3- Moça da jaqueta

663 57 2
                                    


Elaninha biscate – "Carol a familia do Zyan comanda a máfia cubana." [18:41 p.m]

Todos os pelos do meu corpo se arrepiaram ao ler aquilo. Eu desde sempre tentei me manter longe de coisas erradas. Depois que meus pais morreram, quando eu tinha oito anos, eu fui morar com minha avó materna. Ela era uma mulher pobre, mas com um enorme coração, a vizinhança a qual ela morava era bem perigosa e todos os dias ela me dizia "Carolzinha, se alguém te oferecer algo diga não e vá embora, seus pais lá do céu e eu vamos ficar muito tristes se você aceitar algo". No inicio eu achava que ela falava de balas, doces ou coisas do gênero. Quando fiz quinze anos e um dos meninos da escola me ofereceu um papelote de cocaína por dez dólares eu descobri do que ela estava falando.

- Tudo bem querida? – Zyan perguntou no meu ouvido.

- Tudo sim. – Engoli minha própria saliva

.Eles continuaram a conversar, até eu comecei a participar mais da conversa. Minha cabeça estava lotada de perguntas, mas estas só poderiam ser feitas ao Zyan. Ouvimos a porta da sala de jantar correr, porque era uma porta de trilhos e lá surgir a morena do posto de gasolina. Ela estava vestida da mesma forma, tirando o pouco de terra que havia na sua jaqueta, pude notar também sua mão enfaixada por um pano surrado. E eu estava certa, ela fazia parte da família de Zyan.

- Boa noite senhores! Senhoras! – Ela cumprimentou a todos.

Diana, Daniel e eu fomos os únicos que demos boa noite a ela.

- Vá se lavar e venha jantar. – Robert falou ríspido.

- Sim Senhor! – Ela ia sair, mas Zyan soltou um pigarro.

- Penso que apenas a família deveria estar presente nessa ocasião. – Zyan se pronunciou.

Eu apenas franzi o cenho sem entender. Diana parecia surpresa com a atitude do irmão. Daniel apenas abaixou a cabeça, enquanto César calou-se, deixando a decisão para o pai.- Então vá jantar na cozinha com os empregados.

– Robert falou.

- Sim senhor! Com licença, desculpem o incomodo. – Ela prestou um breve reverencia e saiu.

O clima ficou um tanto estranho naquele local, eu ainda estava alheia a situação.

- Você é inacreditável Zyan.

-Diana! – César chamou atenção da filha. Ela apenas levou a taça de vinho a boca tomando por completo o liquido que havia ali.

– Sirvam o jantar. – César fez um gesto de mão e a empregada sumiu numa das portas, que deveria dar para a cozinha.

Durante aquele tempo em silencio, eu só conseguia pensar na mulher. Obviamente que todos as conheciam e que Diana tinha uma ligação com ela, mas porque Zyan a mandaria comer na cozinha com os empregados? Que mal teria ela se sentar a mesa conosco? Comida tem de sobra. Será que ela fez algum mal para ele? Será que ambos são rivais? Ou ela é filha de uma das empregadas e do senhor Limns? Porque ela é muito parecida com os Limns. Seus cabelos escuro, sua pele bronzeada e a característica mais marcante deles, os olhos. Depois de um tempo o clima amenizou e todos voltaram a conversar. César fez um brinde a nosso noivado, desejou felicidades e todos fizeram o mesmo. Depois do jantar todos decidiram ir para a varanda conversar. Zyan foi conversar com alguns dos homens que estavam do lado de fora da casa. Me deixando com seu pai. Como todos os outros da família, seus olhos eram enigmáticos e intimidantes.

- Como está se sentindo em relação ao casamento? – César me perguntou.

- Eu estou animada. – Falei sincera

- Zyan fez certo em te trazer antes de se casarem, afinal você precisa se acostumar com nossa família.

- Ele falava pouco sobre vocês, eu até me surpreendi quando ele disse que queria passar um tempo aqui.

- É bom que você já se habitua com a casa e não ficará perdida quando vier morar. Lembro de uma pessoa que trouxe aqui, que ficava perdida as vezes. – Ele sorriu.

Eu apenas continuei o assunto com César tentando não sair dali e começar a lançar as diversas perguntas que tinha para Zyan. Eu estava impaciente, quando Zyan me mandou dormir e ficou ali conversando com os homens. Quando o relógio marcou onze e doze da noite, me levantei por conta da falta de sono. Precisava falar com Zyan. Eu não queria morar naquela casa, era uma casa linda, mas não era 'a sua' casa, com seu esposo e sim a casa de seu pai. Desci as escadas, enrolada em seu hobby de cetim. Decidi procurar por Zyan do lado de fora da casa, mas ninguém estava mais lá. O jardim, assim como a casa, era enorme, então decidi caminhar para ver se encontrava meu noivo. Andei por ali, mas nada. Cheguei até a parte de trás da casa, onde havia uma enorme piscina. Seria bom mergulhar ali nos dias de calor. Vi duas sombras num canto mais afastado da piscina e decidi ver se era Zyan. Quando fui chegando perto, percebi que não era Zyan, mas sim aquela mulher que Robert mandou ir comer com os empregados

- Você precisa acabar com... – O homem que conversava com ela parou de falar.

– Quem é você? – Ele falou grosseiro.

Ela se virou e seu olhar se encontrou com o meu.

- Está tudo bem Drew. – Ela falou.
– Ela é a noiva do Zyan. Está tarde, não deveria ficar andando pela casa Senhorita.

- Vocês viram o Zyan? – Perguntei na esperança de um deles me dizer.

- Não. – Os dois falaram ao mesmo tempo.

- Obrigada! – Falei um tanto desanimada.

Comecei a voltar, mas percebi que estava perdida. O caminho parecia diferente, sem contar que mais escuro. Ouvi passos atrás de mim e talvez pelo que Elana me contou, eu acabei ficando com medo de quem poderia ser. Eu tentei me esconder, mas assim que me virei eu acabei dando de cara com alguns arbustos e cai em cima deles.

- Está tudo bem? – A mulher morena apareceu e me ajudou sair do meio dos arbustos.

- Estou. – Eu me limpava por conta das folhas que ficaram presas no meu hobby.

- Você está indo para o lado errado. Se quiser entrar na casa, tem que voltar e seguir em frente. – Ela me instruiu.
– Indo por aqui você vai chegar ao labirinto.- É uma casa muito grande. – Sorri sem graça.
- Posso te acompanhar até a porta da casa. – Ela olhou rapidamente a hora em seu relógio de pulso.

- Eu não quero atrasar você.

- Não tem problema. – Ela sorriu de maneira doce.

- Você trabalha aqui? – Eu estava muito curiosa para saber sobre ela e sobre o porque daquele clima todo quando ela apareceu.

- Vamos dizer que sim. – Ela colocou os braços para trás.

- Trabalha com o que? – Ela ficou pensativa e então sorriu, como se lembrasse de alguma piada.

- Na área administrativa, corte de pessoal, recolhimento de dinheiro e as vezes venda de mercadoria.

- Faz bastante coisa.

Realmente eram muitas funções. Chegamos até a porta de vidro que ficava na lateral da casa.

- Está entregue. – Ela ia saindo.

- Eu não sei seu nome. – Falei um pouco mais alto. Ela se virou novamente.

- Dayane, mas pode me chamar de Day.

- Caroline. – disse me apresentando. Dayane sorriu mais uma vez e se virou, voltando a caminhar.

Ainda consegui ouvir ela murmurar "Lindo nome." antes de sumir na escuridão do jardim.

⭐️???

Dupla Face :(:Onde histórias criam vida. Descubra agora