Kirishima parou em silêncio, sem saber como continuar. — Eu só... não é muito másculo da minha parte-
— Eu disse, continue com isso. — Embora as palavras tenham sido ditas com um estalo, havia um tom de sinceridade que Kirishima não conseguia identificar, mas o fez perceber que Bakugou realmente o entendia. Tipo, realmente o entendia.
— Está bem, está bem. — Ele riu sem jeito, o som forçado e quase estrangulado. — Às vezes... — Kirishima respirou fundo, preparando-se.
"Ele nunca mais vai falar com você depois disso."
— Às vezes, sinto que nunca poderei ser um herói. — As palavras ficaram abertas, vazias no ar. Bakugou não disse nada.
— Eu sinto que, comparada a todas as outras, minha individualidade é tão... média. Chata. Se você tem alguém que pode correr tão rápido que mal consegue vê-lo, ou alguém que pode imobilizar vilões antes mesmo de fazer seu primeiro movimento, por que você precisaria de mim? Tudo o que posso fazer é endurecer minha pele contra-ataques. Sou inútil, certo? — Kirishima deu uma risada curta e sem alegria. Ainda assim, Bakugou não disse nada.
— Ninguém fora da UA acredita em mim. Meus colegas, no ensino médio? Eles foram os únicos que me disseram a verdade! — E agora Kirishima estava rolando, palavra após palavra saindo de sua boca como vômito, incapaz de se conter. E daí se Bakugou nunca mais quiser falar com ele depois disso? Kirishima só estaria mentindo para ele sobre quem ele realmente é, quem ele era, e agora está tudo em aberto. — Até minha alma gêmea reconhece! Ela nunca fala comigo, você sabia disso? Nunca, nenhuma ver sequer, ela nunca respondeu nenhuma das minhas mensagens, ou tentou iniciar uma conversa. Até ela sabe que eu sou um inútil, um desperdício de espaço.

14 Dias (KiriBaku - BakuShima)Onde histórias criam vida. Descubra agora