Capítulo 14

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A raiva tomou conta do corpo de Malfoy. Ele mesmo tinha quebrado as correntes de Hermione, tinha feito isso mesmo achando que qualquer outra pessoa da festa tivesse visto. Não suportava a ideia da garota presa.

Malfoy viu quando ela saiu tentando não fazer barulho e o que o deixou mais irritado foi um grupo de comensais ir atrás dela minutos depois que percebeu a corrente quebrada. Sim, era culpa dele Hermione estar naquela situação. E o pior...era culpa dele estar ali para tentar protegê-la.

- Ela é minha.- O loiro repetiu.- E vocês não deveriam estar aqui.

- E quem é você, rapaz, para nos dar alguma ordem?

Malfoy riu com escárnio.

- Sou aquele que vai matar vocês aqui mesmo antes de conseguir sequer tocá-la.- Ele manteve uma mão perto da varinha que estava em suas vestes.- Se não quiserem uma morte tão idiota, sugiro que se retirem.

Um dos homens começou a rir.

- Não sabia que um dos Malfoys era sujo e gostava de escravas sexuais.

- Garanto que ela não me acha sujo. Principalmente quando estou dentro dela.- O loiro respondeu com sorriso na direção de Hermione.

Do outro lado da sala Hermione apenas olhou para Malfoy com raiva nos olhos. Um olhar que Draco veio a ignorar. Em vez de ceder e sentir o olhar pesado da garota, Draco apenas estendeu a mão para ela.

- Venha.- Ele falou.

Hermione olhou confusa para a mão estendida do loiro.

- Venha de uma vez.- Ele repetiu com a voz mais forte.

A garota engoliu em seco e ajustou a capa. Suando frio enquanto passava pelos homens na sala. O medo fazia com que seu corpo tremesse descontroladamente. Quando Hermione chegou perto de Malfoy, ele a pegou bruscamente pelo braço e a trouxe junto de seu corpo. Com a outra mão Malfoy tirou, delicadamente, um dos cachos perto do ouvido dela.

- Acho que vou ter que te comer mais cedo esta noite querida.- Malfoy falou perto do ouvido de Hermione antes de puxar o braço da garota e sumir da vista de todos.

[...]

Hermione estava em choque enquanto era arrastada por Malfoy. Ela foi levada pelos corredores em uma ala totalmente diferente da que estava acostumada. Por um momento ela pensou que iam estuprá-la naquela sala mesmo. Ela conseguiu imaginar cada um dos homens em cima de seu corpo.

- Para onde está me levando?- Hermione sussurrou.

- Agora acham que estou com você, então vamos parecer que estamos juntos nos...divertindo.

Hermione não respondeu, apenas sentiu como se fosse vomitar a qualquer instante. Malfoy a levou para uma ala que aparentemente não havia ninguém. Os corredores não tinham os mesmos papéis de parede e os móveis eram mais modernos e luxuosos. No entanto, o que mais chamou sua atenção foi uma enorme porta de madeira preta.

Malfoy se aproximou da porta e largou o braço, agora dolorido, da garota. Em segundos, o loiro sacou a varinha e destrancou a porta. Logo após, Malfoy empurrou Hermione para dentro do recinto. Ela, por sua vez, bufou e puxou o braço dando de cara com um enorme quarto.

- Mas que porra...- Hermione exclamou. Atrás de si, Malfoy riu.

- Você não sabe xingar.

Hermione olhou em volta. O quarto era ainda maior do que tinha visto de relance. Do lado esquerdo, submerso no chão, sofás cinzas acompanhavam duas pequenas mesas de centro com tampo de vidro. Nas paredes em volta, estantes repletas de livros que pareciam ser antigos completavam a decoração junto da lareira de pedra. No centro do cômodo estavam duas portas brancas uma do lado da outra. Já do lado direito, o vislumbre de uma cama king entre portas de correr brancas fez com que Hermione engolisse todo aquele luxo de maneira suspeita.

- Que local é esse?- Ela perguntou.

- Novamente, devem achar que eu estou transando com você ou te usando como boneca de ventríloquo...então...- Malfoy suspirou e passou por Hermione.- Seja bem-vinda ao meu quarto.

Hermione revirou os olhos.

- Não vamos...

- Não precisa falar nada.- Malfoy parou com as mãos no bolsos.- O banheiro é na porta da direita. Volto daqui algumas horas. Enquanto isso pode tomar um banho e vestir um dos roupões, vou pedir para algum dos elfos improvisar uma roupa para você.

Hermione abriu a boca, mas tornou a fechá-la. Não sabia se deveria agradecer ou simplesmente duvidar da hospitalidade.

- Olha, não precisa agradecer...só continue viva.- Dito isso, Malfoy apartou deixando Hermione sozinha.

[...]

Hermione tinha tirado a capa e o vestido verde, e agora estava se olhando no espelho. Sua aparência não estava das melhores, o estresse de estar presa tinha feito com que olheiras permanentes viessem à tona embaixo de seus olhos e, por mais que Hermione comesse, seu corpo e suas bochechas estavam magros.

Hermione mal reparou no banheiro luxuoso, apenas se preocupou em ligar a torneira e encher a banheira de pedra. Não estava nos melhores ânimos para aproveitar um momento de luxo e prazer.

Toda vez que Hermione se olhava no espelho, por mais que visse sua imagem refletida de maneira deplorável, conseguia ver outra Hermione. A versão de si mesma com seus demônios em volta. Essa imagem costumava sorrir e provocá-la. Hermione ainda não entendia como essa outra versão gostava da situação em que estava, e pior, não entendia como convivia com seus demônios de maneira tão pacífica.

[...]

Hermione tomou um longo banho. Deixou que a água tirasse qualquer vestígio de sujeira do chão ou de sangue de algum corte que nunca sarou. Ela achava que seu corpo agora não era tão atrativo. Cheia de cicatrizes, Hermione sentia como se o seu corpo inteiro não pertencesse mais a ela, mas a guerra. Cada cicatriz poderia contar uma história.

As cicatrizes mais finas poderiam contar histórias breves de pequenos cortes em pedras, vidro ou facas enquanto cortava ingredientes para as poções. Já as mais profundas podiam contar histórias sombrias.

Às vezes, Hermione ficava olhando a fina cicatriz que tinha no rosto. Não era algo que a incomodasse, porém, de vez em quando, Hermione queria ter sua varinha e um livro de cura com algum feitiço que retirasse qualquer cicatriz da superfície de sua pele. Pois, no fundo, ela sabia que as verdadeiras cicatrizes estavam em sua alma.

Depois do banho, Hermione vestiu um roupão e deixou as outras vestes de lado. Quando saiu do banheiro, olhou em volta, desconfiada, e por fim constatou que não havia ninguém no quarto. Ela não sabia o que estava acontecendo fora daquela enorme porta e se estava com medo de se aventurar pela mansão depois do que houve.

No final das contas, Hermione adormeceu em um dos sofás, esperando Malfoy voltar. A única pergunta em sua mente antes de adormecer era...

Porque queria que ele voltasse?

[...]

Malfoy observou a festa acontecer sem ele. Sua saída causou alvoroço e ele se sentiu bem vendo todos confusos com as fofocas que surgiram. Sabia que Hermione estava a salvo e era isso que interessava naquele momento. Não conseguia pensar no que iria acontecer depois, mas sua única ideia era fingir que ocorreu algo entre ele e Hermione e que não foi nada demais.

O que mais doeu dentro do peito de Malfoy foi a imagem da garota dormindo assim que voltou para o quarto horas depois. Ele esperava que Hermione desse um jeito de voltar para o quarto ou para a biblioteca mesmo não conhecendo a mansão.

Ele esperava que ela se aventurasse em meio ao perigo como todas as vezes em que a viu.

Malfoy passou algum tempo sentado ao lado do corpo adormecido de Hermione. Observou sua expressão suave e viu a quantidade de cicatrizes que tinha. O que mais chamou sua atenção foi a cicatriz fina no rosto. Depois de alguns longos minutos, Malfoy apenas conjurou um cobertor e cobriu Hermione.

Mal sabia ele que seria o único momento de paz entre ele e ela durante um longo tempo. 

The Darkest Of Poison - DramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora