53 - Guardar Memórias

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Chase


Guardar memórias


Redirecionando meus pensamentos e gozando perfeitamente das minhas faculdades mentais, galguei para longe do meu primo.


Eu sabia o que fizera ao afastar Kent da casa noturna: arranjara mais trabalho para mim. Se Kent não trabalhasse, eu teria que substituí-lo.


Também sabia o que precisava fazer: precisava assumir meu papel na vida da garota, fosse de namorado, amigo, protetor, apoiador, salvador...


Fosse o que fosse, eu a ajudaria.


E enquanto me direcionava ao grupo em que Melissa se encontrava, peguei mais uma dose de whisky de uma das bandejas que passou por mim. Engoli o líquido âmbar em dois goles e descartei o copo na bandeja seguinte, pegando um copo d'água que teve o mesmo destino que o álcool. Nesse ínterim, meditei na minha relação com Kent e na criação que tivemos. Eu e ele diferíamos um do outro, e seis anos nos separava em idade, seis anos nos separava em maturidade, ainda que maturidade não tivesse a ver com idade. Eu pensava ter a ver com aprendizado, consciência, percepção e ensinamento.


Sim, ensinamento. Ensinamentos dados por Kimberly Grace, uma mulher cristã dedicada e fervorosa que nunca impôs sua doutrina a mim ou a meu irmão, mas me ensinou o caminho correto - apesar de me desviar dele constantemente.


Kent fora criado por Lucinda Esperanza Collalto, a irmã amarga de Kimberly Grace, logo, adquiriu costumes reprovadores. Todavia, meu primo não era totalmente ruim, ninguém é totalmente ruim, todos temos defeitos. E meu defeito por exemplo, alguns viam como qualidade, e definitivamente retaliar quando prejudicavam a quem eu queria bem, não era um bom adjetivo. Portanto, ninguém incomodaria ou machucaria a ruiva dos lábios de pêssego. E detalhe, ela me presentearia naquela noite natalina, e o presente seria seu sorriso estonteante.


- Olá, crianças. Desculpem não falar com vocês, mas, antes tarde do que nunca, não é? - cantei alegremente.


- Negativo! Não faremos nada pra movimentar a festa, Lollipop - Dale foi o primeiro a se manifestar. O garoto me apelidara de pirulito porque vira nas minhas fotos antigas que eu me dedicara a malhar os braços e esquecera as pernas.


- Me respeita, moleque, meu corpo ainda ganha dos seus lábios rosados, seu peitoral definido e sua bunda gostosa. - Dale corou, ele não lidava bem com elogios, não era muito fã de conversas com conteúdo sexual, principalmente quando eu falava como uma menina. - Relaxa. - Bati no seu ombro, ele suspirou relaxando, e eu ri, medindo em seguida cada rosto diante de mim, esperando os demais se posicionarem.


- O que Dale quis dizer é que vovó nos advertiu para não te dar nenhum presente de natal, ou seja, munição para acabar com a festa dela, pai - Ayo participou fingindo indiferença ao examinar as unhas.


- A concordância veio em uníssono, todos me viraram as costas, e eu nem planejara agitar a festa - emoji de anjinho para mim. Mas quando tudo está perdido, sempre existe um caminho, minhas esferas viajaram até Melissa, e eu a flagrei me observando.


- Eu te ajudaria se soubesse do que se trata. - Encolheu os ombros e sorriu docemente, enquanto eu me embevecia com sua imagem.


- Vocês pirralhos me decepcionam. - Deixei passar o comentário da ruiva, me endireitei e sorri. Meu sorriso veio da alma, pois ela torceu o canto dos lábios em evidente agrado. - Longe de mim, estragar essa festa! Deus sabe que compareço às comemorações da mamãe com a maior boa vontade, minhas intenções são sempre boas, mas ao chegar aqui... Quem ouve Choupá no natal?


 No Próximo Verão (Duologia Romance de Verão)Onde histórias criam vida. Descubra agora