Capítulo Treze

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O sentimento de impotência me acerta em cheio.

Por um tempo me sinto sem chão.

Mas trato de me recuperar logo.

Poncho me convida pra entrar, mas está quieto. Mal consegue me olhar nos olhos novamente.

— Desculpe, Ani. — Ele finalmente volta a me encarar. — Eu não queria ter feito essa cena... É que a situação tá um pouco complicada e eu não esperava te ver agora...

Ele está pedindo desculpa por ter desabafado comigo?

— Ei... Eu tô aqui pra isso. Eu sei que lá
fora você é uma muralha inabalável, mas tudo bem ser humano aqui dentro.

— Você não tem que passar por nada disso. — Suspira, parecendo chateado. — Escuta... Eu sou muito grato pelo que você tá fazendo por nós. Nenhum de nós teríamos condições de gerir a Her agora....

Arqueio a sobrancelha.

— Mas?

— Mas você não tem que se envolver nisso.

— Poncho, me escuta. — Ele está sentado bem na minha frente e eu seguro sua mão. — Eu não quero impor a minha presença a ninguém. Estou aqui pra ajudar e se isso significar ficar longe, eu fico! Sei que a Nicole não é a minha fã número um e como mãe deve estar sofrendo demais. Jamais iria impor a minha presença a ela... Eu a entendo, podia ser meu filho e... — Me dou conta do que acabo de dizer e me calo. Poncho me olha com atenção, como se esperasse eu continuar. — Enfim, eu vim pra te ver e te dizer que estarei aqui pro que precisar.

— Isso significa muito pra mim. — Ele força um sorriso. — Obrigado! — Ergue nossas mãos e beija suavemente a minha.

Sinto a minha pele arrepiar com esse simples gesto.

Suspiro.

— Como ele é? — Pergunto.

— O Nic? — Confirmo com a cabeça. — Oh, ele é adorável. É muito novo ainda, tem apenas dois aninhos, mas eu diria que já tem uma baita personalidade.

Sorrio.

— Ele é nerd como o pai? — Pergunto, tentando arrancar-lhe mais um sorriso e consigo.

— Eu acho que não... Ele é mais extrovertido, deve ter puxado isso da Nicole...

— Como ela está?

— É difícil dizer... Quando descobrimos a leucemia ela não estava no país. Bom... Pedi que ela voltasse imediatamente e ela veio. — Suspira. — Mas ela fica indo e vindo o tempo inteiro. O Nic tá lá internado e ela simplesmente está do outro lado do mundo trabalhando. Talvez a ficha apenas não tenha caído ainda. Acho que foi um baque pra ela também. Ela não é a melhor mãe do mundo, mas sei que ela o ama.

— Claro que o ama.

— É meio que impossível não amá-lo.

— Quando tudo isso passar, quero poder conhecê-lo.

— Você?

— Algum problema?

— Você sempre foi péssima com crianças... — Ele visivelmente debocha de mim.

Mas isso não tem em mim o efeito que deveria ter.

Por um segundo o olho, enquanto ele sorri. E é como se um filme passasse pela minha cabeça.

A minha partida... O nosso reencontro... A nossa recaída... A descoberta da minha gravidez... O nascimento de Sam...

— Ani? — Ele me chama e me desperta dos meus pensamentos. — É claro que você vai conhecê-lo, eu estou apenas brincando.

Without youOnde histórias criam vida. Descubra agora