No Próximo Verão (Duologia Romance de Verão)

20 - Trabalho

                              Melissa

                              Trabalho

Do Latim tripalium ou tripulus

Significado:

O emprego, o ofício ou profissão de alguém.

Grande dificuldade.

Responsabilidade.

Conjunto de atividades realizadas por alguém para alcançar um determinado fim ou propósito.

Os mecanismos mentais ou intelectuais utilizados na realização de algo.

Atenção empregada na realização ou fabricação de algo; esmero.

Sim. Trabalho. Foi a palavra do meu repertório que destaquei ao ver vinte e três crianças diante da mesa da cozinha gourmet de Kimberly Grace. Os gêmeos Elsa e Reece, nas respectivas cadeirinhas de alimentação, completavam as vinte e cinco. Os bebês contribuíam com o alvoroço com palavras ininteligíveis e balançando suas pernas e braços rechonchudos.

 Contudo, o que sucedia na cozinha eu jamais classificaria como uma grande dificuldade, e sim como um mecanismo mental, intelectual, atenção e responsabilidade, pois precisávamos de toda a definição de trabalho para cuidarmos das crianças que colocaram a mão na massa para fazer os cookies.

De súbito um suspiro às minhas costas tirou meu foco dos pequenos inocentes que, infelizmente, foram abandonados pelos pais, por força maior, ou por maldade mesmo.

— Eles me lembram tanto Callum e Chase... — Kimberly contou, seus olhos brilharam nostálgicos. — Eu também fazia biscoitos, mas infelizmente ficavam duros. Chase comia mesmo assim, mas Callum não gostava...

— Chase gostava de cookies, Callum talvez não — opinei. — Você nunca disse ter outro filho — cobrei uma explicação da mulher que se tornara algo como uma amiga no clube da igreja.

— Chase é o filho problemático, sabe? Callum ganhou o mundo muito cedo. Diferente de Chase, ele sempre quis cursar medicina, e tornou-se um Médico Sem Fronteiras; casou-se, mas se separou porque a esposa não suportou viver de país em país. — Balancei a cabeça como que compreendendo o relato. 

— Cada pessoa é abençoada com um dom — comentei evitando um silêncio constrangedor.

Kimberly concordou.

— O de Chase é o amor e a sensibilidade. — Ela fixou a mirada em mim. — Chase era mais dependente, e Callum independente, e eu nunca falei sobre ele porque não convinha, meu foco era meu filho mais novo. Meu filho mais velho encontrou seu mundo muito rápido, já Chase...

— Não! — um coro de negativas infantis interrompeu o discurso de Kimberly.

— Sim! — Chase rebateu a negativa das crianças.

— Não tem como alguém fazer cookies deliciosos e ser ranzinza — o não especialista em cookies, participou da conversa que não compreendi. — Só se ela for como a bruxa do João e Maria. Ela não é uma bruxa, é, Dash? — indagou o menino repentinamente me olhando desconfiado.

Então atentei que da mesma maneira que Kimberly me puxara para uma conversa paralela, Chase fizera o mesmo com os pequenos, mas me maldissera.

Ele era tão implicante...

— Não. Olhe bem para ela. Bruxas são feias. — Dash me surpreendeu ao vir em minha defesa. Ele relanceou o olhar em mim, e sorrindo, voltou a conversar com o rapazinho: — Bruxas não têm cabelos bonitos, nem narizes empinados, muito menos lindas sardas no rosto.