Capítulo Extra - Dia 75

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Demorou dois meses para Kirishima se abrir com Bakugou sobre seu passado e toda a bagagem que veio com ele. Bakugou, é claro, se desculpou (à sua maneira) por sua aversão a ter uma alma gêmea, dizendo como ele não conseguia ver o realismo de ser capaz de equilibrar a vida de um herói e ter um parceiro. E Kirishima entendeu o perdoou. Ele não podia imaginar namorar alguém e constantemente temer por eles devido a seu status pessoal, que é meio que de onde Bakugou estava vindo. Claro, Kirishima definitivamente vai ficar com medo se Bakugou não responder a uma mensagem após a patrulha, ou não ligar para ele imediatamente após uma batalha, mas pelo menos ele tem o conforto de saber que Bakugou é perfeitamente capaz de cuidar de si mesmo.

Agora as férias estavam se aproximando rapidamente, todos planeando para ir para casa, ver seus pais e familiares, conversando sobre tradições familiares, enquanto Kirishima sorria e fazia barulhos afirmativos quando apropriado, temendo ter que ir para casa. Bakugou, é claro, viu a rápida mudança de comportamento de Kirishima e o arrastou para um almoço, apesar dos protestos gritados de Kaminari e Mina, que estavam desafiando Kirishima em uma queda de braço 2v1. O aperto de Bakugou era forte, como se ele pensasse que Kirishima pudesse tentar correr. Eles deixaram a cantina e as vaias de seus amigos para trás, caminhando por corredores vazios, seus passos ecoando levemente no silêncio. Nenhum deles falou. Honestamente, Kirishima esperava que Bakugou o levasse a algum lugar para uma sessão de amassos. A distração seria bem-vinda. Ele ficou desapontado e um pouco aliviado, curiosamente, quando Bakugou dobrou uma esquina, puxando Kirishima com ele e parou, empurrando-o contra uma parede e rosnando
— Fala — Kirishima riu nervosamente, esfregando o pescoço.
— O que você quer dizer? — Claramente, Bakugou não estava com vontade de fazer merda nenhuma, porque seus lábios se curvaram em um rosnado, as mãos se fechando em punhos.
— Não me faça socar você, Cabelo de Merda. — Risadas desanimadas pararam, e Kirishima olhou para Bakugou, estudando-o. Ele poderia dizer isso? Como Bakugou reagiria, sabendo que sua alma gêmea era realmente tão fraca? Tão frágil que não podia nem encarar o próprio pai?
— Eu... — As palavras falharam, então Kirishima engoliu em seco e tentou novamente. — Eu não posso. — Bakugou bufou, mas não soou desdenhoso. Havia um tom de... algo, em sua voz, e isso arrancou o coração de Kirishima. Suave, como se ele soubesse que o que quer que estivesse preocupando Kirishima levaria algum tempo para se revelar.
— Como diabos você não pode. Diga-me por que você parece todo estranho, Eijiro. — Depois de uma pausa, Kirishima franziu os lábios.
— É complicado, Katsuki — ele acabou dizendo, arrastando o dedo mindinho sobre o antebraço. Ele notou como os olhos de Bakugou piscaram para seu próprio braço, e como seus ombros tremeram com um pequeno arrepio.
— Não me diga. Mas nós não vamos embora até que você me diga o que está errado, ou eu arranco de você. — Vindo de qualquer outra pessoa, literalmente de qualquer outra pessoa, Kirishima se desligava, se escondia e insistia que estava tudo bem. Mas a maneira como Bakugou disse isso, palavras afiadas com uma suavidade que raramente se mostrava, a maneira única de Bakugou de se preocupar e cuidar de Kirishima, começou a destruir as paredes em sua cabeça. Ele considerou, então estendeu a mão e pegou a mão de Bakugou, os dedos a apertando, sentindo aquela onda de calor quando Bakugou os apertou de volta em resposta e voluntariamente deixou Kirishima guiá-los para o banheiro, trancando a porta atrás deles.
— É um... não é algo que eu possa explicar rapidamente. — Bakugou fez uma pausa, considerando algo, lábios franzidos.
— A aula de inglês pode esperar — ele disse eventualmente, e Kirishima não pôde deixar de erguer as sobrancelhas com uma expressão de surpresa.
— Senhor Futuro Herói Número Um faltando a uma aula? Eu não acredito nisso — brincou ele, uma terrível tentativa de aliviar a situação. Para evitar a situação, talvez. Kirishima não tinha certeza. Bakugou não riu. Agora a atmosfera havia mudado, pesada, densa e opressiva. Parecia que repousava inteiramente nos ombros de Kirishima. Suas pernas pareciam fracas. Lentamente, ele encostou as costas na parede e deixou-se deslizar para baixo até estar sentado em ladrilhos frios com os braços em volta dos joelhos e a cabeça apoiada neles.
— Eu não quero que você saiba o quão fraco eu realmente sou — ele admitiu calmamente, suas palavras ainda ecoando no banheiro vazio e silencioso. Kirishima nem percebeu que Bakugou havia se agachado até que eles estivessem no nível dos olhos, os olhares se encontrando. Era elétrico, formigamento percorrendo os braços e costas de Kirishima, dando-lhe arrepios. Ele tinha seu batimento cardíaco nos olhos, um relâmpago na ponta dos dedos, um redemoinho em sua cabeça.
— Você não é fraco — Bakugou disse simplesmente, uma pontada em sua voz. — Você é minha alma gêmea, Eijiro. — 'Você pode me dizer, eu não vou embora' foram as palavras não ditas, mas Kirishima as ouviu de qualquer maneira. Bakugou nunca disse coisas que não queria dizer, mesmo que tecnicamente não as dissesse desta vez.
"Ele vai te odiar se você disser isso."

14 Dias (KiriBaku - BakuShima)Onde histórias criam vida. Descubra agora