Capítulo três

621 81 77
                                    

Faltam dois dias para minha viagem e nesse momento estou na enorme mesa de jantar da família Herrera.

Ruth e Armando comemoram trinta anos de casados e resolveram reunir a família e alguns amigos mais íntimos.

Me sinto confortável nesse lugar, pois é uma família que eu frequento há vários anos. Meus pais não têm muitos parentes ou amigos e tampouco gostam de datas comemorativas. Por isso eu sempre acabava na casa dos Herrera.

Todos conversam animadamente e a comida está sensacional.


— Como está a expectativa para Alemanha? — Armando me pergunta.

— Estou ansiosa! — Sorrio. — É uma responsabilidade e tanto!

— Eu achei uma excelente escolha. — Ruth sorri. — Você conhece muito bem nossa política e sei que se saíra muito bem ao passar isso para nossos futuros funcionários alemães.

Me sinto lisonjeada com o elogio.

— Isso não é trabalho para ela... — Poncho resmunga. — Poderíamos mandar outra pessoa, temos outras opções.

Direciono meu olhar a ele, que está sentado bem na minha frente, ao lado de Nicole.

— Pelo que eu soube foi uma exigência deles e não uma sugestão nossa... — Armando o respondeu.

— Ouvimos dizer que você foi primordial para negociação. Eu entendo que eles queiram você lá... — Ruth acariciou minha mão por cima da mesa.

— Serão apenas dois meses, eles não a terão lá. — Poncho volta a resmungar


Rimos da situação. Poncho sempre fora mesmo mal humorado e nunca escondeu que era contrário à minha viagem. No fundo eu entendo que farei falta a empresa.

— Eu espero que você encontre um namorado alemão, bem bonitão... — Ruth brinca.

Solto uma gargalhada e depois tomo um gole de vinho.

— Ela ainda é tão nova pra essas coisas. — Armando se mete.

Tal pai, tal filho... Armando e Poncho têm um pensamento se setenta anos atrás.

— Ora, mas eu não estou dizendo para ela voltar casada ou coisa do tipo. Apenas para se divertir um pouco...

— Se comprometer com um alemão não seria nada mal, Anahí. — Ouço a voz de Nicole dizer e me direciono a ela. — Já ouvi falar muito bem deles.

Solto um sorriso amarelo. Não temos intimidade o suficiente para esse tipo de conversa, mas eu entendo que estou na casa dos sogros dela e que preciso ser educada.


— Nunca ouvi tanta bobagem diante de uma mesa! — Poncho solta, sem esboçar nenhum tom de brincadeira.

— Como você é rabugento! — Pietro, primo de Poncho, o responde. — Eu acho que a Ani não precisa de um alemão. É o que dizem por aí: Ás vezes o amor está ao seu lado esse tempo todo e só você ainda não percebeu.

Poncho, que acaba de levar uma garfada de comida a boca, engasga. E por alguns segundos o desespero é total, até que finalmente a comida parece descer.

Aliviados e em total silêncio. Pietro complementa:

— Para quem não entendeu a referência, eu estava falando de mim.

Poncho o fuzila com o olhar e parece ainda mais bravo. Mas quase todos os outros da mesa riem e comentam como seríamos um casal perfeito.

Pietro é um primo bastante próximo a Poncho e consequentemente a mim. Ele faz o tipo engraçadinho e sempre alegra esses momentos em família. Sem contar que é um cara muito, muito gato.

Without youOnde histórias criam vida. Descubra agora