capítulo 32

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No mais profundo silêncio, Sabo girou a chave na trinca e entrou em sua casa. Estava tarde da noite e pelo horário julgava que seus pais e seu irmão mais novo estivessem dormindo, por isso tentou ficar na surdina para não acordá-los. 

Aquela noite havia sido um pequeno desastre para si. Céus, como se deixara levar pelo momento e acabara por beijar Koala? Além de ter se lembrado das falas insinuantes e julgadoras de Lucci? 

Depois de todo o clima perdido só sobrou uma densa sensação de vergonha e culpa. Havia atiçado a mulher, a excitado para depois pular fora sem mais nem menos. O que ela pensaria de si? Será que tinha parecido um completo idiota em desistir de repente? 

Ele já deveria ter superado o Lucci, ao menos em seu coração já não nutria mais sentimentos amorosos por ele, mas suas garras haviam deixado marcas em sua alma e talvez elas fossem as mais difíceis de desaparecer e cicatrizar. Toda a insegurança que ele criara dentro de si parecia se revirar e se reavivar.

Queria não ter se recordado daqueles apontamentos sem sentido que Lucci fizera... Entretanto, após aquela noite, passava a duvidar se eram realmente sem sentido. 

Tinha sido precipitado demais? Aproveitado a primeira oportunidade para ficar com a mulher? Realmente era sua preferência? Lucci o deixava confuso e perdido até mesmo quando já não mais fazia parte de sua vida e aquilo era extremamente frustrante. Perceber o quanto ele ainda lhe influenciava era um estorvo. 

Havia de fato feito exatamente como ele dissera... Se jogado na chance que tinha em se deleitar em um corpo feminino e isso lhe fazia sentir uma culpa corrosiva que parecia destroçá-lo por dentro. 

Sabo encostou e fechou a porta, seguindo para o andar dos quartos e pensando no que faria a seguir. Deveria dormir ou tentar espairecer sua mente? Duvidava veementemente que conseguisse pregar os olhos naquela noite. 

Ao parar em frente ao seu quarto, respirou fundo e deu meia volta, decidido a pelo menos se livrar daquele peso dentro de si, colocar para fora o que sentia e para isso precisava conversar com alguém. Precisava conversar com Ace. 

Sabia que o mais velho estava acordado, podia ouvir o som baixo de vozes vindas de seu quarto, provavelmente de algum filme ou série que estava assistindo pelo celular. 

Sabo se direcionou para a porta do quarto do irmão e deu leves batidas, o som dos passos se iniciando assim que as vozes cessaram. 

— Só um minuto, vou colocar uma roupa. — Sabo não estranhou tal resposta, afinal, conhecia Ace e sua mania de dormir quase sem vestes, o que tinha ocasionado muitos momentos constrangedores no passado até que não mais entrassem no quarto um do outro sem bater primeiro. 

Sabo esperou pacientemente até que a porta se abrisse e entrou. Seus olhos vagueram pelo cômodo e ele encarou a figura extra sobre a cama, a cara sonolenta de quem havia acabado de acordar. 

— Foi mal, não sabia que estaria com visitas — comentou ao voltar seu olhar para o irmão sardento, vendo-o abanar a mão sem ligar muito para o fato. 

— De boa, a gente 'tava vendo um episódio aleatório 'pra dormir — pontuou Ace esfregando os olhos e bocejando. — Aconteceu algo hoje? Pensei que fosse ficar na Koala. 

— Episódio aleatório é um novo código para "estávamos transando antes de você aparecer e estragar o clima"? — brincou para tentar dissipar a tensão que estava sobre seus ombros. — Eu ia, mas... Eu nem sei por onde começar. 

— Por que não começa do começo? Quem é Koala, afinal? — O segundo loiro do cômodo pronunciou e Sabo encostou a porta antes de puxar a cadeira da escrivaninha para se sentar. 

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