Capítulo 16

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24 de Janeiro de 1999

Pansy Parkinson estava parada dentro do quarto organizado milimetricamente para parecer de outra pessoa. O closet tinha sido preenchido com várias roupas que, agora, cabiam em seu novo corpo temporário. Ela não se sentia bem fazendo aquilo, mas não via outra saída. Não tinha outra saída.

Houve um tempo em que a garota de cabelos escuros era apaixonada por Draco Malfoy. Faria qualquer coisa para tê-lo por perto. Mataria se fosse preciso. O amor platônico que existia em sua cabeça quase a enlouqueceu quando não foi correspondido. Aos poucos Pansy foi se fortalecendo mesmo sofrendo por uma falsa paixão.

A situação que se encontrava durante os últimos meses não era das melhores, porém ela sabia que Hermione Granger tinha sido capturada. Só não sabia que seria deixada presa o tempo o suficiente para que ela assumisse seu lugar numa farsa muito bem estruturada. Não sentia pena da garota, que foi motivo de suas piadas e insultos a vida toda, mas Pansy estava cansada e esgotada o bastante para não querer nada daquilo.

Teria que agir como Granger durante o tempo da farsa. Vivenciar um ato de suposta traição e coragem, que nem mesmo Pansy saberia se a própria Hermione Granger conseguiria. Seu único porto seguro era Malfoy, pois ela sabia que ele estava sendo igualmente usado.

Roupas e mais tecidos. Verdes, pratas e pretos, as cores de sua casa em Hogwarts, agora substituídas por tons de vermelho e dourado. Atitudes cruciais haviam sido tomadas para que Pansy agisse, falasse, andasse e até mesmo representasse Hermione traindo suas virtudes.

Os vestidos e túnicas vermelhas seriam um afronto. Bem bordado, o vestido que ela usava agora era longo, a gola alta e as mangas compridas davam um ar de superioridade e luxúria. Tudo o que ia contra os princípios da garota cacheada. No final, Pansy se perguntava se iam acreditar.

[...]

A escuridão da cela era agonizante. O corpo de Hermione doía mais do que poderia resmungar. O único som presente dentro da cela era de sua respiração. Em alguns horários um prato de comida e um copo de água apareciam na cela em cima de uma travessa com uma vela acesa.

Aquelas eram os únicos minutos dos quais Hermione via a si mesma e o local em que estava. Não durava muito, se Hermione não comesse no que ela acreditava ser trinta minutos a travessa desaparecia e só voltaria no dia seguinte. Aquele era o jeito em que ela contava os dias.

No total, quase uma semana se passou. Ninguém apareceu para ver se ela estava viva. Hermione passou acreditar que ninguém ligava, mas que a mantinha viva por um motivo.

No fundo, ela estava magoada e furiosa. Não por estar ali, não por ter sido pega e ter sido usada por Voldemort. Mas por ter confiado em alguém que ela sabia que não podia. Hermione se sentia uma criança novamente. Totalmente inútil e convencida de que todos eram bons.

Deixou ser levada pela suposta gentileza de Malfoy. Sua preocupação com o bem estar dela foi uma farsa. Tudo o que viveu durante meses foi para culminar boatos de que ela havia trocado de lado na guerra. O aviso não foi de que Hermione estaria morta, foi que ela havia renunciado às suas virtudes.

A pele que arrancaram de seu braço foi usada para fins que ela desconhecia, mas que poderiam significar muito. Hermione torcia para que Harry e a Ordem vencessem a guerra, mas tinha medo de que nunca mais pudesse andar entre o mundo bruxo sem ser vista como possível traidora.

Sabia que poderiam examinar sua mente para que descobrissem a verdade. A verdade de que não era uma traidora. E sim, mais uma vítima de tudo isso. Apesar disso, Hermione tinha consciência de que seria presa assim que pisasse em uma rua do mundo bruxo e esperaria julgamento até que a única solução fosse adentrar dentro da sua mente.

[...]

A noite estava chegando e junto, uma mudança no equilíbrio entre lados. Pansy se olhava no espelho do quarto tentando imaginar a si mesma além da visão do corpo de Hermione Granger. Em outro quarto, Draco Malfoy também se preparava. O blazer do terno meticulosamente pendurado no cabide ao lado do espelho fazia com que seu estômago se revirasse.

Ele acompanharia Pansy já no corpo de outra pessoa e estamparia o semblante de uma pessoa séria, porém feliz de estar com posse de uma das bruxas mais inteligentes do mundo bruxo e ainda por cima, amiga de Harry Potter.

Draco se olhava no espelho e via outra pessoa. Tentava parecer outra pessoa. No fundo, ele se sentia completamente quebrado, sem vida e sem esperança para o que estava por vir. Sentia-se culpado por Hermione estar trancada em uma cela metros abaixo de onde estava pisando. Não podia ajudá-la. Não tinha coragem para fazer tal coisa. Ele queria ser capaz de esquecer dela, apagar a imagem da expressão de Hermione na sala de jantar. Por fim, sentindo-se derrotado, Malfoy vestiu o blazer e saiu do quarto.

[...]

Não era um evento qualquer na mansão. Não podia parecer uma festa qualquer. Todo o qualquer ser vivo que assombrava as paredes vestia-se de acordo com o acontecimento que estava por vir. O burburinho dos bruxos no salão principal deixava qualquer um tonto. A música de fundo, como sempre, deprimente e clássica.

Nem o banquete dos fantasmas em Hogwarts chegava aos pés do que estava sendo servido naquele local. Pelo menos qualquer um que visse o banquete fantasmagórico tinha consciência que era podre. Diferente daqueles que graciosamente se deliciavam dos quitutes finos. A diferença entre os dois? Dessa vez não era a comida que estava podre e sim as pessoas que se alimentavam dela.

Certo tempo se passou antes do salão inteiro se calar e as portas de um lado se abrirem com um estrondo. Repentinamente Draco Malfoy adentrou o salão, ao seu lado, uma mulher de cabelos cacheados mantinha a expressão de indiferença.

O majestoso vestido se destacava entre os tons de verde, prata e preto que estavam espalhados pelo local. O vermelho anunciava que uma grininória havia entrado ao lado do futuro general do exército de Voldemort. Essa grifinória, no entanto, não era Hermione e tudo não passava de uma ilusão. Jornalistas do profeta diário tiravam fotos enquanto seus rostos brancos tomados pelo susto tentavam assimilar qualquer demonstração de imparcialidade.

Draco podia ouvir os gritos de Hermione dentro da sua cabeça. Gritos de agonia. Sofrimento. Queria correr e tentar salvá-la, mas já era tarde. Ele sustentava uma expressão de felicidade e indiferença, se é que isso é possível. Tudo para seguir o maldito plano.

No dia seguinte seria anunciada a traição de uma das bruxas mais inteligentes do mundo bruxo. A troca de lado iria causar um abalo estrondoso. E talvez, ao final do evento, o rumo da guerra mudaria novamente.

[...]

Após a surpresa do novo "casal", a festa finalmente tomou início. A música de fundo se tornou obsoleta perto do murmurinho dos pequenos grupos no salão. A ilustre presença do Lorde das Trevas tornou o evento inédito.

- Tem-se então a benção para o casal.- Um comensal murmurou em tom sarcástico.

- Não creio que ela tenha trocado de lado. Ou ela é boa de cama ou ele que está muito cego. - Outro comentou.

Todos esses comentários geraram uma onda de tensão no corpo de Pansy. Ela sabia que aquelas pessoas esperavam por um único momento para poder linchar Hermione Granger. Ninguém sabia que a verdadeira bruxa estava presa, metros abaixo do solo.

Na altura do possível, Draco parecia neutro e às vezes demonstrava uma falsa felicidade. Algumas pessoas perguntavam baixo para ele sobre o porque estava junto de uma inimiga. Tais comentários não o faziam bem e ele em suma maioria os ignorava com uma raiva profunda escondida dentro de seu peito. A sensação era de que tinha estragado tudo. Estava livre em corpo, no entanto preso em escolhas.

Depois de um tempo, o susto deu lugar a burburinhos e pessoas dançando. Malfoy à medida que ia passando pelo salão sentia suas pernas fraquejarem por lidar e sorrir com aquelas pessoas. Não sentia vontade nenhuma de continuar. Seu pensamento, muitas vezes, era como poderia acabar com esse sofrimento. A solução parecia razoável quando chegava a conclusão que deveria se matar e desconfiava que várias pessoas também concordavam com isso. 

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⏰ Última atualização: Jan 20, 2023 ⏰

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The Darkest Of Poison - DramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora