Capítulo oito

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Quatro anos se passaram desde nossa última noite em Berlim.

A vida em Madri é muito diferente comparada a que eu tinha em Nova York. Os espanhóis são acolhedores e gentis, ao contrário dos americanos que estão sempre correndo e só olham para o próprio umbigo.

O trânsito não é tão caótico.

As pontes não param para manutenção no começo da manhã.

Tudo é mais lento e mais intenso.

Há ciclista por todos os cantos.

Paro meu carro na minha vaga exclusiva do estacionamento da Euro Her. Entro no elevador e após digitar minha senha, ele me leva diretamente para a cobertura, aonde fica a minha (desnecessariamente) imensa sala.

— Bom dia Ani! — Minha assistente se levanta assim que me vê chegando.

— Bom dia, Sara! — Sorrio cordialmente, aproximando-me de sua mesa.

— Está preparada para hoje?

— Não! — Respondo de forma divertida. — Fico entediada só de pensar em ter que ficar o dia inteiro trancada numa sala explicando o faturamento do último semestre.— Reviro os olhos. — Isso me parece um tanto retrógrado.

— Foi um bom semestre. — Sara sorri. —O Sr Herrera chegou há meia hora e já está a sua espera na sala de reuniões.

Ótimo! Armando nunca é pontual em nada, mas exatamente no dia em que estou atrasada, ele resolve chegar no horário?

Sara pega uma pasta que está sobre sua mesa e me acompanha de volta ao elevador. Durante o percurso repassamos a ordem em que os documentos serão apresentados.

Ela é uma ótima assistente! Acertei em cheio nessa contratação. Sara está sempre disposta a me ajudar, mesmo quando não é sua obrigação.

Chegamos a entrada da sala de reuniões e encaro Maite, que está a minha espera.

Consigo ouvir o barulho do seu salto atingindo o chão repetidas vezes. Parece impaciente.

— Finalmente! — Ela sorri, mesmo com uma expressão de ansiedade.

— Estou um pouco atrasada, mas está tudo sobre controle. — Me justifico. — Você poderia ter entrado...

Maite contraí o rosto.

— Nem em sonho! Se é pra ser jogada aos leões, que sejamos as duas juntas. — Brinca.

Solto uma risada.

Maite é o tipo de pessoa que perde o amigo, mas não perde a piada.

— O Armando não é desse tipo. Ele é muito gentil. — Defendo-o.— Seria, inclusive, uma ótima chance de você mostrar seu valor a ele.

— Você não contou a ela? — Maite olha para Sara.

— Eu deveria contar algo a ela? — Sara responde confusa.

Olho para as duas sem entender exatamente do que estão falando.

— Do que as duas loucas estão falando?

Maite suspira.

— Ani, o Armando não veio.

— O quê? — Pergunto mais confusa ainda. — Ele veio, a Sara disse que ele já está a minha espera. Não é mesmo? — Encaro minha assistente.

— Eu disse que o Senhor Herrera estava a sua espera, mas não é o Armando.— Sara justifica.

O quê? Se não é o Armando quem está atrás daquela porta... Quem mais poderia ser?

Oh, merda! Senhor Herrera?

Não, não pode ser!

Meu coração acelera imediatamente.

— O Senhor Alfonso Herrera está a sua espera. — Maite completa, confirmando minhas suspeitas.


O mundo para de girar e eu esqueço por alguns segundos como respirar.

Não pode ser!

Eu estive adiando esse momento por muitos anos e agora ele está a dois passos de mim.

Olho para Maite, ela me encara com certa compaixão. Conhece nossa historia e sabe o que significa para mim abrir essa porta.


— Você sabia que esse dia chegaria...

— Sim, eu sei! Mas não estou preparada, Mai. — Digo amedrontada. — Eu não posso simplesmente entrar lá e encara-lo.

— Você pode! Você é profissional e sempre soube separar muito bem as coisas entre vocês. — Pega em minha mão, tentando me tranquilizar. — Tente ignorar o que ele significa ou significou para você. Esqueça por algumas horas quem ele é e se concentre no seu trabalho! — Ela diz me encarando seriamente. — O seu trabalho tem sido brilhante por todos esses anos. Então entre lá e seja brilhante hoje também!

Fecho os olhos por alguns segundos tentando buscar forças e em seguida volto a abri-los.

— Você tá certa. Eu consigo!

Tenho consciência de que minha voz soa com convicção, mas não carrego essa certeza dentro de mim.

Não vejo Poncho há muito tempo e não sei mais o que sua presença causa em mim. Sei que ele mudou muito em todo esse tempo, notícias suas chegam até mim diariamente. Eu também não posso negar que eu mudei.

Minhas escolhas me fizeram forte.

Na vida temos que aprender a lidar com nossos erros e venho aprendendo isso dia após dia.

Encaro a porta e de repente um filme se passa por minha cabeça.

A nossa história desde o princípio foi diferente.

Dois adolescentes inconsequentes, com uma vida inteira pela frente.

E depois, mais velhos, tínhamos a certeza de que o mundo pararia e atenderia as nossas vontades. Mas não é assim que o mundo funciona.

Até uma certa fase da minha vida eu nunca acreditei que duas pessoas pudessem se amar verdadeiramente e não ficar juntas. Mas para a minha total surpresa, descobri que isso é mais comum do que as pessoas imaginam.

O amor é fundamental, mas somente ele não sustenta nada.

É preciso mais! É preciso que o universo inteiro conspire.

E sinto informar: Ele não curte muito conspirar...

Volto a realidade.

Toca na maçaneta e respiro fundo.

É hora de encarar os fantasmas do passado!











<Notas da autora>

Oi amores! Sei que saltos no tempo sempre deixam muitas dúvidas e confesso que essa é a intensão. Vamos dia após dia desvendando o que deu errado para esses dois.

Teremos muitas surpresas pela frente!

Prometo não massacrar ninguém com
Flashback! Eu detesto esse tipo de coisa. Óbvio que teremos muitas referências ao passado, mas vou transformar isso em algo agradável de se ler.

Enquanto isso, quero teorias. O que vocês acham que aconteceu?

Obrigada pelo carinho de sempre! 🧡

Without youOnde histórias criam vida. Descubra agora