duodecim (12)

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tempestade; s.f
raios e trovões; barulhos súbitos, agitação moral.
"há pessoas que vão fugir da tempestade que você é. outras vão se molhar com você."

Daroit nunca tinha sido fã de dias chuvosos.
Acreditava que a beleza de tudo estava no sol, em sentir o calor na pele, em ver os pássaros voando livres, mesmo que seus cantos estivessem a muito ofuscados pelos sons da cidade.
Porém, os últimos dias estavam fazendo com que a chuva se tornasse uma aliada de seus pensamentos. Quando não estava no treino, se escondia em seu apartamento, por vezes perdia horas apenas olhando pela janela, em outros momentos ficava em seu sofá acompanhada de um livro qualquer e uma xícara fumegante de café, que permanecia intocada até que o líquido esfriasse e ela o descartasse na pia.
Momentos assim lhe lembravam dela. Faziam com que sua mão vagasse pelas almofadas do sofá, lembrando das conversas que tiveram ali, dos segredos compartilhados e das promessas que ficariam apenas para o tempo.

Por muitas madrugadas sua cama permaneceu fria, os lençóis já não guardavam as memórias da única noite em que compartilharam, a única em que deixaram suas almas se entrelaçarem na verdade de que estariam sempre ali uma para a outra. Não houve a junção dos corpos no meio das palavras susurradas ao pé do ouvido, mas a forma com que as mãos vagaram livres no emaranhado de cabelos que se espalharam no travesseiro aquela noite, mostrou que a entrega estava muito além disso, e que já começava quando podiam sentir uma a outra com o coração batendo forte no peito dentro de um abraço.

Agora, chovia mais uma vez na rua e dentro da loira, enquanto ela arrumava suas coisas para a viagem na madrugada do dia seguinte.
Ela olhava cuidadosamente o seu guarda roupa, procurando por algo que pudesse ter esquecido. Ali no meio ainda estava o cobertor daquela noite, guardado como se assim pudesse desaparecer, na esperança de levar junto a melancolia que já era constante na mulher.
Junto a ele estava um cabide vazio, que permanecia ali com a falta da camiseta que ela havia levado. Era como se um buraco fizesse corpo presente no quarto da loira e, todas as mudanças que ela havia feito não preencheram nem uma parte do vazio, que tinha nome, sobrenome e um lugar deixado no peito.

Quando uma única batida soou na porta, tarde da noite e tímida o suficiente para que talvez não fosse ouvida, o corpo de Daroit reagiu de imediato.
Dois passos foram dados e ela já não sabia se atendia a porta ou nao. Mais dois, e depois mais dois, sua mão encostou na maçaneta e ela abriu, pensando se seria uma peça do destino ou algo bom o suficiente que valeria a surpresa de não ter espiado pelo olho magico.

Léia estava ali. Ela não estava surpresa, confiava que os raios que cortavam o céu estavam tentando lhe dizer isso desde o começo da noite, apenas não sabia ainda se seria bom ou não.

Decidiu que não falaria nada de primeiro momento, pois já sabia as exatas expressões faciais quando a líbero estava prestes a falar mas ainda se prendia internamente.

- Eu vim devolver isso.. - disse ela com calma, mostrando que tinha em mãos - mas eu queria saber se você realmente a quer de volta.

Daroit ainda não havia se pronunciado. Ela olhou para as mãos da outra mulher, depois deixou que seus olhos encontrassem os dela, esperando que terminasse sua sentença.

- Se você pegar ela de volta, eu vou te garantir que sumo da sua vida. Mas caso não, saiba que nada em mim mudou e eu queria que você desse mais uma chance pra mim, e pra nós...

A resposta já era clara pra si a muito tempo. Todos os seus dias nublados e convites recusados para sair com suas amigas poderiam também responder por si.
Léia tinha levado uma parte de si junto a ela depois da última briga, e agora não perderia a oportunidade de tê-las de volta.

- Sabe.. eu sempre achei que esta camiseta ficava melhor em você.

Léia sorriu, e a loira havia sentido muito a falta daquele sorriso.

O que talvez fosse o último raio da noite, cortou o céu. Os dois corpos se juntaram para matar a saudade que a ausência havia tanto insistido em causar.
Daroit já não achou que a chuva pudesse ter menos brilho que um dia de sol.
Epicuro certa vez disse que os grandes navegadores devem sua reputação aos temporais e tempestades. E assim também seriam as amantes que outrora tiveram seus corações partidos. A paixão não estaria ali tão presente nos dias de céu azul e brisa passageira, ela era mostrada quando as duas partes não remavam para a mesma direção, fazendo com que os raios tivessem que iluminar o caminho de volta, enquanto a maré empurrava os corações para o lugar onde pertenciam.

______________

Nenhuma palavra foi trocada entre as duas depois que a porta se fechou. Seus lábios se encontraram no meio do caminho e estavam sendo poucos para a saudade que as consumia.
Depois de um tempo, Daroit quebrou o beijo em busca de fôlego, apenas a tempo de ouvir as palavras sussurradas da morena:

- Me leva pro quarto.

Buscando algum tipo de receio nos olhos da líbero, sua resposta veio quando viu seus olhos espelhados nos dela.

Os próximos passos da loira vieram dotados de uma calma que ela achou não possuir.
Suas mãos exploravam o corpo da mulher em baixo de si com todo o desejo que ela possuia, mas a pressa havia sido deixada na sala, ou talvez no meio do caminho junto as roupas espalhadas pelo chão.
As palavras que agora eram sussurradas ao pé do ouvido arrancavam suspiros manhosos, as unhas que passeavam pelas costas tinham como objetivo arranhar e deixar marcas.
Cada parte das peles haviam sido exploradas, tocadas e sentidas. Seus corpos agora também entrelaçados faziam o trabalho que as palavras não seriam capazes de realizar.

O roteiro que havia sido escrito para a história das duas mulheres talvez tivesse começado precipitadamente, mas agora ambas sabiam que começando do zero, a melhor junção seria feita na cama da loira, e nenhuma das duas mudaria nada para que o final pudesse ser esse mais uma vez.

- Ter você aqui de novo é bem melhor do que eu imaginei. - disse Daroit depois de um tempo em silêncio.

Léia descansava sua cabeça no peito da loira e um lençol cobria as duas parcialmente.

- Como vamos fazer dar certo? - perguntou a morena. Seus dedos passeavam pelo braço da outra em traços indefinidos.

- Podemos deixar toda essa parte para amanhã? Eu já sei que é você que eu quero e eu estaria disposta a muita coisa pra fazer a gente funcionar.

Léia se virou de modo que pudesse encarar Pri.

- Ainda não acredito que estamos aqui, que tenho você do meu lado. E espero que não sejamos apenas algo casual, porque estou realmente apaixonada por você.

Daroit virou de modo que pudesse ficar em cima da loira.

- Eu te amo, e não estou brincando quando falo que farei de tudo pra que a gente possa dar certo.

Naquele momento ela não se importava que a outra não pudesse lhe responder na hora. Ela apenas queria mostrar que seus sentimentos não seriam passageiros, que o turbilhão de sensações que percorriam seu corpo cada vez que a outra lhe tocava não era algo do momento.
A líbero não encontrou palavras para falar, apenas puxou a outra para um beijo na promessa de selar tudo o que tinha sido dito, e tudo o que estava preso nas entrelinhas.

"Is it too much to ask for something great?"


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oi, pessoal

primeiramente queria pedir desculpas pq a autora que vos fala é brega, e não sabe escrever hot. por isso já adianto que não esperem no decorrer da história.

capítulo um pouco mais na visão da Daroit para mostrar o antes e depois da Léia batendo na porta.
para os próximos provavelmente teremos avanços no tempo, mas eu aviso vocês antes

espero que tenham gostado,

até o próximo!

Something GreatOnde histórias criam vida. Descubra agora