Capítulo quatorze

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Por Poncho:


Minha virou de ponta cabeça.

De repente, já não tenho mais a mesma rotina.

Aquele lance de casa, trabalho... Trabalho, casa... Já não existe mais.

Eu já nem sei como vai ser o meu próximo dia.

Nesse quarto de hospital percebo o quanto somos frágeis... dinheiro, sucesso, fama... Nada disso me serve de nada agora!

Olhar para meu filho sorrindo, mesmo sabendo de que fisicamente ele está esgotado, me comove.

Nic nunca foi uma criança normal. É como se ele tivesse nascido dentro de uma bolha, em que sempre fora protegido de todas as formas. Nicole desde a gravidez demonstrou que não tinha nascido para aquilo. Ser mãe era uma ideia meio radical para ela que sempre foi super preocupada com sua boa aparência.

Mas pra mim já é outra história. Ter um filho tem um peso muito maior. E foi por isso que deixei de lado algumas coisas, para que pudéssemos criar o Nic da melhor forma.

Ela nunca foi o amor da minha vida, e mesmo la atrás, quando eu jurava para mim mesmo que pudesse dar certo, eu já sabia disso.

Mas quando soube de sua gravidez, isso não me impediu de levá-la para morar em meu apartamento.

Eu seria pai e queria meu filho o mais perto possível de mim. E digamos que naquele momento, eu podia ter, porque não existia nada na minha vida que me impedisse de viver com eles.

Eu estava sozinho.

Se foi um erro?

Não e sim.

Eu explico...

Não há erro em querer Nicolas perto de mim. Nós dois merecemos essa proximidade, mas as vezes eu me arrependo de ter continuado uma história com a mãe dele.

Mas tudo bem... Esse não é o momento para pensar nisso.

Depois de um dia inteiro de tratamento intensivo, o oncologista optou por aplicar um sedativo em Nic. Isso me alivia, porque odeio vê-li sentindo dor.

Fico no quarto até que ele durma, mas em seguida saio para procurar algo pra comer.

Não estou faminto, mas sei que preciso me alimentar. Eu preciso estar forte, por ele.

Nunca imaginei que um dia iria conhecer um hospital como a palma da minha mão. Na verdade, antes de agora, eu só estive em alguns deles umas três vezes. Uma quando eu era apenas um garoto e quebrei o pé, outra quando a Anahí se cortou na casa dos meus pais e a última quando Nic nasceu.

As duas últimas lembranças me fazem sorrir.

Enquanto tomo meu café, converso com algumas enfermeiras simpáticas. Desde que Nic foi internado, elas sempre foram muito solicitas. Sei que há um burburinho sobre o porque Nicole nunca está conosco, mas não me sinto incomodado por isso.

Na verdade, isso é pequeno... Tudo parece pequeno perto do cenário atual.

Quando finalizo a refeição, decido que é hora de voltar para o quarto. Estou no segundo andar, mas algo me chama atenção quando olho para baixo.

Vejo uma mulher com uma criança em seu colo caminhando em direção a saída e eu não sei o porquê, mas por algum motivo ela me parece extremamente familiar.

Impulsivamente, chamo o elevador, porque caso decidisse usar as escadas com certeza não a alcançaria.

Em questão de segundos, estou no primeiro andar e ando apressadamente em direção a ela.

Deve ser apenas um delírio ou coisa do tipo, mas parece a Anahí.

Eu definitivamente estou muito cansado!

Só que eu não paro, continuo. Até que estou tão próximo a ela, que não tenho nenhuma dúvida.

— Ani? — Chamo com convicção.

Ela para tão rapidamente, que parece assustada.


— Ani? — Meu tom de voz aumenta automaticamente e ela se vira para mim.

É ela. Eu sabia! Seria possível eu não reconhece-la mesmo de longe?

Seu olhar parece um pouco chocado ao me ver ali. Ela entreabre os lábios, como se fosse falar alguma coisa, mas não fala. E seus braços aparecem apertar ainda mais a criança em seu colo contra si.

A criança!

A Anahí está com uma criança no colo.

Minha testa se franze automaticamente.

Isso é um tanto inesperado.

— O que você faz aqui? — Pergunto, preocupado. — Aconteceu alguma coisa?

Céus! Ela está tremendo?

Aconteceu alguma coisa!

— Pon... Poncho! — Anahí finalmente consegue dizer. — É... Eu... Não, tá tudo bem... É que ele caiu e bom... Não foi nada demais. Eu.. eu ... estou de saída.

— Ei! — Me aproximo mais dela. — Calma! Você não tá falando coisa com coisa. Quem caiu? — Coloco a mão em seu obro, tentando conforta-lá. — A criança? — Ela assente. — Oh! Tudo bem... Crianças caem! Está tudo certo com ele?

— Sim... Ele fez exames e parece estar bem.

— Tudo bem. Agora você pode devolve-lo para a mãe em segurança. Ela vai entender Ani... Juro pra você, isso acontece o tempo todo.

Ela continua me olhando, como se eu tivesse apontando uma arma para ela.

Isso me deixa mais confundo.

— Poncho... — Ela começa, como se algo doloroso fosse sair dali.

E é como naquelas cenas de filme. Como se a arma que estava apontada para ela até poucos segundos, agora parece estar apontada para mim.

De repente, uma possibilidade muito improvável passa pela minha mente. E eu rio dessa ideia quase ridícula.

Só que aos poucos o meu sorriso desaparece, porque a ideia parece se concretizar de uma forma muito clara.

— Eu sou a mãe. — Ela responde.

Não há resquício de humor em sua voz.

É como se em questão de segundos o hospital e o mundo lá fora estivessem vazios. E eu só consigo enxergar Anahí na minha frente, com aquela criança no colo. Aquela criança que agora eu sabia... É filho dela.

A Anahí tem um filho.

Um filho!

Isso martela na minha cabeça, como se de alguma forma eu simplesmente pudesse enfiar aquela ideia na mente.

Não tem nada de surreal nisso.

Eu também tenho um filho.

Mas eu não escondi o meu filho do mundo.

— Eu tenho que ir... — Ela diz, me tirando do transe no qual eu me encontrava.

— Espera! Isso que você acabou de falar... Por que eu não sabia disso?

— Poncho...

— Eu quero que você me diga, Anahí. Por que você nunca me contou que tem um filho?

   




<Notas da autora>


Quem aí tava sentindo falta de um capítulo narrado por ele?

Eu confesso tava com muita saudade de escrever! Amo o ponto de vista do Alfonso

E sim, agora estou com essa mania de terminar o capítulo com suspense. Aprendam a lidar kkkkk.

Without youOnde histórias criam vida. Descubra agora