14- De volta ao inferno

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CAROL POV 

Depois do último telefonema, Day se isolou. Não sei se era porque eu falei alguma coisa que a deixou chateada ou porque havia acontecido alguma coisa, mas ela estava muito fechada. Durante a noite tentei dormir abraçada com ela, mas ela virou de costas, não me dando nenhum espaço. Eu não consegui dormir desde aquela hora, rolei na cama e tentei abraçá-la, mas ela nem se quer se moveu.  Quando o relógio marcou 7:00 horas em ponto ela levantou da cama e foi para o banheiro, sem dizer uma palavra. Eu desisti de ficar deitada e fui arrumar as roupas que ela havia deixado jogadas em cima da pequena poltrona do quarto. Peguei as roupas que eu sabia que estava limpa, as que ela trouxe da minha casa, e dobrei. As roupas do dia anterior eu separei para lavar. Mexi nos bolsos da calça para ver se não tinha moedas ou dinheiro, eu ia colocar logo dentro da máquina, mesmo não sabendo onde ela ficava. De lá tirei cinco dólares, quarenta e sete centavos e dois papéis de números, coloquei o dinheiro em cima do criado mudo e os papéis eu quase joguei no lixo porque eu sabia que eram de mulheres. Não que eu não quisesse que Day se relacionasse com ninguém, pelo contrário eu queria que ela encontrasse alguém a altura dela, não essas vadias que ligam no meio da madrugada atrapalhando nosso sono. Depois de terminar de separar a roupa suja, fui dobrar sua jaqueta e algo caiu de lá, parecia um cartão. Quando me abaixei para pegar eu percebi que era uma das cartas de tarô da cartomante.  Por que Dayane estava com essa carta? Rainha de copas, até que o desenho é bonito, vou roubar essa carta dela.  Coloquei a carta dentro da minha bolsa, alegando mentalmente que ela não faria falta da carta. Fiquei sentada na cama esperando ela sair e nada. Quarenta minutos de banho e eu morrendo de ansiedade para falar com ela. Não me aguentei e entrei no banheiro. 

- Precisamos conversar. - O vidro era claro, mas estava embaçado por conta do vapor. Dayane se virou tirando o excesso de água dos olhos e ficou surpresa ao ver. 

- Agora? Durante meu banho? 

- Você esta há quarenta minutos aí, daqui a pouco está com mãos de velho. 

- Mãos de que? Enfim... - Ela balançou a cabeça. - Eu estou nua e não sei sobre o que precisamos conversar. 

- Você está estranha desde ontem à noite. 

- Ah estou? - Ela falou irônica.

- Não comece com suas ironias ou essa conversa vai virar uma briga. - Falei séria. Odiava quando ela agia daquela forma pra me atingir. 

- Tudo bem, pode me passar à toalha? - Me virei para pegar e a entreguei.

Dayane se enrolou na toalha e meu olhar desceu rapidamente para suas pernas.  Acho que quando estão molhadas as coxas dela parecem maiores. 

- Você pode se virar para eu me trocar? - Eu me virei. 

- Você sabe que temos as mesmas coisas, certo? - Falei divertida.

Eu sempre fui uma pessoa muito inibida, mas com Day era como se eu já a conhecesse há anos, muitos anos mesmo, eu tinha intimidades com ela das quais não tinha nem com meu noivo.

  - Você não se controla e quer ficar tocando no meu corpo. 

- Só foi sua barriga... e na sua bunda e nem vem porque você sempre aperta e da tapa na minha bunda também. - me virei e Day já estava de roupa íntima, ficamos em silêncio.

- Day, ontem você ficou chateada por eu estar reclamando do seu celular? - Ela ficou pensativa. - Eu sinto muito se sou chata, eu prometo que vou mudar, mas não se afasta de mim. -Day me olhou de uma forma indecifrável.

Durante toda minha vida eu nunca tive muitos amigos, ninguém gostava de andar comigo, sempre me chamavam de esquisita. Eu nunca admiti isso para ninguém, mas sempre fui uma pessoa solitária. Minha avó me criou e eu a amava por isso, mas se ela me deu mais de 10 abraços nos 18 anos em que passei ao seu lado foi muito. Quando comecei a namorar com Zyan pensei que as coisas iam mudar, ele parecia ser diferente, mas ele era ausente, viajava, trabalhava e quando chegava em casa dormia. Com o tempo passei a me acostumar, mas não significava que eu não sentia falta daquilo tudo e no meio da minha solidão e carência interna, Dayane apareceu. Era estranho como eu já confiava nela antes mesmo de conhecê-la de fato, era como se eu já soubesse que seríamos grandes amigas. 

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