Capítulo 3

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EDA

Chego da rua e me jogo no meu mais novo sofá. Ele é em forma de L, da cor branca com pés de aço inoxidável e valeu cada centavo. Olho para minha casa com prazer, ela é de dois andares e aos poucos está ficando do meu jeito.

Hoje faz 2 meses que cheguei em Istambul e cada dia que passa fico mais encantada pela cidade. Já visitei todos os pontos turísticos, comi nos melhores restaurantes e comprei vários móveis de decoração. Até agora a única amizade que fiz foi com Fabrizio o atendente da cafeteria da esquina. Ele é um amor de pessoa e dou altas gargalhadas com as coisas que ele diz. Fiquei surpresa por ele ser assim, mas foi então que ele me contou sua história que fui entender o seu jeito despojado. Ele é italiano e se naturalizou turco há pouco mais de 3 anos. É casado com uma Turca e tem um filho de 6 meses, um menino lindo chamado Vicenzo.

Vir para a Turquia foi sem dúvida a melhor decisão que tomei, finalmente estou encontrando a paz que sempre almejei. Amo meu Rio de Janeiro, mas infelizmente ali também me traz lembranças dolorosas no qual eu pretendo esquecer. Minha única preocupação agora era pensar em que tipo de negócio eu poderia abrir aqui. Não posso ficar de pernas para o ar para sempre, e por mais que eu tenha bastante dinheiro uma hora ele irá acabar.

Com má vontade levanto do sofá e vou tomar banho. Depois de 20 minutos estou de volta ao sofá, só que dessa vez vestida com uma calça de flanela, meias e uma regata branca. Pego o vinho que comprei e abro. É um Merlot Francês, paguei caro, mas estou começando a pegar gosto pelos vinhos. Sirvo-me uma taça e o cheiro. O aroma é delicioso, mas quando estou a ponto de provar essa maravilha a campainha toca.

Merda, quem será? Me levanto e vou atender a porta, olho através do olho mágico e só vejo o tronco da pessoa, mas sei que é homem por causa do terno cinza.

Reluto um pouco, mas acabo abrindo a porta e me deparando com o homem mais lindo que eu já vi na vida. O rosto é familiar, mas não lembro de onde, mas quando fixo em seus olhos me dou conta de quem se trata.

- Srta. Eda? – Pergunta me tirando do rápido torpor.

- Sim, em que posso ajudá-lo? – Digo tentando soar natural.

-Eu sou Serkan Bolat, o homem que você salvou. – diz me olhando profundamente.

- Ah Claro... – Digo fingindo surpresa – Como o Senhor está?

- Melhor e graças a você. Eu posso entrar? - Pergunta esticando o pescoço para ver dentro de casa.

- Claro! - dou espaço e ele entra. Como poderia falar não para esse homem, provavelmente veio aqui me agradecer.

Ele analisa todo o apartamento e seu olhar para na mesa de centro onde repousa a garrafa e a taça de vinho.

- Estou interrompendo alguma coisa? – pergunta

- Não - digo – Só estava relaxando um pouco, você aceita uma taça de vinho?

- Claro!

- Sente-se, por favor. Vou pegar uma taça para você. - Aceita algo para comer?

- Não Srta. Yildiz o vinho é mais do que suficiente.

Noto que ele dá um sorriso de lado, o filho da mãe está achando divertido o meu desconforto. Corro para cozinha e respiro fundo tentando acalmar meus hormônios e em seguida volto para sala e o vejo analisando a garrafa de vinho.

- Você tem bom gosto para vinho - diz

- Comecei a experimentar vinhos há pouco tempo, ainda não sei diferenciar um do outro, mas aprecio os sabores. – digo com sinceridade.

- Você está no caminho certo – pega a taça da minha mão e se serve. – Vamos brindar!

- Brindar a quê?

- A mulheres corajosas que saem no meio da madrugada para salvar homens desconhecidos – Ele levanta a taça e pisca para mim.

Pela primeira vez desde que ele chegou abro um sorriso e levo minha taça ao encontro da sua, depois dou um gole no meu vinho e o vejo fazer o mesmo.

- Eu vim aqui para te agradecer por ter ligado para a emergência, sem sua ajuda talvez eu não estivesse aqui agora – diz me encarando.

- Foi nada Sr. Bolat, eu teria feito por qualquer um e acredito que outras pessoas fariam o mesmo.

- Sim, mas foi você que me salvou e te devo minha vida. Serei eternamente grato.– Diz

Um silêncio desconfortável reina no ambiente até que ele se pronuncia.

- Li no seu depoimento que você tem dupla cidadania. Quanto tempo está morando aqui Istambul?

- Sou brasileira, mas meu pai era turco. Estou morando há exatamente 2 meses aqui.

- Você veio para cá a trabalho?

- Não. Vim porque me encantei pela Turquia de tanto que o meu pai falava.

- Você fazia o que no Brasil?

Falo a primeira coisa que vem à cabeça

– Eu era promotora de eventos.

- Que legal. – diz

Mais uma vez o silêncio desconfortável toma o lugar e me pergunto o que ele ainda está fazendo aqui.

- Eu gostaria de convidá-la para jantar comigo no sábado.

- Por quê? – pergunto incrédula.

- Porque eu quero agradecer de alguma forma tudo o que você fez por mim.

- Não precisa você já agradeceu o suficiente.

- Não aceito um não como resposta.

- Sr. Bolat realmente não precisa.

- É só um jantar, não precisa ficar com medo. E você pode me chamar de Serkan. Sr. Bolat é muito formal. Eu prometo que depois do jantar te deixo em paz, tudo bem?

Penso por um momento o que teria de mal aceitar esse convite?

- Ok, eu aceito jantar com você.

Ele dá um sorriso presunçoso.

- No sábado passo aqui às 21:00h para te buscar - diz levantado do sofá e esticando as mãos para mim. – Foi um prazer falar com você.

O aperto de mão é forte e uma eletricidade atravessa meu corpo.

– E obrigada pelo vinho, estava delicioso.

Concordo com a cabeça e abro a porta.

- Tchau, Eda. – Diz usando o meu primeiro nome.

- Tchau, Serkan – digo e fecho a porta.

Pego minha taça e completo com mais vinho. Parece que a minha paz havia acabado de terminar. 

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