quattuor (4)

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encontro; s.m
ato de encontrar(se);
junção de coisas ou pessoas que se movem e se dirigem para o mesmo ponto.

Léia demorou um pouco pra assimilar o que estava acontecendo ali. Assim que abriu a porta, Harry, ou melhor, Jonny, não correu para si como sempre fazia, ele apenas farejou o ar e pulou na direção de Priscila que estava no chão parecendo pronta para chorar.

Quando tudo começou a fazer sentido, ela não quis acreditar que o pequeno perdido que estava causando tanta tristeza para a outra mulher, na verdade era o pequeno que ela acolheu da rua.

Por um momento, algo semelhante a um ciúmes passou por sua cabeça. Já estava acostumada com a presença do outro ser na sua casa, já havia decorado algumas de suas manias e agora teria de deixá-lo ir. Quando percebeu o que estava pensando, soube que o sentimento que caberia para explicar melhor aquele momento era dosado de uma melancolia a mais.
Queria dizer que o cachorro não iria, que aquilo era apenas um engano e as duas se veriam normalmente no outro dia pela manhã. Porém, tais palavras não cabiam ali nem se tentassem ser encaixadas.
A morena sabia que não iria pará-la caso a outra saísse dali correndo, talvez ela não conseguiria nem desejar um boa noite por ainda estar anestesiada pela situação.
Por fim, queria apenas entender como houve tantos desencontros a ponto de conviverem apenas com um andar de distância e mesmo assim não terem se encontrado antes.

Sentou-se no chão de frente para a outra, que continuava abraçando Jonny e tinha seu rosto lavado pelas lágrimas que correram quando ela se permitiu liberar a emoção.

- Como.. como ele estava aqui durante essa semana toda e...? - as palavras de Léia morreram pela metade.

Daroit enxugou seu rosto com as mãos e procurou a bolsa que estava jogada de qualquer maneira pelo corredor. De lá, tirou a pequena coleira que havia carregado junto a si durante todo o dia. Ela teve o cuidado de posicioná-la ao redor do pescoço do animal de uma maneira que não fosse necessário tirar a outra coleira que a morena havia colocado, pelo menos não por aquele momento. Tal fato foi notado pela líbero que apenas deu um sorriso triste.

- Eu não sei. - ela disse por fim e suspirou - eu o procurei em todos os lugares, deixei milhares de anúncios, as meninas divulgaram também chegando a oferecer recompensa. Você conhece a Gattaz de anos, não viu nenhum post nas redes sociais?

Léia apenas negou com a cabeça, havia excluído suas redes sociais depois de uma temporada ruim no seu último time. Eles contavam muito com ela e no fim do campeonato a recepção online não foi das melhores.

- Eu havia conversado com algumas pessoas do prédio, falei com o porteiro pra me avisar se alguém estivesse procurando por ele. Também não sei se os horários são conflitantes o suficiente, não vejo aquele mesmo porteiro desde o dia que achei o Harry.

- Eu não me importo mais, tudo o que me resta é agradecer que meu Jonny foi encontrado por alguém como você. - Daroit mais uma vez naquela noite apertou a mão da morena como forma de agradecimento.

Seus olhares se encontram e foram sustentados por alguns segundos. Léia foi quem desviou primeiro, olhando pro chão envergonhada.

- Você não quer entrar? Ou eu posso pegar as coisas dele pra você levar.

- Não precisa - respondeu a loira. - acredito que ele vai querer te visitar e você precisa estar preparada para o pequeno furacão.

Léia decidiu falar o que lhe incomodava de uma vez.

- Olha, não precisa realmente. Eu já estava acostumada com ele, mas não quero que você se sinta pressionada a me falar essas coisas por eu ter acolhido o pequeno por alguns dias.

- Léia.. - a loira tentava encontrar o olhar da outra para falar - eu não estou falando por falar. Você mesma falou que um cachorro não pode curar a ausência de outro, a gente só não esperava que o Harry e o Jonny fossem o mesmo. Eu aceito fazer guarda compatilhada com você.

Daroit falou a última parte com uma risada que não foi acompanhada pela outra mulher.
Depois desse momento, as duas se levantaram e se despediram com um leve abraço, a líbero fez um ultimo carinho no cachorro que estava aninhado no peito de sua primeira dona.

_____

Depois de algumas horas, Léia ainda rolava na cama sem conseguir dormir, sentia falta do pequeno peso que se enrolava em seus pés durante a noite.
Já no andar de cima, a loira havia renovado seu brilho por todos aqueles dias em que esteve para baixo.
Havia limpado seu apartamento, lavado roupas, brincado com Jonny e mimado ele até dormir, depois postou uma série de videos em suas redes sociais para anunciar que o pequeno havia voltado para casa e por fim, deitou-se para finalmente descansar já era quase três da madrugada.

Antes de adormecer, ela retomou sua oração do outro dia, porém, dessa vez não estava pedindo e sim agradecendo à quem pudesse ter ouvido suas preces. Seu coração partido só o tempo daria conta de curar, mas a felicidade de ter seu companheiro de volta em casa não cabia no peito.
Depois das simples palavras que ela proferiu ao universo, adormeceu rapidamente.

Quando já estava perto de amanhecer o dia, Jonny saiu do quarto e ficou perto da porta de entrada. Conseguia farejar ali um pouco do cheiro de sua segunda dona e chorava para que a porta fosse aberta e ele pudesse sair, chegando até a arranhá-la numa tentativa de abrir.
O pequeno percebeu que suas tentativas seriam falhas e acabou deitando ali mesmo, dormindo com o fucinho em cima da bolsa de Pri, que continha o cheiro de Léia do último abraço partilhado naquela noite.


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oi, pessoal

capítulo curtinho pra encerrar esse ciclo do jonny perdido. daqui pra frente as coisas não vão demorar muito pra se desenrolar.

espero que tenham gostado,

até o proximo!

Something GreatOnde histórias criam vida. Descubra agora