capítulo 10

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O som baixo e tranquilo ecoava pelos fones de ouvido muito bem encaixados nas orelhas de Sabo. O leve chacoalhar do ônibus embalava aquela manhã de sexta-feira. Apesar do cansaço acumulado da semana, o loiro se sentia um pouco mais relaxado com sua vida. Lucci parecia ter realmente o perdoado e a rotina havia retomado alguns pontos, Koala ainda mantinha o contato consigo e suas conversas sempre acabavam se estendendo noite a fora após o expediente. 

Ace já o havia arrastado para uma loja de roupas para comprarem as peças que usariam no natal e no ano novo, afinal, fariam algo diferente, então deveriam se trajar apropriado. Não pareciam haver muitos outros problemas que pudessem incomodá-lo e sentia-se até mais leve.

Outro fator que lhe deixava ainda mais tranquilo e alegre naquele dia era que Lucci parecia ceder aos poucos, permitindo que trocassem breves olhares no expediente, conversassem mais próximos que o normal nas pequenas pausas que tinham ao longo do dia e passou a se demorar mais nos toques e carícias que oferecia. 

Era como se o moreno quisesse trazê-lo ainda mais para si, envolvê-lo naquele sentimento difuso e complexo que se embrenha no coração como a raíz de uma erva daninha. 

O loiro encarou a janela por longos e finitos segundos até perceber que sua parada era a próxima. Em um pulo se ergueu no ônibus e apertou o botão, se dirigindo até a porta de saída. 

Do ponto de ônibus já podia vislumbrar a delegacia, menos de duas quadras e já estaria lá. Aquele era um dos lados positivos de onde trabalha, não precisava se esforçar muito para chegar lá. 

A música em seus fones parou de tocar e o loiro franziu o cenho com isso, logo pegando o aparelho para verificar o que tinha acontecido, notando o nome de Koala brilhar na tela. 

Sabo não se demorou em atendê-la, afinal, não era comum que ela lhe ligasse tão cedo assim e podia ter acontecido algo com a mulher para lhe chamar naquele horário. 

— Alô? Sabo? Que bom que consegui te ligar a tempo — comentou a voz feminina atravessando o aparelho. 

— Aconteceu alguma coisa? Você está bem? — perguntou um tanto ansioso e receoso, mil e uma coisas passando em sua mente para aquele acontecimento inusitado. 

— Aconteceu. Eu ganhei dois ingressos para o planetário e adoraria que meu melhor amigo fosse comigo — respondeu a castanha, o tom de voz animado indicando que estava tudo bem e que o loiro poderia voltar a relaxar. 

— Ingressos para hoje? Que sortuda — comentou ao ouvir a mulher soltar um som afirmativo. — Claro, eu adoraria. 

— Ótimo. Nos encontramos na porta do planetário? 

— Pode ser... Não prefere que eu te busque na sua casa? Posso ver se meus pais emprestam o carro. 

— Nem pensar. Não quero que fique preocupado em não fazer as coisas porque vai dirigir. 

— Está insinuando que vamos beber, senhorita? — questionou, o timbre soando provocativo ao pronunciar o vocativo. 

— É óbvio. É sexta-feira. Ou o senhor certinho não bebe nas sextas? 

— Se não for em meu horário de trabalho, uma bebida ou outra não faz mal. 

— Que restrições severas — brincou a mulher entre risadas divertidas. — Até parece aqueles policiais que vão falar sobre o Proerd. 

— Vai rindo, Koala, mas não se esqueça que Proerd é o programa, Proerd é a solução, lutando contra as drogas, ensinando a dizer não. 

— Se a pessoa tem que dizer não para as drogas é porque ela já está alucinada. Onde já se viu falar com drogas? Se já está no nível em que elas estão lhe fazendo pergunta de sim ou não já está na hora de parar. 

ReamarOnde histórias criam vida. Descubra agora