— Para com isso — Kirishima disse meio alto quando Mina o cutucou pela centésima vez naquele almoço. E daí se seus olhos continuavam vagando para o topo da cabeça de Bakugou enquanto o loiro caía sobre a mesa, com os fones de ouvido depois de murmurar algo sobre não conseguir lidar com essa besteira. Porque era uma merda? Talvez não seja o que Bakugou estava pensando, mas o jeito que seus amigos o incomodavam com isso era demais! Outra colisão no ombro, e Kirishima fez uma careta. — Ah sério!? — Ele deve ter falado mais alto do que pretendia, porque Bakugou inclinou a cabeça e olhou para cima da mesa, os olhos fixos nos de Kirishima.
— Caramba, Cabelo de Merda. Oque foi? — Fixando um sorriso em seu rosto, Kirishima sorriu para ele.
— Ah, nada! — Ele coçou o pescoço desajeitadamente enquanto Bakugou mantinha seu olhar cético centrado nele, mas eventualmente desviou os olhos, estalando a língua e murmurando um apressado:
— Tanto faz...Se Bakugou viu o olhar que Sero, Mina e Kaminari trocaram, ele não demonstrou, em vez disso se inclinou para trás e inclinou a cabeça sobre a borda da cadeira. Mina aproveitou a oportunidade para bater o joelho contra o de Kirishima com um sorriso malicioso. Muito abruptamente, Kirishima ficou de pé, os quadris batendo contra a mesa com força suficiente para fazer a bebida de Kaminari cair e derramar sobre a mesa. Com olhos arrependidos, Kirishima pediu licença e saiu da mesa, voltando para a sala de aula para um pouco de paz e sossego antes do almoço terminar. Talvez ele pudesse resolver essa torrente de emoções dentro dele. Ele gostava de Bakugou, Kirishima sabia disso. Ele gostava da maneira como esfregava os olhos ao escovar os dentes, e da maneira como ocasionalmente gritava com objetos inanimados por não fazerem as coisas que deveriam fazer, e como, apesar de seu exterior de arame farpado, uma parte dele se importava para as pessoas, mesmo que ele tivesse uma maneira distorcida de mostrar isso. A maneira como ele olhou através do exterior feliz de Kirishima, mas não o fez se sentir exposto nem um pouco.
A sala de aula, com certeza, estava vazia quando Kirishima chegou. Ele alcançou sua cadeira e desabou nela, deixando cair a cabeça sobre a mesa com um baque alto. O silêncio o envolveu como um cobertor alegremente enrolado nele, mas não durou mais de um minuto.
— O que diabos está errado com você hoje?
— Oi? — Kirishima se levantou, assustado, com força suficiente para balançar sua cadeira em suas duas pernas traseiras, seu impulso o levando para trás e caindo no chão. Claro, Kirishima estava ileso, sua individualidade foi ativada antes de seu corpo colidir com o chão, mas ele estava um pouco atordoado. Piscando algumas vezes, Kirishima recuperou sua orientação, então olhou para a porta e viu Bakugou, encostado no batente. — Ah, Bakugou! — Bakugou não ficou surpreso.
— Eu te fiz uma pergunta, Cabelo de Merda — ele murmurou, os olhos se afastando, vermelho queimando em torno de suas orelhas. Kirishima teve que piscar algumas vezes. Bakugou ficou envergonhado? Ele riu baixinho, a voz ecoando suavemente na sala vazia enquanto ele se levantava e arrumava sua cadeira, recostando-se nela.
— Eu estou bem, cara.
— Não minta para mim. — Com o polegar esfregando ansiosamente sobre o antebraço, Kirishima forçou um sorriso, desviando os olhos.
— Eu não estou mentindo. Eu estou ótimo, sério. — Houve silêncio, por um momento, e então o som de uma cadeira raspando no chão assustou Kirishima um pouco. Ele olhou para cima para ver Bakugou olhando para ele, uma camada de rosa em suas bochechas. El estava envergonhado.
— Olha, Cabelo de Merda. Eu não sou burro, e seu humor esquisito está deixando aqueles outros idiotas estranhos. Eu não aguento essa merda, então me diga o que está acontecendo ou vai te foder. — O nariz de Bakugou torceu um pouco, e honestamente era fofo e muito perturbador, mas Kirishima se afastou e voltou sua atenção para seu braço.
— Eu... — Procurando por palavras, Kirishima passou de arrastar o polegar sobre o braço para o dedo mindinho, apenas para sentir o formigamento vagamente reconfortante que o acompanhava. Sua manga subiu um pouco quando ele descansou a cabeça no antebraço. — É só- — Ele não podia dizer a Bakugou que a razão pela qual ele estava agindo estranho era porque ele tinha uma queda por ele! Ele não poderia arruinar o relacionamento deles assim, a amizade de Bakugou significava muito para ele. Justo quando Kirishima foi abrir a boca para contar outra mentira com culpa, o dedo traçando a pele ao redor da borda de sua jaqueta, logo ao redor da borda, uma linha preta seguindo, Bakugou empurrou a cadeira para trás.
— Então, foda-se — ele murmurou com raiva, virando-se. Toda a sua postura era rígida, tão antinatural, como se Kaminari tivesse acabado de enviar uma carga de volts correndo por seu corpo.
— O-o quê? Não! — Kirishima protestou, mas Bakugou já havia passado por ele e sentado em seu próprio assento. — Bakugou, não é-
— Cala a boca, Cabelo de Merda, — Bakugou sussurrou, sua voz falhando um pouco, como se ele estivesse nervoso. — Eu te disse que eu não aguento essa merda estão que se foda.
"Quê? O que está acontecendo? O que acabou de acontecer?"
— Bakugou, eu- — O som áspero do sinal abafou o resto das palavras de Kirishima, não que ele realmente soubesse o que ia dizer. Sua mente zumbiu, uma montanha de pensamentos conflitantes batendo um no outro. Levou um minuto para os outros alunos entrarem. Um minuto de silêncio que Kirishima não tinha ideia de como preencher. Ao longo da aula, aparentemente todos na sala podiam sentir a magnitude da raiva na aura de Bakugou, o que fez com que Mina enviasse continuamente olhares curiosos e (o que provavelmente deveria ser) tranquilizadores para Kirishima. O loiro foi o primeiro a enfiar seus livros em sua mochila quando o sinal final tocou, e desaparecer da sala de aula, presumivelmente indo para o treino já que ele virou à esquerda na porta, ao invés da direita em direção aos dormitórios.
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14 Dias (KiriBaku - BakuShima)
FanfictionEm um mundo onde todos têm uma alma gêmea, Kirishima está convencido de que não. Ainda assim, ele deixa notas e mensagens na esperança de que sejam devolvidas. Bakugou, por outro lado, dispensa sua alma gêmea. Afinal, se você quer se tornar um heró...